"... as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas..." 2Cor 5:17
Tendo tomado conhecimento através da página do "Bula Bula" da semana passada, duma suposta reclamação da devolução duma parcela de terra, apresentada às Autoridades Moçambicanas por uma tal senhora portuguesa de seu nome Maria Paula Neves do Prado de Lacerda, alegando que em 1897, (pasmem, passam 117 anos!), tinha sido dum seu bisavó português dono dum Prazo no Carungo, Distrito de Inhassunge na Província da Zambézia, (entre parêntesis, para quem não sabe ou não se lembra, um PRAZO era uma espécie de Enfiteuse se quisermos, pela qual o senhor de um prédio, no caso, de um pedaço de terra, através duma Convenção transferia a outrem o domínio útil do mesmo), simplesmente fiquei terrificado!
É que, além de ser um verdadeiro absurdo essa reivindicação, tendo em conta o facto de que, no nosso Pais, a terra pertence ao Estado, o qual a dá a quem a trabalha, considero a mesma um verdadeiro insulto a nossa soberania e até uma provocação. Para que fique claro de uma vez por todas e para o benefício dos mais jovens, (Moçambicanos e Portugueses), bem assim como para o esclarecimento dos saudosistas e dos confusos, seja-me permitido trazer de cabeça, aquilo que fui obrigado a aprender a partir dos meus dez anos de idade e durante toda a minha adolescência. Ensinaram-me, (e eu aprendi e ficou gravado e arquivado no meu subconsciente), que Portugal é um pequeno pedaço de terra, que ocupa uma área total de cerca de 92 090 km², (portanto, nove vezes mais pequeno que Moçambique, (801 590 km²).
No passado Portugal fazia parte do Condado de Leão e Castela, hoje Reino da Espanha lá no extremo ocidental da Europa, na Península Ibérica, do qual (Condado), ficou Independente através do Tratado de Zamora um diploma resultante da conferência de paz entre D. Afonso Henriquese seu primo, Afonso VII de Leão e Castela.Celebrado a 5 de Outubrode 1143,esta é considerada como a data da independência de Portugal. Donde, nenhum Português ou Espanhol no gozo do seu juízo pleno pode reivindicar o que quer que seja do antigo Condado que unia os dois Povos (Espanha e Portugal há 971 anos!) Sobre o nosso Pais, Localizado na costa Oriental, (para ser mais exacto, no Sudeste), da África, fazendo fronteira, a Norte com a Tanzânia, a Oeste, com o Zimbabué, Zâmbia e Malawi, a Sul, com a África do Sul e a Suazilândia, e a Este com o Oceano Índico e tendo como localização cósmica, os paralelos 10° e 27′ e 26° e 52′ de latitude Sul, e entre os meridianos 30° 12′ e 42° 51′ de longitude Este, portanto, a mais de dez horas de vôo de avião de Lisboa, capital dos portugueses, para Maputo, capital dos Moçambicanos.
Consequentemente, dois Países que são dois Povos bem distintos e bem distantes. A presença do navegador português Vaco da Gama entre 6 de Janeiro e 2 de Março de 1498, a frente duma expedição que navegou da Europa para as Índias, contornando o continente africano, e passando pelo nosso Pais, veio semear um veneno no quadro das relações humanas entre portugueses e moçambicanos. Durante aproximadamente quinhentos anos os portuguese, se julgavam donos de Moçambique, levando tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Mas, os desacatos terminaram com o acordo de Lusaka assinado a 7 de Setembro de 1974 e consolidado com a Constituição preparado na Praia do Tofu, materializado com a independência a 25 de Junho de 1975. Donde, à senhora Maria Paula Neves do Prado de Lacerda, e seus apaniguados resta-lhes virar as costas a este Pais e regressar para Santa Comba Dão onde se encontra enterrado o seu bisavô Salazar, para se aconselhar melhor! Boa viagem!
Kandiyane Wa Matuva Kandiya
[email protected]
JORNAL DOMINGO – 30.11.2014
NOTA:
“…e passando pelo nosso País…” "veio semear um veneno no quadro das relações humanas entre portugueses e moçambicanos"
Não sabia que em 1498 já existia um local, uma região ou país chamado Moçambique e até moçambicanos . Sempre a aprender.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE