Desde os inícios do século XX que os países produtores de petróleo ou gás auferiam 50% do valor das vendas.
A regra do fifty-fifty alterou-se nos anos 60, por iniciativa da Argélia. Qual a regra em Moçambique? Querem alguns que o processamento do gás se faça no mar e não em terra. Quem beneficiará disso? Eles ou nós?
Sem qualquer dúvida o nosso país progrediu nestes quase 40 anos de independência e isto em todos os campos. Apenas o fanatismo partidário, a ignorância crassa e indesculpável o podem negar. Lendo sobre a quantidade de estudantes universitários constato que o número supera o dos alunos das escolas primárias oficiais em 1974. Verifique-se quantos postos sanitários e hospitais existem e quantos havia em 1974? Quantas estradas e pontes se fizeram? Quantas casas de alvenaria se constroem no país e quem as possui? A extensão das redes eléctricas para as vilas e povoações? O número de viaturas propriedade de moçambicanos. Quantas negras conduziam ou compravam carros do Rovuma ao Maputo em 1974? Vinte, trinta, certamente menos de uma centena. Hoje?
Há sempre que olhar para ver o percurso percorrido e avaliar as tarefas para a frente. Sabemos e repetimos que a VITÓRIA ORGANIZA-SE. Muito justo, porém há vezes e, porque não o dizer, em que a incúria, o desleixo, a ignorância a ganância preparam derrotas e calamidades. Pensar mais no livro de cheques do que na organização que garante o interesse nacional promove catástrofes.
Andando pelas nossas estradas que ligam o país aos vizinhos, constatamos numerosos locais onde ao longo da rota se vendem sacos de carvão vegetal. Por que razão aqui se vende esse combustível e não o encontramos em nenhum dos países limítrofes? Da janela de um avião vindo de fora do país, pela noite, vemos queimadas, sabemos então que já sobrevoamos Moçambique. Como aplicamos o princípio de um leader uma floresta? Nos vizinhos punem-se os dirigentes locais tradicionais ou não, quando ocorrem queimadas ou se abatem árvores para fazer carvão. Aqui prima a irresponsabilidade e a norma não declarada do desenrasque do coitadinho.
Os exportadores de madeira não fazem parte dos coitadinhos. Interrogamo-nos sobre as diferenças entre a venda para fora de tábuas ou toros e o preço do produto acabado? Que mais-valias se perdem em cada embarque? Quando nos inícios dos anos 80 inauguramos o INFLOMA em Manica, a fábrica tudo aproveitava, das raízes à casca e serradura, ela transformava cada toro em madeira para a construção, caixilharia, portas, janelas, móveis. Porque não obrigar os exportadores a apenas exportarem materiais acabados e a tudo aproveitar? Protegeríamos assim as nossas florestas e ganhos nacionais.
Desde os inícios do século XX que os países produtores de petróleo ou gás auferiam 50% do valor das vendas. A regra do fifty-fifty alterou-se nos anos 60, por iniciativa da Argélia. Qual a regra em Moçambique? Querem alguns que o processamento do gás se faça no mar e não em terra. Quem beneficiará disso? Eles ou nós?
Os cartéis dos produtos minerais, carvão, ferro, cobre sempre concertaram entre si os preços dessas matérias-primas. Não nos deixemos embalar pelos preços, os minerais estão há boas centenas de milhões de anos e, para os explorar em nosso proveito e não apenas das transnacionais. Podemos esperar mais 10 anos que nos garantirão capacidade própria de avaliar o que se faz e como se faz.
Por outro lado devemo-nos interrogar se interesse mais a Moçambique vender os carvões de queima e siderúrgico, ou se nos beneficiará e muito mais levar o de queima para centrais térmicas aqui e cá transformar o siderúrgico em coque. Lembram-se quando os suazis venderam todo o carvão e ficaram apenas com o benefício dos buracos! Devemos vender ferro ou aço? Com o ferro e o coque faz-se o aço ao gosto do cliente. Porque temos energia com bom preço, a MOZAL importa a alumina e vende alumínio. Ganhamos nós e eles, trata-se de um bom exemplo de valores acrescentados mútuos.
Há pouco tempo Mestre Forjaz, arquitecto de referência para Moçambique e para o mundo, denunciou como crime organizado a destruição dos mangais. Vejo em Maputo construir-se nos pântanos da Costa do Sol. Pode-se até construir no meio do mar, mas que fundações se fazem, como irão os moradores lidar com mosquitos e demais bicharia que por lá pululam? Para que servem as valas de drenagem, que custam bom dinheiro, quando constatamos que estão atulhadas de terra e por lá até crescem plantas? Vejam isso na antiga Dona Alice, não há vereador ou ilustre deputado municipal que por lá passe e fique acometido de cegueira?
Constato em várias cidades e vilas construírem-se prédios onde havia uma moradia. Óptimo, progresso de verdade? Onde habitava uma família vão habitar cinquenta num prédio. Os esgotos, as redes de água e energia estão preparadas para comportarem esse acréscimo? Por mais que nos prédios que se erguem existam estacionamentos subterrâneos e similares, quanto tempo para lá chegar ou daí sair? O aumento da circulação não irá criar engarrafamentos enormes?
Todos os dias tomamos nota de mortos e feridos em acidentes de viação e naufrágios. Fala-se de condutores de chapas e My Love sem cartas profissionais. Pretensos marinheiros a fazerem travessias. Já fazemos parte dos países em que os acidentes matam mais gente anualmente do que a guerra colonial.
O capitão do Costa Concordia está preso e o do navio sul-coreano, Sewol que naufragou, acaba de se ver condenado a 36 anos de cadeia. Não se discutiu que estavam a ganhar a vida ou a desenrascar. Cadeia e bem firme! Até quando pactuaremos com a mortandade?
Cruzamos viaturas superlotadas, com pneus gastos, sem luzes, sem pisca-pisca funcional, com maus travões e seguros irrisórios. Barcos sem salva-vidas e coletes. Condutores embriagados, sobretudo nos fins-de- semana que destroem, matam, ferem.
Devemos punir sem dúvida os condutores e marinheiros.
Ficarão impunes os proprietários? Porque não sancionar penalmente os proprietários e inclusive confiscar a favor do Estado e das vítimas as viaturas? Porque não exigir seguros de cinco ou mais milhões por cada passageiro desses transportes semi-públicos?
Porque não proibir que viaturas importadas com muitos anos de uso e que se utilizam no transporte semi-público? Valerá tão pouco a vida de um compatriota para que se protejam proprietários da infâmia? Uma pessoa sensata não pode investir em viaturas com condições, quando se fecha os olhos à pouca vergonha! Porque não retirara carta por cinco ou mais anos a quem provocou mortos e feridos por estar alcoolizado?
Vendem-se alimentos vários e até cozinhados ao longo das ruas. A saúde inspecciona restaurantes, casas de frescos, talhos, peixarias. Porque tolera então o que protege a saúde do pobre? Necessitaremos de epidemias de cólera, ébola e outras para se por cobro ao desmando?
Claro que quando a doença mata o rico há medidas, vejam como o Primeiro Mundo se afligiu com o ébola, vacas loucas, gripe aviária!
Volto ao imperativo de se organizar a vitória e prevenir as calamidades. Não há que tolerar o desenrascar quando estão em jogo as vidas dos homens e mulheres e das crianças de Moçambique.
Faleceu em Luanda o camarada Mbinda, veterano do MPLA, combatente da primeira hora, nosso amigo de sempre, honra e glória aos seus feitos e exemplos, em Angola sim, mas aqui também e em toda a parte.
Abraço a organização que garante a vitória dos moçambicanos,
Sérgio Vieira
P.S. Existe o direito à opinião que devemos sempre defender. Concordo com Churchill quando afirmava bater-se para que se exprimissem os que dele discordavam. A calúnia, o insulto e a difamação não se inserem em nenhum direito à opinião e, os Códigos Penais as sancionam.
Dizem que anda para aí um G40, caracterizado pela mesquinhez, o anonimato e o transformarem a língua e as mãos que escrevem em papel higiénico. Parece que fazem de mim um alvo cobiçado, talvez por se sentirem grandes quando cospem para cima, mas a gravidade faz o cuspo cair nas caras desses pobres diabos. Eles nada aprenderam com Newton! No estertor da agonia final tenta o tal G40, desesperadamente, mostrar-se, a ver se lhe dão uma mãozinha para o futuro. Perderam!
Abraço o direito à opinião e espezinho a calúnia,
SV
O PAÍS – 27.11.2014