Por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Quem disse “perder ou ganhar, tudo é desporto”, provavelmente perdeu. Martina Navratilova, ex-tenista da República Checa
Em alguns círculos de opinião tenho tido a fama de ser bastante acutilante nas análises, o que não faz de mim antipatriótico. O patriotismo não se faz vestindo os símbolos da República, nem insuflando palavras que o regime do dia as quer ouvir. O patriotismo resume-se, em minha opinião, no exercício da cidadania, que envolve direitos e obrigações entre o Estado e os indivíduos. Não pode ser patriótico tão-somente aquele que veste a camisola com as cores nacionais e, ao mesmo tempo, apresente acções contrárias aos valores da República, transformando o sagrado em profano. Os vectores da moçambicanidade, entre outros pilares, são compostos pela auto-estima, cultura de paz, respeito e reconhecimento mútuo entre cidadãos. Portanto, não pode haver patriotismo sem unidade nacional e sem solidariedade social. Ainda bem que a história tem-me ilibado desses contágios e as estatísticas dos meus débitos estão aí para provar a minha razão.
Fui intimado a explicar a alegoria da frase aos meus companheiros de trincheira académica quando, em 2010 escrevi, que nem sempre uma equipa faz justiça aos valores que a definem. Dei exemplo de algumas equipas e selecções de futebol que ostentando nomes de animais robustos, perigosos, voláteis, indomáveis ou até mesmo satânicos (como bem os sabia caracterizar o falecido escritor Alberto Viegas), mas em campo não conseguem livrar-se da condição de “presas” dos seus adversários. Os dragões, os leões indomáveis, as super-águias, os diabos vermelhos, os tubarões azuis, os canarinhos, os samurais azuis, as palancas negras, as raposas do deserto, os tigres asiáticos, etc., muitas vezes não representam condignamente esses “apelidos”, daí que, em igualdade de critério, sugeri que a quem de direito mudasse o nome da nossa selecção de “Mambas” para “Nhazalumbos”, que é uma serpente de pequena porte e de menor perigosidade na selva animal.
A selecção nacional já nos habituou com resultados negativos. Em cada uma vitória, perde cinco vezes. Quando tenta sair na condição de “selecção de emergência”, vencendo algumas partidas amigáveis, perde nas qualificações das provas máximas do desporto internacional. O seu veneno não “mata”, não “imobiliza”, não tem acção nenhuma. É um tipo de veneno raro, que merece longo e aturado estudo nos laboratórios, pois só provoca efeitos no seu portador. Não gostaria de apontar culpados, porque o mal instalado é generalizado que atingiu a medula óssea. Há uma conjugação de esforços para destruir o que no passado nos orgulhou. E lá diz o ditado shona que “as abundâncias do passado não saciam a fome do presente”.
Na última quarta-feira (15), a selecção de todos nós perdeu diante dos “Tubarões Azuis” (como é conhecida a selecção cabo-verdiana), por uma bola sem resposta, em partida de qualificação para o CAN-2015 que terá lugar em Marrocos. Com esta derrota as aspirações de qualificação dos “Mambas” são reduzidas, o que não admiraria aos “fiscais e críticos do nosso futebol”. O que a selecção nacional precisa não é de condições, mas sim de reorganização. É tempo de parar de colocar o pé no acelerador, diminuir a ganância de quem faz dos “Mambas” uma vaca leiteira, expurgar das suas fileiras “candongueiros” que estão mais preocupados em engordar as contas bancárias à custa do desaire da nação, enfim, são precisos soros de coragem e de auto-estima para que saibam e aceitem que os combatentes de ontem lutaram pela pátria sem metais nas algibeiras. Do jeito que a selecção está organizada, desorganizadamente, não chega a lado algum. Mesmo que tragam o José Mourinho, “marechal do futebol”, com uma selecção “sem eira nem beira” como a nossa, seria despromovido ao escalão mais baixo do desporto nacional e cemitérios seriam poucos para enterrar as suas proezas conseguidas noutras atmosferas. Cabo Verde nunca teve tradição no futebol, porém, decidiu entrar nas competições internacionais depois de garantir uma boa preparação. Porque não nos organizamos? Para vencer. Já dizia Samora Machel que “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”. Será que este ensinamento também foi sepultado com as suas ossadas? A verdade é que no nosso país uma certa desorganização premeia os seus mentores. Desta forma de jogar e dirigir o futebol, estamos lixados e, provavelmente, também seremos linchados pela história. Quem avisa, amigo é!
Mudando de assunto, já são conhecidos os resultados provisórios das eleições do dia 15 do mês corrente, que dão vitória a Frelimo e o seu candidato Filipe Jacinto Nyusi. A história repete-se. Antevejo uma Frelimo mais confiante, pois “equipa que ganha não se mexe”, dando continuidade ao seu programa, em função do calor do presente. Não espero ouvir nem ver nos noticiários casos de implosão interna, como poderá acontecer em muitos partidos, porquanto, na Frelimo, a disciplina partidária é encarada com rigor. É bem verdade o ensinamento dos nossos 'madalas' (anciões) quando dizem que os grandes partidos agem como macacos, divergem na comida (refeições) e convergem na hecatombe. Diante de uma adversidade, a vitória do trabalho em grupo está sempre garantida, pois a união faz a força da mudança. Portanto, serão mais cinco anos de continuidade, com enfoque para a construção de infra-estruturas e formação de quadros.
Quanto à Renamo, esta aumentará o número de deputados, tanto na Assembleia da República (AR) como nas Assembleias Províncias (APs). O seu presidente continuará a ostentar o título de “líder da oposição”. É chegado altura de lançar outro pupilo, mais jovem, para garantir melhores resultados nos próximos pleitos eleitorais.
Em relação ao MDM, que também aumentará o número de deputados na AR e nas APs, pode iniciar uma guerra de sucessão ao trono. Daviz Simango não é, politicamente, fervoroso, manhoso e contundente. Em política, a religiosidade não conta. Para seu agravo, está cercado de algumas pessoas gananciosas e de características voláteis (mudam de acompanhante em função da conjuntura económica e financeira) que lhe vão chupando o sangue. Poderá ser declarado um político moribundo à semelhança do que aconteceu com colossos como António Palange, Wehia Ripua, Raul Domingos, Yaqub Sibind, entre outros que jazem nas brumas do tempo. É verdade que “As pessoas não ficam amarradas às outras para sempre”, contudo, os acólitos de Simango são o que vemos: interesseiros e convencidos.
Zicomo (obrigado)
WAMPHULA FAX – 21.10.2014