Em jeito de fecho
O CIP, Centro de Integridade Pública, brindou-nos, esta semana,com um interessante estudo sobre a problemática da energia eléctrica em Moçambique e os desafios que se colocam ao país, mormente nesta altura em que se anunciam projectos gigantescos na indústria extractiva.
Concorde-se ou não com as conclusões deste estudo, o certo é que nos fornece pistas importantes para uma reflexão que se impõe urgente, se não quisermos andar em contraciclo ao processo de desenvolvimento. O CIP alerta-nos para a o aumento da procura de energia eléctrica, nos próximos anos, em Moçambique e na África Austral, e à forma incógnita como o nosso país responde a este desafio, sabido que a HCB atingiu já o máximo da sua capacidade de produção, e desta capacidade a quota que cabe à EDM é escassa, por força de acordos comerciais rígidos entre a HCB e a ESKOM.
O CIP alerta-nos ainda para o facto de as tarifas de energia dos projectos alternativos de geração de energia, que têm sido anunciados, amiúde, nomeadamente as centrais térmicas de gás e de carvão, serem manifestamente caras e inacessíveis à EDM e, com toda naturalidade, poderem dar direito de preferência a clientes mais atractivos que a nossa empresa pública de electricidade, como as mineradoras, que não correm o risco de acumular dívidas, como faz a EDM face aos seus fornecedores (que o diga a HCB!).
O CIP lembra-nos que a EDM está a perder competitividade e robustez, por ter sido obrigada a manter tarifas desajustadas da realidade, para atender a objectivos políticos, situação que se traduz em custos de produção acima das receitas, uma cada vez mais indisfarçável incapacidade de fornecer energia eléctrica com qualidade ao país e sucessivos apagões. E, apesar disso, anualmente, fixam-lhe metas ambiciosas de novas ligações.
E, no entanto, tudo isto não é novo. O até há pouco presidente do Conselho de Administração da EDM, o Eng. Augusto Fernando de Sousa, andou mais de metade dos seus cerca de dois anos no cargo a tentar, em vão, passar esta mensagem, mas a sua inaptidão para lidar com os complicados meandros da política acabou por transformar em vítima um honesto e transparente profissional do sector.
No lugar de lhe darem ouvidos, os que mandam, mandaram o eng. Augusto Fernando Sousa às favas, como se o silenciando, resolvessem o problema.
Daqui a três semanas, estamos em 2015. Mpanda Nkuwa, prometida para 2017, cada vez menos se fala dela; a Central Norte ainda não saiu do papel.
E, do nada, o mesmo Governo que tem que tomar decisões relativamente a estes dois projectos autoriza, esta semana, duas concessões para as barragens de Chemba I e Chemba II para a produção e venda de energia eléctrica com potência nominal máxima de mil MW, nos dois empreendimentos, ao longo do mesmo rio Zambeze, que há muito espera por Mpanda Nkuwa e Central Norte.
O PAÍS – 11.12.2014
NOTA:
Não fôra a obstinada teimosia de Salazar e Caetano ainda hoje Moçambique estaria às escuras. Não nos esqueçamos que as ordens de Mondlane e Samora eram para impedir a construção ou destruir a barragem de Cahora Bassa. Mas essa é outra história… M’Panda Nkuwa e Central Norte já eram projectos de antes de 1975.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE