MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Joaquim
Tudo bem contigo? Comigo está tudo normal.
O que já não se pode dizer com alguns dos amigos do nosso país.
Se tens acompanhado o que se vai passando pelo mundo, já te apercebeste de que estamos a assistir a uma guerra, não declarada, entre os Estados Unidos e a Rússia. Guerra que se traduz em cada vez mais bases da NATO à volta da Rússia e nos incidentes criados com o golpe de estado neo-nazi na Ucrânia.
Mas, talvez, o aspecto mais visível desta guerra é o económico. Sendo a Rússia um país que depende, muito fortemente, dos recursos ligados ao petróleo e ao gás natural, a presente queda do preço desses produtos está a ter efeitos devastadores na economia do país de Putin.
Só para teres uma ideia, em Junho do ano passado um barril de petróleo vendia-se, no mercado internacional, por 115 dólares norte-americanos. Hoje, o mesmo barril vende-se por USD 45. E isso altera, totalmente, os orçamentos concebidos há poucos meses.
Isto foi possível porque os Estados Unidos começaram a usar, no seu território, novas tecnologias de extracção de petróleo, com graves riscos ecológicos mas com uma produtividade muito maior, que tornam o país quase auto-suficiente. E, por outro lado, controlam politicamente a Arábia Saudita, o maior produtor mundial, levando esse país a baixar os preços.
Com essas políticas os Estados Unidos estão a colocar a Rússia numa situação difícil, mas isso espalha-se para outros países. Um deles é a Venezuela, também rica em petróleo, o que, para Washington, até é um benefício.
Já o mesmo não se dirá de Angola, país que o Ocidente considera bem comportado.
Mas a verdade é que Angola já está a passar muito mal. Confiante nos petróleos, Angola não diversificou as suas exportações e hoje as coisas estão a ficar duras.
Neste momento o Governo angolano já não está a respeitar os seus compromissos de pagamentos internacionais. Ao nível do cidadão comum, os cartões de crédito dos bancos deixaram de ter os largos limites anteriores, o mesmo se passando com as transferências internacionais. O Banco Nacional de Angola está a restringir o fornecimento de divisas aos bancos comerciais e estes, é óbvio, restringem os seus clientes.
Mas porque é que eu te falo destas coisas hoje? Porque elas estão a acontecer em Angola num momento em que nós não estamos ainda presos ao dinheiro fácil dos hicrocarbonetos. Num momento em que ainda estamos a tempo de não cair na armadilha de Angola.
Esperemos que isto nos sirva de lição...
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 27.01.2015