A POLÍCIA antimotim disparou ontem sobre manifestantes na República Democrática do Congo (RD Congo), num novo surto de violência quando o Senado se prepara para votar uma lei que permitirá o alargamento do mandato do Presidente Joseph Kabila.
A Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH) disse na quarta-feira que 42 pessoas foram mortas em três dias de manifestações anti-Kabila, em Kinshasa, número que foi contestado pelo Governo congolês.
“Como infelizmente se tornou frequente na RD Congo, as forças de segurança demonstraram uma reacção completamente excessiva e desproporcionada, disparando munições reais contra manifestantes”, indicou a FIDH num comunicado, onde refere ainda dezenas de feridos.
A violência urbana causou 12 mortos em Kinshasa entre segunda-feira e quarta-feira, afirmou ontem o porta-voz do Governo, Lambert Mende.
“Temos 12 mortos, entre os quais um polícia: três no primeiro dia, oito no segundo e um ontem (quarta-feira) ”, declarou Mende à agência France Presse, adiantando que “o polícia foi morto por um desconhecido” e os restantes eram “desordeiros” que foram mortos por guardas de segurança privados.
Segundo Mende, a FIDH é “manipulada por um grupo de congoleses” no exílio.
Os confrontos ocorreram ontem em Goma (leste, a cerca de 1.500 quilómetros da capital), quando a Polícia antimotim disparou sobre várias centenas de manifestantes, disse um correspondente da AFP.
Os manifestantes protestam contra legislação que permitirá a Kabila, no poder há 14 anos, continuar em funções para além do final do seu mandato em 2016.
Na quarta-feira, o arcebispo de Kinshasa Laurent Monswengo exprimiu o seu apoio aos manifestantes, criticando a sua morte e pedindo ao povo congolês para utilizar “todos os meios legais e pacíficos” para se opor à mudança da lei eleitoral.
Os Estados Unidos juntaram-se à União Europeia ao expressarem preocupação com a crescente violência na RD Congo, ao mesmo tempo que apelavam à contenção e à realização de eleições de acordo “com a Constituição”.
A oposição pensa que o chefe de Estado pretende se manter em funções fazendo depender as eleições presidenciais e legislativas de um novo recenseamento eleitoral, que está previsto começar no corrente ano.
O Governo reconheceu que o recenseamento pode atrasar as eleições previstas para o final de 2016. Analistas regionais e diplomatas calculam que o processo pode demorar até três anos.
O ano passado, o Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, foi afastado do poder quando tentou alterar a Constituição para alargar o seu mandato.
NOTÍCIAS – 23.01.2015