Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Os moçambicanos terão que decidir mais uma vez
Aos que se escudam e se protegem através de ladainhas como “incitação à violência”, os tempos próximos mostrarão de que lado está razão.
Propaganda em prol da manutenção do “status” não é incitação à violência.
Jurisprudência incompetente desprovida de ética e senso político não é incitação à violência.
Só a obediência cega aos omniscientes e todo-poderosos detentores do poder é que deve ser feito e cumprido.
Os últimos acontecimentos na esfera política em Moçambique mostram, sem sombras de dúvidas, que ainda se vive numa ditadura.
O chefe do executivo, e cumulativamente chefe do partido no poder, ordenou, e a CNE/STAE e o CC cumpriram. Está visto, e estamos falados quanto a isso.
Agora que o PR homologado pelo CC tomou posse ou “conta do poço” vai começar uma nova fase desconhecida na arena política moçambicana.
Uma das tendências que já vinha sendo executada será o reforço das posições militares do Governo. Um rearmamento em grande velocidade e pedidos de assistência técnica militar são de esperar. Defendendo que um novo executivo existe, todos os contactos que decorriam no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” poderão ser interrompidos ou retomados sob um formato diferente.
Uma coisa que parece clara é que os “dossiers” serão repartidos, e a preocupação principal do novo inquilino da Ponta Vermelha será consolidar seu poder no seio da Frelimo.
Aos moçambicanos, interessa saber se as alas predominantes na Frelimo darão espaço de manobra ao novo PR.
Adivinham-se vários tipos de batalha e cada uma com as suas especificidades.
Na esfera económica e financeira, muitos procurarão garantir acesso através da cultura potencial do culto ao novo chefe. O “entourage” natural do novo chefe tenderá a fechar as portas a “lobistas”, procurando gerar o tempo do chefe e limitar influências.
Muitos MC’s vão aparecer cantando louvores à procura de favores. Alguns já começaram, e a marcha ainda nem velocidade ganhou.
Na espinhosa tarefa de transmissão de poderes, o velho chefe não poupará esforços para assegurar que não se toque nos seus interesses económico-financeiros. O chefe da “república do deixa-andar”, por via directa ou indirecta, poderá tentar assegurar que os seus interesses económicos e financeiros desta vez não fiquem prejudicados. Às vezes, ser cunhado dá para alguma coisa.
Uma coisa é certa quanto à composição do Governo de FJN, é que o poder de veto da Comissão Política da Frelimo se fará sentir.
Este emaranhando de palavras é só um dos lados da moeda. São vaticínios como os que qualquer cidadão poderá fazer.
Agora, quanto ao baile real, este vai ter mais do que uma orquestra abrilhantando.
Não se pode governar Moçambique ignorando que existe a Renamo.
A Renamo é um partido político que ainda possui o que frequentemente se diz ser uma forca militar residual.
De modo repetido, o seu poder militar provou ser eficaz. As suas posições políticas e apoios internos não são de menosprezar.
Que fará o executivo de Maputo para lidar com uma Renamo que não aceita os resultados anunciados pela CNE e homologados pelo CC?
AEG conseguiu sair da Ponta Vermelha sem uma herança clara, mas também sem que o poder tenha passado para outro partido. Fez disso seu cavalo de batalha e, através de sua máquina estatal e partidária, pode considerar que teve êxito.
Mas, se quisermos ser realistas, teremos de afirmar que AEG deixa uma “batata muito quente” nas mãos de FJN.
Haverá sapiência e visão estratégica entre as partes agora no terreno para desencadear uma série de negociações directas que tragam um alívio aos moçambicanos?
O sentimento de muitos é que, mais cedo do que tarde, teremos o regresso das hostilidades, numa perspectiva que se vem confirmando pelos sucessivos desdobramentos de tropas e meios.
Não se vai assistir a um prolongamento de posições endurecidas, irredutíveis, que levarão a novos banhos de sangue por todo o país?
Há abutres no ar, e os falcões afiam as garras para o “tudo ou nada”.
Nenhum programa, por mais bem desenhado, que seja é, por si, garantia de sucesso.
Discursos como o proferido por FJN na sua tomada de posse podem incluir termos politicamente correctos que a oposição também utiliza, mas, como vimos, depois de quase quarenta anos a UNIDADE NACIONAL tem sido uma fantochada.
A salvação de Moçambique reside na capacidade que os seus políticos dos diferentes partidos tenham de dialogar com seriedade e sem subterfúgios.
Reforma política efectiva para uma “geração de libertadores” deve ser implementada sob pena de continuarmos a ter vários centros do poder e uma influência que mina os debates actuais.
A PAZ tem de acontecer e deve ser a preocupação primordial dos partidos políticos em presença no parlamento e dos extraparlamentares.
Sem “apóstolos da desgraça” nem “finta à Gaborone”, sem “teses de imperativos” falsos, com coerência, responsabilidade e sentido de Estado, pode-se construir um ambiente de confiança que desincentive a intolerância, a arrogância e a prepotência.
Moçambique espera que haja contenção e liderança, conducentes àquilo que interessa aos moçambicanos, e não a uma minoria de moçambicanos. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 19.01.2015