Reflexão de: Adelino Buque
Afonso Macacho Marceta Dhlakama é um homem de palavra, por isso, obrigado, Dhlakama, por saber honrar a sua palavra!
Aminha reflexão esta semana é dedicada ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e pretende analisar as suas acções pós-5 de Setembro, altura em que assinou o acordo de cessação das hostilidades militares com o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, em reconhecimento das instituições e do poder instituído. Esse acto simbólico teve uma repercussão enorme na sociedade nacional. Pretendo reflectir sobre o compromisso por si assumido e a campanha eleitoral que fez, até à proclamação dos resultados eleitorais pela Comissão Nacional de Eleições.
A percepção com que fico, com todos os acontecimentos do pós-5 de Setembro, é de que, de facto, Afonso Marceta Macacho Dhlakama é um líder, líder de homens que o obedecem, no que respeita ao comando da guerrilha. O que observámos no pós-5 de Setembro não se difere do que aconteceu no pós-Acordo Geral de Paz (AGP) de Roma, Itália, assinado com o Presidente Joaquim Chissano. Prometeu e cumpriu. Tivemos vinte anos de paz efectiva que permitiu a Moçambique e ao mundo investir e criar as infra-estruturas de que hoje nos orgulhamos.
Este facto remete-nos a olhar para Afonso Dhlakama de outra forma, com outras lentes e despido de qualquer complexo. Naturalmente, sem deixar de lado que lidera uma organização política que pretende conquistar o poder, por isso na hora de trabalhar para esse objectivo é um vale tudo.
Não escreveria esta reflexão em plena campanha eleitoral, mas Afonso Dhlakama é o mesmo, essa é outra abordagem. Hoje, como disse, pretendo olhar para Dhlakama noutro ângulo e, devo dizer com muita honestidade, Afonso Macacho Marceta Dhlakama é homem de palavra, por isso, obrigado, Dhlakama, por saber honrar a sua palavra!
Muitos membros da Renamo são o que são graças à forma de ser e de estar de Afonso Dhlakama. Os lugares conseguidos na Assembleia da República, na minha opinião, não reflectem o esforço dos membros da Renamo como um todo, mas sim o carisma de Afonso Dhlakama perante as populações moçambicanas. Pessoalmente não sei se seria capaz de acompanhar o líder da Renamo, se fosse membro desse partido. De uma coisa tenho certeza: jamais iria viver nas matas de Gorongosa ou noutras desta Pérola do Índico, para reivindicar seja o que for, trocando a minha vida hoje, que é de longe comparada com o conforto de Afonso Dhlakama.
Escrevi, durante a campanha eleitoral, que muitas pessoas estão curiosas em conhecer, ver e tocar Afonso Dhlakama, esse homem que deixou o conforto de Maputo para viver na cabana de Sadjundjira. Mantenho essa percepção. Contudo, é preciso reconhecer que, para quem não tem uma ligação partidária assumida, essa vontade de ver e conhecer pode resultar em admiração e, por conseguinte, votar nele e no seu partido, quer para que deixe as matas e regresse à cidade e a vida retorne à normalidade, quer porque se convence que se trata de um líder sem interesses materiais de fundo.
Hoje, fora do período reservado à campanha eleitoral, deixo nesta reflexão a minha admiração sincera por Afonso Dhlakama. Sosseguem-se, membros da Renamo, não sou vosso concorrente, por isso leiam esta reflexão despidos da ideia de que Adelino Buque pretende concorrer connosco às simpatias de Afonso Dhlakama. Hoje a pessoa de quem se pretende ganhar simpatia é Filipe Jacinto Nyusi, vencedor das eleições de 15 de Outubro ainda por proclamar, por isso, esta reflexão é de alguém sem paixão, mas de olhar crítico e realista.
Existe um dado interessante na história das eleições de 15 de Outubro de 2014: é que, pela primeira vez, a Renamo conseguiu votos significativos em Gaza. Esse dado deveu-se à forma como Afonso Dhlakama olhou para as populações de Gaza, diferente de outras campanhas. Nesta até changana balbuciou, e isso fez diferença. Se se desse mais tempo naquelas paragens, certamente que outros resultados teria obtido. Mas já diz o velho ditado chope: “não persiga a galinha com sal na mão”. Nas próximas eleições dê algum tempo ao Sul de Moçambique, senhor Afonso Dhlakama.
Espero que a Assembleia da República, de forma extemporânea ou não, aprove o estatuto de líder da oposição e que Afonso Dhlakama goze de facto desse estatuto, porque merece isso. Não existe favor nenhum na acção parlamentar. Estão a “dar a César o que é de César”. Afonso Dhlakama merecia este estatuto desde 1992, não somente por ficar no segundo lugar mas, porque cumpriu a sua palavra de não retornar às matas. Cessou com os disparos de facto. Convenhamos, não é todo o dirigente de guerrilha que é obedecido como o é Afonso Dhlakama.
Nesta reflexão, devo deixar claro que não concordo com a ideia de Afonso Dhlakama de constituir-se um governo de gestão, tão pouco de unidade nacional, porque para isso precisávamos de realizar eleições. Neste particular, é preciso respeitar a vontade popular que elegeu Filipe Nyusi para Presidente da República e reduziu os lugares da Frelimo na Assembleia da República.
Talvez seja altura de Afonso Dhlakama passar mais tempo na cidade e fazer o seu papel de oposição a actos governativos pouco conseguidos. Nessa perspectiva, ajudar no crescimento da democracia nacional. Na minha opinião, o estatuto de líder da oposição assenta a Afonso Dhlakama como uma luva e, convenhamos, Afonso Dhlakama é um homem honrado e o caminho é para frente!
PS: Dedico este artigo de opinião a Afonso Dhlakama, na expectativa de que se assuma, de facto e de direito, como líder da oposição moçambicana. Use todos os espaços que o cargo lhe confere e, sobretudo, não deixe pessoas não eleitas falarem em nome da oposição. Faça bom uso desse direito, senhor Afonso Macacho Marceta Dhlakama!
CORREIO DA MANHÃ – 24.11.2014