Por Mphumo Kraveirinya |Perfis políticos para Além do Mainstream (1/2)
Em primeira nota gostaríamos que se entendesse por mainstream, o percurso perfilado de seguidismo cego de multidões esperançadas por legítimas mudanças socioeconómicas ou de mais visibilidade regional, nos destinos da nação. Esse desejo popular é depositado na imagem de alguém como salvador da pátria. Muitos líderes políticos que assumam uma postura de intervenção mais agressiva, tornam-se mais visíveis, muitas vezes, por surgirem como machos-alfa nos seus protagonismos políticos de demonstração de força e liderança.
Esta expressão mainstream ou mainstreaming terá a ver com o simbolismo do rebanho que corre disparado a caminho do abismo, por mais que seja alertado, em vão, para a queda iminente no precipício.
Em sociologia da cultura, o termo ou conceito em causa, serve também para tipificar a manipulação política das grandes massas populares, mercê de técnicas audiovisuais de propaganda, gráficas, e personalizadas, induzindo a uma ‘cegueira’ pontual, devido ao seguidismo, atrás referido.
É daí que, surgirão arrependimentos e frustrações posteriores, ao verem defraudadas as esperanças iniciais, após a tomada do Poder por vias eleitorais ou outras não muito claras. Surgem assim os saltitantes partidários.
O austríaco germanófilo nazi, Adolf Hitler (1889- 1945?), após o colapso da República de Weimar na Alemanha (1919-1933), candidata-se a eleições livres e conquista o poder legalmente. Daí se infere que o maior inimigo de uma democracia é a própria democracia que não crie defesas, ‘vacinas,’ que a imunizem contra situações destas em que inimigos da democracia se apoderam dela, e a primeira coisa que fazem, ao ascender ao poder político, é eliminar essa democracia que os legitimou.
E nesse processo, instalam uma ditadura dura e crua, pior que a anterior mais disfarçada, graças ao apoio financeiro do grande capital externo, e de outros financiamentos a negociatas em forma de parcerias público-privadas, que nem o diabo deve saber a origem por trás desses investimentos. ‘Temos a terra, sejam bem-vindos! Tragam o dinheiro!’ Bem poderá se passar assim. Só mudando o estilo.
Ora, em Moçambique, no campo político em fervura permanente, isso torna-se mais óbvio. Sentimentos crispados de ressentimentos sociais, vários, tornam as pessoas vulneráveis e mobilizáveis a pressupostos de vendettas (vinganças) instigados por políticos frustrados e ressentidos ao longo do tempo, retirando do contexto real os antes, os ‘agoras’ e os porquês de tal situação, avançando para um pseudo regionalismo como solução para a partilha das riquezas naturais a soldo de outros. O ‘agorismo’ frenético e exasperado pela obtenção de alguma riqueza material rápida, no sentimento imediato, faz muitas pessoas, votarem, muitas vezes, sem a menor ponderação dos prós e contras de tal escolha. Outros, lutando por acesso a cargos de chefia.
A emoção tolda o pensamento lúcido. Embriaga pelas soluções de milagres que falsos profetas prometem. No fundo é somente uma questão de obtenção de Poder pelo Poder e de pagar os empréstimos monetários, avançados por forças estranhas ao povo, que dizem querer servir. É como sair da boca do lobo para a boca do leão.
O dicionário Michaelis define o substantivo mainstream como sendo corrente em voga, tendência actual. Istoé, o seguidismo das ‘amatendências’ mobiliza e ostraciza,marginaliza, discrimina, os que pretendem se afastar dessacorrente generalizada ou fluxo principal, que circula numasociedade desgastada pela obsessão do dinheiro pelo dinheiro.
Sociedade dos poderosos sem ética, sem vergonha na manipulação e desprezo pelos mais fracos, e pela cidadã e cidadão, honestos e trabalhadores, impotentes contra esse mainstream destruidor de auto-estimas e vontades criativas e inovadoras, que beneficiem a sociedade. O descontentamento torna-se generalizado e instala-se.
Porém, a esperança de mudança para melhor, ainda que ténue, surge com as eleições, neste caso de Moçambique – eleições para a Presidência da República. Não há outro caminho! (Mphumo Kraveirinya) [Continua na próxima edição]
O AUTARCA – 01.10.2014