SÃO Tomé e Príncipe (STP) vota amanhã em eleições legislativas marcadas pelo regresso do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, e a divisão dos partidos que, na oposição, se uniram em 2012 para derrubar o seu Governo, e o mundo espera que sejam um virar de página da cíclica instabilidade política, gerando um novo clima de relação entre as principais forças e actores políticos.
Cerca de 93 mil eleitores, de um total de 180.000 habitantes, devem escolher entre representantes de 12 partidos os deputados que ocuparão os 55 lugares na Assembleia Nacional, após a deposição, em 2012, do Governo de Patrice Trovoada, eleito dois anos antes.
Nesse ano, os três partidos da oposição na Assembleia Nacional uniram-se para aprovar a moção de censura que faria cair o Governo de Patrice Trovoada (Acção Democrática Independente, ADI), tendo depois o Presidente da República, Manuel Pinto da Costa, indicado Gabriel Costa, proposto pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social-democrata (MLSTP-PSD), o segundo partido mais votado, para liderar um novo Executivo.
Agora, os três partidos que suportam o Governo concorrem cada um por si. O MLSPT-PSD tem como cabeça-de-lista Osvaldo Vaz, o Partido da Convergência Democrática (PCD) candidata António Dias e o Movimento Democrático Força da Mudança-Partido Liberal (MDFM-PL) avança com o antigo Presidente da República Fradique de Menezes.
Já o ainda primeiro-ministro, Gabriel Costa, concorre pela União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD), um partido extra-parlamentar.
País independente desde 1975, São Tomé e Príncipe teve durante 16 anos um regime socialista de partido único (MLSPT), com Pinto da Costa como presidente da República e Miguel Trovoada como primeiro chefe do Governo, mas este cargo seria depois extinto entre 1979 e 1988.
Em 1991, o sistema abriu-se ao multipartidarismo, mas as crises políticas são constantes - em 23 anos, o país conheceu 20 Governos, com 18 primeiros-ministros diferentes -, com moções de censura ou os chefes de Estado a provocar quedas de Governos, ultrapassadas quer por nomeações de novos executivos ou pela convocação de eleições antecipadas. Em 1995 e 2003, houve também golpes de Estado.
Nesta campanha eleitoral, Patrice Trovoada já apontou como principal adversário alguém que está fora da corrida eleitoral: o chefe de Estado Manuel Pinto da Costa.
Segundo os próprios partidos, as forças medem-se entre a ADI e as outras três formações políticas, que integram a coligação que está no Governo.
Todos pedem a maioria absoluta para evitar a instabilidade política que tem marcado o país nos últimos anos.
O “BANHO”
Além das legislativas, os santomenses votam amanhã também, em eleições autárquicas e regional.
A campanha para estas eleições terminou ontem, com muita agitação na capital, para onde confluíram os comícios finais dos principais partidos.
Até quinta-feira, as formações políticas optaram por andar pelos distritos e só ontem se centraram na capital, onde, segundo a Lusa, nem se dava pela campanha, os cartazes praticamente não existiam e apenas apareciam de vez em quando as carrinhas apetrechadas com as gigantescas colunas de música e com militantes a agitar bandeiras.
O período de campanha foi aproveitado por muitos para conseguirem ganhar dinheiro, desde a população em geral, que beneficia da compra de votos, o chamado “banho” até aos jornalistas, operadores de câmara ou artistas, que são pagos a peso de ouro para participarem na campanha.
Fonte da Televisão de São Tomé e Príncipe (TVS) disse à LUSA que a estação “está desfalcada” nesta altura porque jornalistas e operadores de câmara meteram férias para participarem na campanha, ganhando em 15 dias o equivalente a cerca de dez anos de salário.
Também os artistas nacionais aproveitam esta altura para elevar o “cachet” e têm actuações garantidas quase todos os dias.
“PAÍS ADIADO”
Os partidos políticos que têm mais dinheiro para a campanha contratam até artistas internacionais.
Um país com olhos postos na exploração de petróleo, sempre adiada, São Tomé e Príncipe mantém uma grande dependência de financiamento externo. O turismo, a agricultura, a pesca e a prestação de serviços têm sido apontados como fontes de rendimento para melhorar a situação económica e social da nação.
O bispo de São Tomé e Príncipe, Manuel António, considerou esta semana que o povo são-tomense é uma “espécie de país adiado”, sempre à espera de qualquer coisa, de “um messianismo” que vá resolver os seus problemas.
Em entrevista à Agência Lusa, o bispo disse que o que mais se sente na população são-tomense “é a dificuldade de criar razões para acreditar no futuro” e “como é típico (…), está-se sempre à espera de uma espécie de messianismo, que apareça qualquer coisa que vá resolver os problemas”.
“Começou por ser a independência, depois veio a democracia, depois foi o petróleo que nunca mais chegou e ainda hoje nós vemos que as promessas dos políticos vão muito nessa linha, prometem 'agora connosco é que vai ser', 'fazemos de São Tomé se for preciso o novo Dubai'.
Segundo o bispo, sente-se no povo "a desilusão, um certo cansaço, um certo desânimo, uma certa falta de esperança", sobretudo na juventude, e São Tomé e Príncipe "continua a ser um país onde há dificuldade de criar ideais, acreditar no futuro, dar opções de vida" às pessoas.
São Tomé e Príncipe confronta-se com outro problema, a nível de segurança: situa-se no Golfo da Guiné, região cada vez mais atingida por ataques de pirataria marítima, que tem alarmado os líderes regionais e já motivou pedidos de ajudas internacionais.
NOTÍCIAS – 11.10.2014