Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Antes de estudarmos as relações internacionais entre os Estados é preciso compreender quem são os actores. Quem os financia, qual é o volume de negócios que são transaccionados? É preciso, acima de tudo, desmistificar pequenas partículas que a prior parecem invisíveis.” Extracto de uma conversa com Marco AntónioBaptista Martins, Professor da Universidadede Évora.
Na semana passada, na crónica que antecede a esta centelha, dei-vos conta da importância do pedido de uma mulher. Para mim, ainda não tive uma ideia rival, as mulheres têm estado a substituir a hierarquia do poder decisório, tornando-se, na actual conjuntura mundial, o segundo, depois do legislativo.
Aliás, tenho que concordar com a destilação do meu velho amigo belga quando afirma que o perfume preferido das mulheres é o poder.
Na semana passada, também a pedido de estudantes, aceitei falar dos problemas actuais do mundo à luz do Direito Internacional Público (DIP).
Quem carrega o espírito de docente, esta ingrata e árdua profissão que à semelhança da agricultura empobrece alegremente, sabe que apesar do óbice, não deve recusar um pedido de estudantes que são o futuro desta nação.
Levei ao debate seis (6) problemas do mundo, ciente de que, a par das dificuldades individuais e de cada país, não são os únicos no cardápio do inferno.
Este mundo está cada vez mais a ser empurrado ao abismo pela ganância dos seus habitantes, é o aproximar do Apocalipse. É curioso que não são “os mais velhos”, sobre quem muitas vezes se atribui o epiteto de antiquados, que estão a arrebentar com as costuras deste mundo, pelo contrário, somos nós: os ocupantes desta nau chamada globalização!
O primeiro problema é a falta de desenvolvimento sustentável.
Este problema, do ponto de vista ambiental, atinge as nossas florestas que estão a ser delapidadas ante a inércia das autoridades locais. Esta situação afecta directamente a “seiva da nação, as flores que nunca murcham” que são obrigadas a sentar-se em adobes, ou até mesmo no chão, porque a madeira é transportada nos contentores de navios para o estrangeiro.
Desligam a corrente eléctrica, os aparelhos “adormecem anestesiados” pela mente cobarde do corrupto, depois ouvem-se roncar camiões do contrabando.
Já não há o mínimo de pudor, tornando o mal uma didáctica de vida.
Torna-se evidente que a futuridade (preocupação com gerações futuras), o ambiente (protecção dos ecossistemas), equidade (preocupações com os pobres e os menos favorecidos), a cidadania (preocupações com a possibilidade de os indivíduos participarem nas decisões que os afectam) continuará a ser um autêntico fiasco não só para o país, mas também para o mundo que se “intoxica” com a poluição, o aquecimento global e falta de saneamento.
Serão precisas muitas mais conferências do que aquelas que já se realizaram para regular os apetites dos seres humanos em relação às políticas ambientais, económicas e sociais.
O segundo problema é o terrorismo. O terrorismo é ainda daqueles conceitos polissémicos e erráticos.
Polissémico porque o registo indelével da história mostra que os inimigos de ontem são os amigos de hoje.
E os amigos de hoje serão os inimigos de amanhã. Nas relações entre os Estados não existem amigos nem inimigos, o que conta são os interesses permanentes.
Quando o mel acaba na cabaça de um Estado, desfaz-se as relações de amizade entre as velhas amizades e instala-se uma situação de medição de forças. Em nome de uma vingança, em defesa da pátria ferida, regenera-se o conceito de terrorismo, daí a razão de também ser errático.
Concordo com a citação de Nuno Rogeiro quanto ao quadro conceptual do terrorismo, quando diz que “As leis nacionais, e a lei internacional, revelam-nos o que são os actos 'terroristas', mas não acordam sobre o que é 'terrorismo'. Conhecemos os frutos, mas não a árvore. Provavelmente teremos de voltar à História, para analisar as suas raízes ambíguas.”
Muitos movimentos de libertação, hoje no poleiro, foram antes considerados terroristas. Os paladinos que lutaram a vida inteira em defesa da independência dos povos, contra a opressão estrangeira, tinham adquirido uma nova identidade: terroristas.
O exemplo disso é que alguns líderes que estiveram na linha da frente no funeral de Nelson Mandela foram seus carcereiros. Só depois de 27 anos passados nas masmorras é que ganhou outro estatuto, o de herói.
Portanto, não são menos terroristas àqueles que, no gozo do poder, segregam povos, invadem, roubam, destroem e matam o tecido social de países em busca de pepitas de ouro, petróleo, gás, entre outras riquezas. Também não são menos terroristas os corrupto que sugam o sangue do seu povo, privando-o dos bens de primeira necessidade, tais como água, luz, saúde, justiça, educação.
O terrorismo não anda apenas nas montanhas de Afeganistão , nos bunkers do Iraque, nas grutas da Palestina, no deserto da Somália, nas cavernas do Irão, mas, mormente, nos grandes palácios mundiais, onde o poder está nas mãos de um arrogante (sanguinário) a quem, pela primeira vez deixo de perfilhar Cristo, endereço a seguinte mensagem: que Lúcifer lhe pague por tanto trabalho que lhe presta e seja muito infeliz.
Zicomo (obrigado).
WAMPHULAFAX – 22.09.2014