Estão disponíveis os resultados de mais duas províncias. E nós fizemos algumas análises.
Observação: Em Niassa, 18.932 pessoas votaram para as presidenciais e não o fizeram para a Assembleia da República. A diferença é de 6,6%. Em Cabo Delgado, por contraste, a diferença é de apenas 0,8%. Em 2009 foram registados vários casos de enchimento de urnas em Niassa, e ontem, nós publicamos casos de reivindicações de mudança resultados em dois distritos do Niassa.
Temos os resultados de 104 dos 150 distritos, disponíveis em http://www.cip.org.mz/election2013/
Niassa
Presidente
Participação 46.95%
Total de votantes 288,831
Votos em branco 22,992 7.9%
Votos nulos 16,141 5.5%
Votos validos 249,698
Afonso Dhlkama 111,114 44.50%
Filipe Nyusi 120,818 48.38%
Daviz Simango 17,776 7.12%
Assembleia da República
Total de Votantes 269,899
Votos em branco 25,604 9.6%
Votos nulos 19,604 7.2%
Votos validos 224,691
MDM 18, 105 8.06%
Renamo 91,743 40.83%
Frelimo 113,496 50.51%
Outros 1,347 0.60%
Assembleia Provincial
Total de votantes 275,484
Votos em branco 23,643 8.6%
Votos nulos 12,086 4.4%
Votos validos 239,963
MDM 22,774 9.49%
Renamo 100,152 41.74%
Frelimo 116,823 48.68%
Outros 208 0.09%
Cabo Delgado
Presidente
Participação 49.53%
Total de Votantes 477,463
Votos em branco 44,211 9.26%
Votos nulos 17,098 3.58%
Votos validos 416,154
Afonso Dhlakama 75,568 18.16%
Filipe Nyusi 324,857 78.06%
Daviz Simango 15,729 3.78%
Assembleia da República
Total de votantes 473,567 49.12%
Votos em branco 55,117 11.64%
Votos nulos 17,870 3.77%
Votos validos 400,580
MDM 19,175 4.79%
Renamo 69,167 17.27%
Frelimo 310,608 77.54%
2 outros 1,680 0.42%
Perdidos 19.000 eleitores em Niassa; 44 mil votos em branco em Cabo Delgado
Uma curiosidade sobre o voto em Niassa é que 18.932 eleitores (6,55% do total) votaram para as presidenciais, mas não o fizeram para a Assembleia da República. Esta é uma percentagem invulgarmente alta, e pode ser uma indicação de enchimento de urnas, ou de adição de votos para as presidenciais e não para a Assembleia da República. É uma diferença muito grande, e se todos estes votos foram para Nyusi, foram determinantes para que o candidato da Frelimo, conseguisse a maioria na província de Niassa.
O resultado de Cabo Delgado mostra um algo inédito, 44.211 votos nas presidenciais foram em branco, ou seja, 9,26% dos eleitores não marcou o seu boletim de voto. Embora não tenhamos ainda os resultados para todos os distritos, identificamos três distritos com percentagens altas: Chiúre com notáveis 20,4% de boletins em branco, Ancuabe 11,5% e Balama 13,8%. A existência de um pequeno número de votos em branco é normal, estes advêm principalmente de pessoas que não pretendem fazer uma escolha entre os candidatos ou que analfabetas. E se um dos partidos mobilizou um grande número de pessoas a votar, mas estes não sabiam como o fazer, podem ter simplesmente colocado o papel em branco na caixa. Mas quando este número é muito elevado, como em Cabo Delgado, pode ser um sinal de protesto - talvez de pessoas da Frelimo que não quiseram votar em Nyusi.
Os editais de Niassa e Cabo Delgado são oficiais, estão assinados pelas comissões de eleições, e possuem inúmeros erros aritméticos. Por exemplo, para as presidenciais em Niassa, o número total de votos válidos é 249.708, mas no edital da CPE consta 249.698. Nas presidenciais em Cabo Delgado a CPE diz que a percentagem de votos em branco é de 4,59%, porque foi calculada como percentagem dos eleitores recenseados, e não dos eleitores que foram as urnas, que daria uma percentagem muito mais elevada e assinalável de 9,26%.
EUA criticam as eleições e o apuramento dos resultados
A embaixada dos Estados Unidos, emitiu uma forte crítica ao processo eleitoral. Voltou a realçar as "preocupações importantes relativas a um acesso desigual à imprensa, abuso de recursos do Estado, materiais e registos de eleitores em falta ou deficientes, e abertura tardia das mesas de voto. Verificaram-se ainda falhas na administração técnica das eleições, particularmente na acreditação atempada de observadores nacionais e agentes dos partidos.”
"Anotamos algumas irregularidades surgidas na reconciliação dos resultados das mesas de voto com as contagens distritais”.
E numa mensagem claramente dirigida à Frelimo e à Renamo, afirmou que “os Estados Unidos apelam a todas as partes interessadas para que abordem quaisquer questões surgidas através dos mecanismos disponíveis na lei eleitoral e às autoridades relevantes para que investiguem e respondam a todas as reclamações eleitorais, e simultaneamente trabalhem no sentido de expandir o espaço político e fomentar os direitos civis.”
In Boletim sobre o processo político em Moçambique
Número EN 69 - 22 de Outubro de 2014