A ligação rodoviária directa entre as províncias da Zambézia e Tete é uma verdadeira dança. Dança aos solavancos, devido às precárias condições da estrada na maioria do percurso e dança pela ginástica que se faz para mover o batelão com o qual se cruza o rio Chire.
É igualmente necessária muita paciência na condução, por não se poder fazer ultrapassagens durante o trajecto, já que nalguns pontos a rodovia é tão estreita que se torna impossível ensaiar aquele tipo de manobra.
UM LUGAR CHAMADO ZERO
A única parte boa do trajecto é o troço entre Quelimane e a saída da Estrada Nacional Número Um (EN1) para Morrumbala a partir do chamado Zero, numa extensão de cerca de 110 quilómetros. Segundo soubémos, chama-se Zero em virtude de a distância daquele ponto para o Rovuma ser igual à distância para Maputo.
Os 100 quilómetros do Zero ao rio Chire e os restantes 35 km da travessia à vila Nhamayambué, sede de Mutarara, em Tete, bem como os perto de 300 km dali até Moatize... são um verdadeiro martírio.
São centenas de quilómetros de estrada poeirenta, esburacada, estreita, sem sinalização, com "pontecas" que ameaçam ruir a qualquer momento.
A nossa Reportagem, que há dias cruzou a zona em direcção ao posto administrativo de Sinjal, 85 km de Nhamayambué, para cobrir as obras da reparação da torre 436 da linha centro-norte de transporte de energia eléctrica de Songo a Nampula, testemunhou o drama que é usar aquelas estradas, situação agravada pelas dificuldades de comunicação telefónica em alguns pontos, o que retarda a chegada de socorro em caso de avaria de viaturas, até mesmo um simples furo no pneu.
O carro no qual o “Notícias” se fazia transportar recorreu ao sobressalente em Sinjal, mas teve que parar na sede do posto administrativo de Doa devido a um furo noutro pneu, algo que, provavelmente, foi precipitado pelas trepidações da estrada, cujo piso é pejado de pedregulhos.
Quis o destino que a roda furasse nas imediações de sede de Doa à luz do dia. Se tivesse sido num ponto distante, durante a noite, teria sido necessário recorrer ao empréstimo, pois só ali há uma pequena estação de serviços para remendar.
Mesmo naquele ponto o reparador teve que ser “resgatado” algures na zona, pois não se encontrava no local de trabalho.
O BATELÃO A REMOS
Um dos pontos mais excitantes da ligação entre aquelas duas províncias é a travessia do rio Chire, em Pinda.
Fora da perícia que se exige no embarque, uma vez que a rampa não evita que os carros toquem na água do rio, o batelão é movido por um fio de aço, através de uma manivela.
Dois operadores encarregam-se pela operação que leva de uma margem a outra até seis carros, dependendo do tamanho, pessoas e demais bens.
A caravana na qual a nossa Reportagem viajou foi quase a última pouco depois das 18 horas do dia 17 de Setembro. O batelão só operou até àquela hora em resposta ao nosso pedido.
Abubacar Babú, director da Divisão de Transporte Centro-Norte ao nível da EDM, que alcançou o ponto antes das outras duas viaturas, teve que apelar aos homens para não encerrarem a travessia até que todos nos juntássemos. O pedido foi aceite.
A operação foi desgastante e, àquela hora, a fadiga dos operadores era notória. Foi necessário mobilizar mais gente para tornar a operação num sucesso, levando o batelão a cruzar o rio para o lado de Mutarara, na província de Tete.
NOTÍCIAS – 24.09.2014