Pela sua importância destaco este comentário ao minuto:
Factualmente Histórico
Embora tenha dito que este documentário contém muitas falhas, ele possui igualmente importantes revelações, como nos diz o Sr. Fernando Gil. Aqui faço um resumo das minhas observações, desejando realçar as revelações de Ganhão sobre o estado de espírito do Presidente Machel nos últimos meses da sua vida, a versão de Graça Machel sobre dissidências internas, o que parece indicar uma repetição do sucedido em Portugal em que as tropas estavam saturadas da guerra. Todo o discurso de Machel é assente na guerra, como se pode depreender. Fez mal as contas, como admitiria Graça Machel.
Acrescentar ainda que Graça Machel seguiu de Argel para a Tanzânia em 1974 e que aderiu à Frelimo enquanto estudava em Portugal, tal com muitos outros. Da mesma forma que este documentário contém erros, certamente involuntários, há outros que cometem erros e que teimam, perante os factos, em apontá-los como verdades enlatadas.
06:00 sobre a tradição de resistência de Machel ao colonialismo, exemplificado na Guerra entre Portugal e o Império de Gaza. Na realidade, tratava-se de uma guerra entre duas forças colonizadoras.
13:00 sobre a fundação da Frelimo. Ganhão desvaloriza Gwambe na formação da Frelimo, atribuindo a Mondlane esse papel. O narrador fala de apoios do bloco comunista à Frelimo na fase da fundação, o que é errado. Chipande valoriza erradamente a MANU, UNAMI e só depois a UDENAMO quando este movimento foi o mais importante. Marcelino fala dos objectivos da FRELIMO, mas põe de lado a instauração de um regime democrático em Moçambique, princípio esse que vem a ser posto de lado por altura da independência.
1540: Aqui Graça Machel faz uma importante revelação: Samora Machel, ao abandonar Moçambique em 4 de Março de 1963, desejava prosseguir os estudos para se tornar médico. A formação de quadros para um Moçambique havia sido a tónica dominante da mensagem transmitida por Mondlane a inúmeros moçambicanos quando visitou Moçambique em 1961. Mondlane não pensava em lutas armadas na altura da sua visita. Este aspecto serve para confirmar que é errada a premissa de que Mondlane não desejava a elevação intelectual dos moçambicanos como tem sido propalado por pseudo-intelectuais.
1820: O treino dos guerrilheiros da Frelimo não foi dado por Machel, mas por instrutores argelinos na Argélia.
20:00 a população não pressionou o governo em Lisboa para abdicar das colónias durante os primeiros anos da guerra de libertação.
21:50 Muito inteligentes a posição de Matias Mboa em não querer falar sobre a forma como Machel tornou-se presidente da Frelimo após a morte de Mondlane em 1969. Cabe a Marcelino explicar: ele e eu fomos eleitos, o que é falso pois não se realizou nenhum Congresso que era o órgão a quem cabia essa função.
24:00 As imagens sobre a Operação Nó Górdio não correspondem na maioria às acções desenroladas no terreno. As cabeças humanas que aparecem nas imagens são as mesmas que constam do livro, «Angola, os dias de desespero» de Horácio Caio, publicado em 1961. As imagens são da autoria do fotógrafo Augusto Cabrita.
36:00 Marcelino refere-se à «arma sofisticada» da Frelimo, mas não menciona que havia uma condição: eram todos moçambicanos desde que comungassem os ideais da Frelimo. O mesmo em relação às religiões, como o próprio Machel refere aos 44:08.
38:00 a crise dos abastecimentos pretende ser atribuída a colonos, quando na realidade foi corolário da política económica do governo da Frelimo.
40: 00 Ganhão diz que a ideia dos campos de reeducação eram para pessoas que «fizeram erros e cometeram crimes», mas as imagens referem-se aos presos políticos exibidos em Nachingwea durante os julgamentos de 1975.
43:00 Luís Cabral do PAIGC é apresentado como Paulo Gumane. Joana Simeão não desapareceu em 1977, como se lê no documentário. Foi presa pelo MFA e pela Frelimo na Beira em 1974.
51:00 Como enganado estava Machel quanto à política externa que pretendia seguir a nível regional.
56:00 Só em 1984, quase 10 anos depois de ter destruído as bases sociais e económicas de Moçambique é que Machel compreendeu que para explorar os enormes recursos precisa de quadros. Falta de visão dele e dos que o aconselhavam.
1:01:20 Graça Machel fala de que alguém telefonou à Renamo para não assinar o acordo com a Frelimo em 1984. Na realidade, como afirma Dhlakama, era a Frelimo que não estava preparada para assiná-lo.
01:04:30 Machel revela que o sistema está corroído por dentro. Mais uma importante revelação, idêntica à que Graça depois identifica.