Reagindo ao anúncio dos resultados feito pelos órgãos eleitorais, que dão vantagens ao partido Frelimo e ao seu candidato Filipe Nyusi, o mandatário da Renamo, André Magibire, disse que o seu partido não aceita nem reconhece os resultados, que considerou “fraudulentos e invertidos a favor dos perdedores, a Frelimo e Filipe Nyusi”. Declarou que vai impugnar junto dos órgãos competentes, antes de avançar com outras medidas que vão “ajudar a repor a justiça”.
“Não aceitamos nem reconhecemos estes resultados, que transformaram os derrotados em vencedores, e os vencedores em perdedores. As eleições foram fraudulentas durante todo o processo”, disse Andre Magibire.
Segundo o seu mandatário, a Renamo não vai descansar enquanto não vir a justiça reposta. André Magibire acrescentou que a Renamo fica à espera do resultado do recurso submetido à CNE, e de outros que serão levados ao Conselho Constitucional.
“Estas eleições foram claramente ganhas pela Renamo e o seu candidato, para além de que publicamente as pessoas viram e ouviram todas as irregularidades durante todo o processo”, disse Magibire, em declarações a jornalistas, momentos depois do anúncio dos resultados.
Renamo diz que não vai deixar concretizar-se “o que a Frelimo deseja”
Um outro quadro da Renamo, neste caso o assessor político de Dhlakama para a região sul, Rahil Khan, também disse que o seu partido não reconhece nem aceita os resultados, afirmando que, por isso, “a Renamo não vai deixar acontecer o que é desejo da Frelimo”.
Rahil Khan disse que a Renamo não vai “deixar isso assim”, porque, segundo as suas palavras, “ninguém aceita deixar o que é seu com o ladrão que entrou na sua casa para roubar”. “Nós, a Renamo, não estamos preocupados com estes resultados, que sabemos que não correspondem à verdade. Estamos tranquilos e, a partir de hoje, também vamos começar a festejar, porque sabemos que a vitória nos pertence”, afirmou Rahil Khan, acrescentando: “Escrevam, e tenham a certeza que isso não vai ficar assim”.
“Ainda bem que o povo começa a entender que estes resultados não correspondem à verdade. Esta tarde mesmo, ficámos a saber que os serviços de transportes e outros estão paralisados e as pessoas estão a andar a pé, a comentar o que está a acontecer”, afirmou Rahil Khan ao “Canalmoz”, tendo concluído que “a revolução chegou”.
“O processo não foi pacífico nem transparente” - Fernando Mazanga
Quem também disse aos jornalistas que o processo não foi transparente nem pacífico, foi o vogal da Comissão Nacional de Eleições, Fernando Mazanga.
Segundo Fernando Mazanga, sete dos 17 vogais votaram contra a aprovação dos resultados anunciados na quinta-feira pelo presidente da CNE, Abdul Carimo, e pelo director-geral do STAE, Felisberto Naife, por considerarem que o processo foi bastante viciado.
“O processo não foi pacífico, desde o transporte de materiais, quer a nível nacional, como para o estrangeiro. Foi viciado de muitas irregularidades, que achamos que comprometeram ou influenciaram nos resultados”, disse Fernando Mazanga, acrescentando: “O relatório do trabalho feito pelos vogais da CNE nas províncias ainda não está concluído, o que devia ser levado em conta antes do anúncio deste resultados, dos quais eu e mais outros seis colegas vogais nos distanciamos”.
“Nós, num total de sete vogais, votámos contra estes resultados, fazendo declaração de voto vencido”, explicou o vogal.
Mazanga disse que, dentro das próximas 48 horas, o grupo de vogais que declarou voto vencido vai fazer uma declaração sobre a sua posição.
Fontes da própria CNE apontam o nome de Salomão Moyana como quem “traiu, ao vender a causa à Frelimo”, mesmo sabendo de todas as irregularidades do processo e das vantagens que cabiam à oposição. Consideram, por isso, que ele, Salomão Moyana, juntamente com o presidente da CNE, Abdul Carimo Sau, e o director-geral do STAE, Felisberto Naife, são “os três grandes vencedores destas eleições”.
O “general Salomão Moyana”, como, desde ontem, passou a ser apelidado nos corredores políticos nacionais, foi indicado para estar na CNE por confiança de Afonso Dhlakama. Mas veio a ser o único vogal indicado pela oposição e pela sociedade civil a votar a favor dos resultados anunciados, havendo por isso quem ironize que “finalmente, o general Moyana foi o único, até agora, que conseguiu derrotar o general Dhlakama”.
Durante o anúncio dos resultados, o presidente da CNE, Abdul Carimo, fez menção ao registo, durante o processo, do que chamou “aspectos sumários”. Reconheceu que “nem todo o processo foi positivo”, admitindo terem ocorrido irregularidades administrativas, ilícitos eleitorais, durante o processo, praticados por agentes e intervenientes.
Disse também que a CNE estava a anunciar os resultados das eleições antes que estejam concluídas as investigações que estão a ser realizadas pelos órgãos da CNE juntamente com as autoridades judiciais.
Outras irregularidades foram: a abertura tardia das mesas de votação; a divergência de dados dos editais e actas; e a circulação de boletins previamente preenchidos.
Abdul Carimo mentiu, quando disse que as urnas em todo o país abriram às 7 horas e fecharam às 18 horas e que a CNE não recebeu nenhuma reclamação. Omitiu que a Renamo submeteu uma reclamação que ainda não teve resposta da CNE.
Também mentiu ao afirmar que os observadores, jornalistas e os delegados dos partidos tiveram todos acesso aos editais a partir das mesas. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 31.10.2014