Reflexão de: Adelino Buque
Com que Governo o líder da Renamo pretende negociar? Do vencedor das eleições de 2014! Ou de Armando Emílio Guebuza? Se antes, significa “pontapear” os seus lugares na Assembleia da República. Será isso ou haverá algum equívoco! Porque não espera a tomada de posse do Governo eleito para isso? Estas e outras perguntas a fazer ao líder da Renamo…
Negar resultados eleitorais, alegando existência de graves irregularidades, constitui o gene do partido Renamo e seu líder, Afonso Dhlakama, desde que este processo iniciou, em 1994, quando concorre pela primeira vez tendo como adversário do lado da Frelimo Joaquim Alberto Chissano.
Recorde-se que, nessa altura, Afonso Dhlakama declarou, em Roma, Itália que a Renamo controlava 80% do território e suas gentes, infelizmente não sei por que carga de água, essas pessoas preteriram Afonso Dhlakama e Renamo a favor da Frelimo e Joaquim Alberto Chissano. Na altura e reagindo aos resultados de votação disse que “fui roubado votos” sem poder provar nada!
Nas eleições seguintes, 1999, Afonso Dhlakama conseguiu uma boa votação e a Renamo também. Contudo, não o suficiente para ganhar as eleições. Existe um dado que é preciso recordar aqui: o partido Frelimo, provavel mente, no espírito de reconciliação nacional, neste período prescindia, digo quase, das organizações de massas como a OJM, OMM, Continuadores, organizações estas que constituem, sem dúvida, a força motriz do partido. Provavelmente, a ideia era entregar estas organizações à sociedade, como um todo.
Os partidos políticos emergentes não se reviam nas ODMs criadas pelo Partido Frelimo. Na verdade, as únicas organizações que foram acolhidas pela sociedade como sua pertença é a OTM-Organização dos Trabalhadores de Moçambique. Esta sim, resistiu ao tempo e a sociedade trabalhadora acolheu e assumiu como sua.
A outra organização que sobreviveu ao tempo foi a dos camponeses. Na verdade, se estamos recordados, a Frelimo assumiu-se como partido de operários e camponeses, essa também se manteve tendo como seu expoente máximo a UGC- União Geral das Cooperativas, a ONP que viria a transformar-se em Sindicato, bem assim a organização dos jornalistas, ainda bem que assim foi.
Mas voltando às eleições gerais e a negação dos resultados por parte da Renamo e seu líder, em 2004: a Frelimo muda do “player” no lugar de Joaquim Chissano concorre Armando Emílio Guebuza, aqui, Afonso Dhlakama abriu garrafas de champanhe antecipadas, alegadamente, porque o seu adversário era um ilustre desconhecido da sociedade moçambicana, por isso, a vitória estava facilitada.
Armando Guebuza responde a isso com trabalho nas bases do partido, através da revitalização das células e a definição de tarefas, retomando a velha máxima da Frelimo de colocar a “política no posto de comando”, os secretários sentiram-se estimulados pela primeira vez no pós-multipartidário e o resultado não poderia ser outro: uma vitória expressiva e convincente de Armando Guebuza e do partido Frelimo. O espaço de contestação é mínimo, fala-se de enchimento de urnas mas a tese não é sustentada e cai sozinha.
A maior humilhação eleitoral da Renamo e do seu líder acontece em 2009, com uma substancial redução de assentos na Assembleia da República, para quase metade, Afonso Dhlakama decide sair para Nampula e ensaia ordenar a não tomada de posse dos seus membros na Assembleia da República, estes respondem com um NÃO e, tomam posse. Ensaia discursos incendiários contra o poder instituído, ameaça queimar o país e tudo isso não mereceu atenção de ninguém. O governo continuou a sua missão e os investimentos entram em catadupa. O crescimento económico e social é uma realidade. Perante tudo isso, a Renamo e seu líder optam pelo “exílio” nas matas de Sofala, com homens armados à mistura. O resto o estimado leitor sabe, até que no dia 5 de Setembro de 2014, assina-se o fim das hostilidades entre o Chefe do Estado Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
A abordagem de Dhlakama do dia 5 de Setembro esteve virada à nova lei eleitoral que obriga a presença de partidos políticos na CNE e no STAE, como sendo a que permitira a Moçambique eleições livres justas e transparentes de todos os tempos. O líder da Renamo ainda vivia a euforia da recepção que os moçambicanos lhe reservaram por todo o lado por onde passou, desde a sua saída da “parte incerta” onde se encontrava há mais de um ano. Este calor humano que lhe foi reservado foi confundido como sendo a sua aceitação como líder do país, como futuro Presidente de Moçambique, constituindo-se num grande equívoco, quer do Afonso Dhlakama, quer de analistas que assim pensaram!
Nestas eleições, Afonso Dhlakama inicia a sua campanha eleitoral duas semanas depois do período consagrado para o efeito pela lei, isto por opção própria. Ninguém lhe proibiu de fazer a campanha antes. Mesmo depois de a iniciar, só existia campanha onde o líder estava. Girando em torno do candidato, provavelmente, devido às enchentes nos comícios, preferiram deixar tudo a cargo do líder, salvo a esforçada Ivone Soares, que trabalhou em Nampula e venceu parcialmente, o que significa que o trabalho compensa. Mais nenhum membro da Renamo deu nas vistas. Devo ressalvar o António Muchanga, na província de Maputo, mas são casos raros mesmo, o resultado não poderia ser outro, uma copiosa derrota.
Na sequência do anúncio de resultados parciais, alguns órgãos de comunicação social avançam que Afonso Dhlakama pretende negociar um GUN com duração de dois anos. Ora, para tanto, não precisávamos de realizar eleições gerais com todo o custo que tem e expectativas que gera. Aliás, verdade seja dita: Afonso Dhlakama ainda não apareceu a dizer que irá negociar um GUN e porquê esse GUN e para que finalidade. Os órgãos eleitorais, onde se encontram em paridade entre os membros dos partidos com assento parlamentar, equivale dizer Frelimo, Renamo e MDM, ainda não divulgaram os resultados definitivos, devendo se aguardar com serenidade e responsabilidade.
PS: Eventualmente, esta reflexão (entregue ao editor do jornal Correio da manhã na manhã da passada quinta-feira, 23 de Out.), chega a si, estimado leitor, com informação definitiva e novos desenvolvimentos sobre o processo eleitoral. Se assim for, considere a leitura “ultrapassada”. Caso contrário, pense comigo, se estavam os representantes de partidos políticos em números iguais, de que “fantochada” estão falando?!
CORREIO DA MANHÃ – 27.10.201