A Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, acusou hoje a polícia de deter "ilegalmente" o delegado político e um deputado do movimento na Zambézia, centro do país, que transportavam cinco armas da guarda da organização.
Em conferência de imprensa convocada em Maputo para denunciar o caso, o chefe da delegação da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) nas negociações com o Governo, Saimone Macuiane, afirmou que a polícia deteve hoje na província de Nampula, norte do país, Abdul Issufo, delegado político do partido na província da Zambézia, e Fernando Matuassanga, deputado da bancada parlamentar do movimento pelo círculo eleitoral daquela província.
"Eles saiam da Zambézia para Nampula, no carro havia cinco armas da segurança do presidente Afonso Dhlakama. Como sabem, estamos em negociações e a casa principal de Afonso Dhlakama, antes de ele ir para Santungira, é exactamente em Nampula", afirmou Macuiane.
O chefe da delegação da Renamo nas negociações com o Governo afirmou que as armas encontradas na posse dos dois quadros do partido destinavam-se à guarda da residência do líder da Renamo na província de Nampula, tendo em conta a hipótese de Afonso Dhlakama sair do seu esconderijo algures na Gorongosa, província de Sofala, e regressar para essa casa, dada a iminente assinatura de um acordo para o fim da violência militar entre as Forças de Defesa e Segurança e os homens armados do movimento.
"Estas situações podem não ajudar para um processo negocial que está no ponto final e que está a ser conduzido com o objectivo de corresponder aos interesses superiores do povo, que têm a ver com a necessidade de uma paz duradoura", afirmou Saimone Macuiane.
Macuiane considerou ilegal a detenção dos dois membros do partido, assinalando que, ao abrigo do Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em 1992 entre o Governo moçambicano e a Renamo, para acabar com 16 anos de guerra civil, os altos dirigentes do movimento têm direito a segurança pessoal prestada por antigos guerrilheiros da organização.
Afonso Dhlakama encontra-se num lugar incerto, algures na Serra da Gorongosa, centro de Moçambique, desde que o seu acampamento em Santungira foi tomado pelo exército em 21 de Outubro do ano passado, na sequência de confrontos com as Forças de Defesa e Segurança, no quadro da actual crise política e militar no país.
O Governo e a Renamo anunciaram já ter alcançado consenso em relação ao documento base para o fim da violência militar, que tem assolado, principalmente, o centro do país, faltando apenas um acordo em relação às garantias de implementação do entendimento.
O líder da Renamo disse no fim de semana passado, numa entrevista por telefone, que ordenou a cessação dos ataques dos homens armados da Renamo às colunas de veículos na principal estrada do país, que justificou com a necessidade de cortar o abastecimento ao contingente militar que cerca a zona onde se encontra refugiado.
SAPO – 01.08.2014