Canal de Opinião
O teu voto não deve custar uma camisete. Ou uma capulana, ou uma bandeira, ou um saco plástico ou alguns cadernos escolares com o logotipo deles. Do mesmo modo que a única coisa que muda na tua vida não pode continuar a ser apenas o nome da pessoa do partido deles em quem tens de votar desta vez.
Esses que ultimamente aparecem no lugar onde vives, trabalhas ou que frequentas, a oferecerem-te essas camisetes, bandeiras, sacos plásticos, cartazes ou cadernos escolares com imagens e logotipos deles não são e nem vivem como tu. Tu vais à escola, ao serviço ou aos teus biscatos para ganhar a vida todos os dias úteis. Incluindo nestes dias. Porque é que eles, repentinamente, deixaram de ir trabalhar e estão aí na tua zona? Se fores a reparar, a maior parte dos que estão em campanha a favor do partido no poder são as pessoas que mais beneficiaram da sua governação nestes anos todos. Nenhum deles passou as mesmas privações, tribulações e necessidades que ainda continuas a encarar diariamente. Eles subitamente apareceram e se misturaram contigo, pedindo o teu voto neles, porque estão a lutar pela continuidade dos benefícios, regalias e oportunidades que tiveram, têm e querem continuar a ter. Mais nada.
Então não te iludas pelas falas bonitas e demagogas sobre “megaprojectos, sete milhões e construções de infra-estruturas”. Já deves saber que eles é que são os maiores sócios ou beneficiários nesses negócios todos: as comissões, as acções, os lucros e os empregos vão sempre para eles mesmos, os seus familiares e camaradas próximos. Lembra-te das pessoas que foram transferidas à força dos seus locais de residência ou machambas de sustento alimentar, para que eles lá instalassem as suas empresas e fábricas. Não te esqueças daqueles que foram os únicos beneficiários dos “sete milhões” aí na tua zona, nem dos que vivem nesses condomínios de luxo que eles têm construído por onde passas. São precisamente estes os que hoje andam atrás de ti e dos teus, implorando novamente o vosso voto. Votar neles nunca meteu comida no teu estômago. Só te meteu em “My Love”. Votar neles plantou-te por horas e horas nas bichas de hospitais donde quase sempre saíste sem os medicamentos prescritos. Votar neles fez com que tu ou os teus filhos e irmãos estudassem hoje sem aprender nada, no ensino público. E eles circulam hoje nos seus carros e de vidros fechados, indiferentes às tuas crises de transporte nas paragens; fazem compras ou consultas no estrangeiro, formam-se ou mandam os seus filhos para escolas e universidades privadas.
Não podes continuar a votar em moçambicanos que se assumem como especiais e que se acham com direitos especiais, acima dos teus. (Edgar Barroso)
* Título da responsabilidade do “Canalmoz”.
CANALMOZ – 23.09.2014