A província que acolheu o meu cordão umbilical e arquiva amenamente os “mizimus” (espíritos) dos meus ancestrais, Tete, é como referiu o meu saudoso amigo David Aloni, uma terra de mistérios. As suas palavras sobre os monumentos, a gesta, as lendas, as paisagens, enfim, as gentes, são como uma Bíblia que conquistou a intemporalidade.
Na minha condição de pigmeu – porquanto antes de mim as maternidades já presenciaram partos de outros rebentos –, confesso, qualquer acréscimo sobre a descrição de Tete, seria experimentar um acto de suicídio.
De facto, em todos os estádios da nossa história, o destino de Moçambique passou por aqui. Por isso, arrisco-me a dizer, que Tete é um panteão de história e de gente castiça, que luta todos os dias para edificar o nosso Moçambique melhor. Há 19 anos quando parti numa peregrinação pelo mundo, Tete confundia-se com um “Muro das Lamentações”, lá onde os homens não se reconhecem ser filhos do mesmo Deus, guerreiam-se por causas ideológicas, talvez seja por isso que nessa altura, Tete era palco de uma sangrenta guerra civil.
Ouvia-se, entre os populares, a escoada de lava que enchia os seus corações de lágrimas devido a problemática de água potável, a falta de corrente eléctrica, a exiguidade de escolas, postos de saúde, emprego. Os campos de cultivo estavam plantados de armadilhas mortais (minas); as estradas causavam problemas de junta (articulação de ossos) para os automobilistas, os cemitérios eram poucos para sepultar as vítimas da fome, da malária, da tuberculose, da lepra, da varíola, da cólera, etc. Esta ementa de desgraças adiava o sorriso de um povo sonhador.
Recent Comments