CINQUENTA e quatro pessoas foram mortas e outras 50 ficaram feridas com alguma gravidade por animais selvagens nas áreas de conservação turística da província de Tete no período compreendido entre finais do ano passado e primeiro semestre do presente, conforme deu a conhecer ao “Notícias” o director provincial do Turismo, Rafael Funzano.
Segundo disse, apesar dos esforços empreendidos pelas autoridades governamentais, em coordenação com os operadores do sector, nomeadamente de gestão do conflito Homem/fauna bravia, com vista a salvaguardar a vida humana e os seus bens, este tende a ganhar, nos últimos tempos, contornos alarmantes.
“O conflito Homem/fauna bravia continua um grande desafio para os gestores de recursos naturais na província, uma vez que o número das pessoas mortas e feridas por animais selvagens continua a aumentar, o mesmo que acontece com a destruição dos seus bens” – disse o director provincial do Turismo em Tete.
Os animais mais conflituosos, segundo o nosso interlocutor, são os crocodilos, hipopótamos e elefantes, que para além de atacar as pessoas também o fazem com os animais domésticos, com destaque para os cabritos, bois, cães e burros.
“Nos últimos três anos as nossas estatísticas indicam que os leões, hienas e crocodilos mataram mais de 300 caprinos, 24 bovinos, 14 burros e 20 caninos, situação que é bastante preocupante para nós e as comunidades” - disse Funzano.
Visando garantir a salvaguarda da vida humana e seus bens, os operadores e alguns fiscais comunitários, devidamente autorizados, abateram no primeiro trimestre do corrente ano alguns animais bravios considerados problemáticos, nomeadamente 25 crocodilos e cinco hipopótamos.
Entretanto, nos últimos três anos os dados fornecidos pela Direcção Provincial do Turismo revelam que foram abatidos 159 hipopótamos, 130 crocodilos e 64 elefantes que protagonizavam conflitos nos distritos de Changara, Cahora Bassa, Mágoè, Zumbo, Marávia, Chifunde e Chiúta, área reservada ao futuro Parque Nacional de Mágoè.
FALTA DE RECURSOS AFECTA FISCALIZAÇÃO
A falta de recursos humanos e materiais assim como a inexistência de infra-estruturas de gestão nas áreas de conservação, entre outro material de fiscalização, constituem os maiores constrangimentos para a execução normal dos trabalhos de assistência adequada às áreas de conservação, situação que dá lugar aos desmandos protagonizados por alguns operadores desonestos que praticam a caça furtiva.
“Não temos pessoal, uniforme, rádios de comunicação, transporte, armas e respectivas munições para o processo de fiscalização nas áreas de conservação e a andarmos assim nada podemos fazer para a preservação dos nossos recursos naturais, sobretudo faunísticos” - lamentou Rafael Funzano.
Assim, no âmbito do programa de fiscalização e combate à caça furtiva nos oito distritos da província de Tete onde funciona o Programa de Maneio Comunitário de Recursos Naturais denominado Tchuma Tchatu, mais concretamente Mágoè, Zumbo, Marávia, Macanga, Chifunde, Chiúta, Cahora Bassa e Changara foram efectuadas, durante o primeiro semestre deste ano, 76 patrulhas e neutralizados sete caçadores furtivos.
No concernente ao envolvimento das comunidades no desenvolvimento das zonas habitacionais contempladas pelo Programa Tchuma Tchatu, a nossa fonte disse que há resultados significativos resultantes da aplicação dos fundos canalizados às comunidades locais provenientes da exploração dos recursos naturais.
Durante o quinquénio 2010/2014 foram canalizados às comunidades locais nove milhões, cento e dez mil, quinhentos e cinquenta e um meticais, valor que foi aplicado para a implementação de diversos projectos, a destacar a construção de salas de aula, fontes de abastecimento de água potável, unidades sanitárias, viaturas para o transporte de produtos agrícolas, melhoramento das vias de acesso terciárias, entre outros projectos em benefício das comunidades.
BERNARDO CARLOS
NOTÍCIAS – 30.10.2014