Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
O parto pode ser complicado
Por vezes, no calor de uma campanha eleitoral de dimensão e consequências significativas e estruturantes, os concorrentes esquecem-se de que existem falhas e de que existem riscos que não se podem correr, se a vontade é garantir a vitória.
Estas eleições têm uma característica e importância que difere de todas as outras que houve no passado.
Moçambique está em face de uma oportunidade única e flagrante de desestruturar o poder que a Frelimo tem exercido desde a Independência Nacional.
Isto evidentemente que tem consequências quanto à forma e ao conteúdo das campanhas dos concorrentes.
A possibilidade um presidente oriundo da oposição existe. Ter uma Assembleia da República com uma composição mais equilibrada, em que não haja maiorias absolutas é mais do que provável.
Se “contra factos não há argumentos”, as forças reais no terreno querem contrariar vaticínios e “puxar a brasa para a sua sardinha”.
A julgar pelo bombardeamento mediático desigual que os potenciais eleitores sofrem, isso só é possível porque houve um nível de investimento financeiro e alianças. Se dizem que tempo na TV custa dinheiro, então alguns não pouparam. Ou terá sido oferta “induzida” de tempo de antena? Uma legião de artistas de “gabarito”, que parecem “mercenários”, numa corrida a mais “golpe de Estado”, algures numa ilha do oceano Índico, empresta cor e música à campanha de quem tem mais a perder.
Até alguns pesos-pesados interromperam férias e reformas para se envolverem na campanha eleitoral. O país vibra como nunca, e os moçambicanos esperam ansiosamente pelo já mítico dia 15 de Outubro.
Será a nossa Revolução de Outubro? Outubro tem a oportunidade de ser aquele mês que, por duas vezes, se revelou crucial para a História nacional. Na primeira, trouxe o AGP-Roma. Desta vez, pode trazer a DEMOCRACIA efectiva.
Os chulos e medíocres, os abutres e outras espécies, como lambebotas, escovistas, ANAListas e quejandos, vivem em alvoroço permanente, pois o seu ganha-pão está em risco.
Se uma das formas que a comunicação social pública adoptou espelha o grau de preocupação existente nas hostes do partido no poder, ao determinar política e administrativamente que os tempos de antena e de exposição dos candidatos fossem distorcidos, por outro lado é preciso que se diga que jornalistas concretos se venderam como mercadoria barata. Não houve coragem nem verticalidade por parte de muitos jornalistas ao enveredarem pelos caminhos escusos de ver e calar, de saber e não informar.
A democracia constrói-se com sacrifícios e não é algo que se ofereça como prenda de aniversário. Há gente que quer ficar nas páginas negras da História só porque esta é a oportunidade de garantir alguma satisfação material, financeira, algum cargo directivo ou uma nomeação para alguma Embaixada como adido de imprensa.
Também parece suspeito que “camaradas” desavindos há já décadas se mostrem à última hora vendendo “peixe tocado”.
Vai-se para o dia 15 de Outubro numa situação, convém que se diga, inclinada. Os recursos dos partidos e a sua proveniência não são democratizantes, na medida em que uns têm quase tudo e outros quase nada tem.
Dirão uns que cada um joga com o que tem, mas há limites para tudo.
Na sua política de penetração e conquista de espaço e acesso aos recursos naturais de África, a China deve ser olhada com suspeitas, pois a sua forma de ganhar influência junto a Governos passa por oferecer créditos aparentemente com facilidade, mas que sabemos serem de condições nefastas para a economia, política e ambiente do país receptor.
Aquilo que dizem, que a China não condiciona créditos com assuntos relacionados com democracia e direitos humanos, é uma face da moeda. A outra face é que a China está envolvida no financiamento de Governos totalitários, de regimes autocratas, de governantes dados ao nepotismo, corrupção e ao despotismo.
Se na China não é permitido cortar um bambu sequer, e condena-se à morte os governantes encontrados em situação de colisão com as regras e leis nacionais, condenando-os a penas severas que chegam a ser sentenças de morte, em países como Moçambique a corrupção passeia a sua classe e aparece como que algo a emular e exemplo a seguir na corrida pelo enriquecimento rápido.
A forma encontrada pelo Governo e pelo seu partido de suporte foi fechar os olhos a problemas reais, desde que estivesse garantida a sua permanência no poder. Isso pode parecer uma estratégia acertada, mas, a médio prazo, cria condições para o enraizamento de práticas lesivas dos interesses nacionais.
Somos o destino preferido do “dumping” da Ásia, numa situação em que as finanças públicas são fracas e geridas de forma precária. Somo alvo de aventureiros internacionais de todo o tipo, que vêm colher frutos apetitosos à custa das facilidades que os lobistas locais organizam. Somos vítimas de uma cultura de governação que não se preocupa em “empoderar” os seus cidadãos. Governar, para a elite local, é governar-se.
E como se sente que 15 de Outubro pode ser um “tsunami” que varra o lixo e a incompetência existente, até as chamadas antes “reservas morais e políticas nacionais” se unem à escória para “salvar o convento”.
O veredicto final caberá aos moçambicanos. Num processo contínuo de crescimento e de maturação, uma combinação geracional está resolvida a mudar a imagem e a essência do país.
A ver vamos, mas fique claro que uma mudança pacífica tem de ser uma vitória demolidora, fiscalizada e controlada, sem hipótese de alteração dos números de votos.
Tem de ficar claro, desde os primeiros anúncios dos resultados intermédios, que a força dos moçambicanos venceu.
E, nesse sentido, será vitória de todos, pois todos serão libertos da promiscuidade corrosiva actual. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 13.10.2014