A ANTIGA primeira-dama da Costa do Marfim, Simone Gbagbo, começou ontem a ser julgada em Abidjan por “pôr em risco a segurança do Estado”, numa altura em que o seu marido, Laurent, está detido pelo Tribunal Penal Internacional.
Simone Gbagbo, de 65 anos, é julgada juntamente com 82 dignitários do antigo regime, no mais importante processo da Costa do Marfim no período posterior ao da mortífera crise eleitoral de 2010-2011, que terminou com a detenção do casal Gbagbo.
Mais de três mil pessoas foram mortas entre Dezembro de 2010 e Abril de 2011, em confrontos que resultaram da recusa de Laurent Gbagbo em reconhecer a vitória do seu adversário Alassane Ouattara, desde então no poder.
A antiga primeira-dama é também reclamada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que a acusa de “crimes contra a humanidade” cometidos durante aqueles confrontos, tal como o seu marido, que aguarda julgamento em Haia.
Abidjan recusa entregá-la ao TPI, considerando que a transferência fragilizaria a reconciliação nacional e que a justiça da Costa do Marfim pode garantir um julgamento justo.
O casal Gbagbo foi detido na cave da sua residência, a 11 de Abril de 2011, pelos ex-rebeldes apoiantes do Presidente Ouattara, que contaram com a ajuda da França.
Simone Gbagbo, que está detida em Odienné (noroeste), foi acusada também de “crimes de sangue”, “infracções económicas” e “genocídio”, mas este julgamento diz respeito apenas à primeira acusação referida.
Simone foi detida com o seu marido, que se recusava a abandonar o poder, depois de mais um ataque das forças da ONU e da França na Costa do Marfim contra a residência onde Gbagbo estava refugiado.
Este foi o desfecho de quatro meses de uma crise política, depois de Gbagbo se ter recusado a reconhecer o resultado das eleições de 28 de Novembro de 2010, que deram a vitória a Ouattara, que foi internacionalmente reconhecido como presidente-eleito.
“Não reconheço a vitória de Ouattara. Por que querem que eu assine isso”, questionava na altura Laurent Gbagbo, referindo-se a um pedido da França e das Nações Unidas para que assinasse um documento de rendição, renunciando ao poder e reconhecendo Alassane Ouattara como presidente da Costa do Marfim.
“Se eu reconhecesse a vitória de Ouattara, isso já se saberia. Acho absolutamente espantoso que a vida de um país dependa de um jogo de póquer de capitais estrangeiros”, afirmou Laurent Gbagbo, citado pela agência francesa AFP.
NOTÍCIAS – 27.12.2014