MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Judite, minha cara amiga
Como estás de saúde? E a tua família? Do meu lado está tudo bem, obrigado.
Só que cheio de preocupações. Preocupações com a situação no país e, também, no resto do mundo.
As minhas preocupações com o país tu já as conheces. Tenho escrito muito sobre elas, mas hoje vou falar de outras mais gerais.
Todos os dias somos horrorizados por notícias abomináveis: ou são os Boko Haram que assassinam milhares de pessoas, ou são os talibans que matam mais de cem crianças numa escola ou é o dito Estado Islâmico que publica imagens de gente a ser degolada, apedrejada até à morte ou atirada de edifícios altos para morrer esborrachada no chão. Todos os dias.
E vemos os dirigentes praticamente todos do mundo ocidental a fingir que desfilam, em Paris, contra o atentado ao Charlie Hebdo.
Só que se sabe que os tais talibans foram criados e armados pelo tal mundo ocidental para combaterem a presença da União Soviética no Afeganistão. O mesmo acontece com aqueles que criaram o tal Estado Islâmico, usado para desestabilizar o Iraque, a Síria e, se possível, o Irão, considerados, há anos, pelos Estados Unidos como o eixo do mal. E, simultaneamente, proteger Israel. Sobre os Boko Haram não falo porque não lhes conheço a origem, mas não me admirava se fosse parecida.
No caso dos taliban foi usado o pretexto da religião islâmica para combater o regime pró-soviético ateu. No Médio Oriente foram usadas as diferenças entre as várias interpretações do islamismo (sunitas e xiitas, principalmente) para causar a desunião e a guerra.
Agora, aparentemente, o mesmo método está a ser usado na Europa Ocidental, zona há muitos séculos de predominância religiosa cristã (católicos no sul e protestantes no norte) confrontada, actualmente, com a entrada de significativamente altos níveis de imigrantes africanos, a maioria dos quais islâmicos.
Ora o que poderia, e deveria, ser um processo de integração pacífico foi violentamente abalado com o atentado ao Charlie Hebdo. Em poucos dias milhões de pessoas saíram à rua e se, muitas delas, o fizeram como acto de solidariedade pura, muitas outras marcharam por agendas próprias, racistas e reaccionárias.
E aqui começam as dúvidas sobre quem assassinou os membros da Redacção do jornal. Curiosamente poucos dias depois do atentado o Chefe da Polícia que o investigava foi encontrado morto, no seu gabinete “suicidado” com a sua própria pistola de serviço.
Será que tu acreditas que uma pessoa na posição dele, com um caso famoso em mãos, se ia suicidar pouquíssimos dias depois? Eu não.
E há aquela questão de os terroristas, aparentemente calmos e bem treinados, terem deixado os documentos de identificação no carro. Achas isso normal? Eu não.
Poucos dias depois do atentado, o Parlamento francês aprovou novas verbas para a guerra no Iraque e para colocar tropas a combater o terrorismo espalhadas pelo território nacional. E isso começou imediatamente como se só estivessem à espera de um pretexto. Achas que é coincidência? Eu não.
Um filmezinho, gravado por um dos jornalistas, mostra que, além dos dois terroristas, havia no local outras pessoas com coletes à prova de bala que, aparentemente, estavam a comandar a operação. Gente de quem nunca se falou. Normal? Creio que não.
E são demasiados “nãos” para eu engolir a tese oficial sobre o atentado.
Quem o praticou e com que intenções não sei, neste momento.
Mas tenho receio de que as intenções tenham sido bem mais graves do que vingar o profeta Mohamed.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 20.01.2015