XIPALAPALA Por: João de Sousa
A campanha eleitoral ainda não tinha começado e já se sabia que Nyusi era o candidato da Frelimo a ocupar a cadeira principal da Ponta Vermelha. A forma como lá chegou ainda é motivo de debate, comentário, opinião, facebookismo e até, infelizmente, de maledicência. Nesses escritos que vão aparecendo um pouco por todo o lado fiquei a saber, entre outras coisas, que Nyusi tem muitos amigos. E ainda bem que assim é. Amigos do bairro onde nasceu e cresceu, da escola onde estudou, dos Caminhos de Ferro onde trabalhou. Esses amigos, como verdadeiros amigos que são, não andam por aí a propalar publicamente essa amizade.
Os “amigos” de Nyusi de que vos falo são outros. Os quase Judas Iscariotes que por 30 dinheiros vendeu Jesus. Perdoem-me a comparação. É pesada, mas necessária, como correctivo para efeitos de purga dum mal que, se não for radicalmente extirpado à sua nascença, poderá fazer estragos maiores.
“Amigos” que circulam pelos corredores das redes sociais e deixam ficar registadas as mais variadas informações e comentários. Dizem que o conheceram aqui, ali e acolá. Que privaram com ele e com membros da sua família. Que são visita regular da sua casa. Dizem mais: que Nyusi é uma pessoa conhecedora, capaz, honesta, digna e amiga do seu amigo.
Um amigo meu, recém-chegado de Nampula onde esteve a passar férias, diz-me que este fenómeno “amigo de Nyusi” virou quase “palavra de ordem”. Alguns cidadãos da classe média-alta da capital do Norte passam a vida a falar da forma como conheceram e privaram com o Presidente. Quando e onde? A resposta vem rápida: “nos tempos em que ele esteve cá”.
Desse grupo de “amigos” há os que se referem à sua veia artística. Pode ser que tenha, porque afinal todos nós temos a nossa. Fiquei a conhecer esse seu lado artístico quando li na sua biografia uma passagem onde se refere que foi Graça Machel quem o “livrou” de ele ser formado como dançarino, depois de ter completado o ensino secundário. Eu não conhecia esse lado artístico do Presidente. O curioso é a afirmação feita por um artista da nossa praça que descobriu a veia artística de Filipe Jacinto Nyusi só porque ele, em campanha eleitoral, reuniu-se com os artistas deste país.
Se eu me refugiar no raciocínio desse artista (cujo nome omito por razões óbvias) então devo considerar que o nosso Presidente tem veia de desportista porque se reuniu com os fazedores do desporto nacional (até chegou a ser presidente da direcção de dois ferroviários) ou que poderá ter veia de jornalista, se um dia se reunir com os homens da comunicação social ou de escritor quando se encontrar com os escritores e por aí fora.
São estes amigos de ocasião que se aproveitam do momento para dizer aquilo que não são, não foram e nunca serão. Querem, como é seu costume, catapultar-se, desta vez à custa dum trampolim chamado Nyusi.
Eu não sou amigo do Presidente. Conheço o Presidente. De ouvir e ver nos meios de comunicação social. Nas minhas funções de correspondente da Rádio Moçambique na África do Sul, tive o privilégio de estar com ele por meia hora, no hotel onde se encontrava alojado em Pretória, no final dum encontro dos ministros da Defesa e Segurança da SADC. E estive com ele porque a minha função era entrevistá-lo, como, aliás, aconteceu. À margem da entrevista falámos de outras coisas mais.
O facto de eu ter estado uma única vez em privado com o Presidente não pode significar, de maneira nenhuma, que sou amigo dele. Infelizmente, há os que dizem ser e não são coisíssima nenhuma. Oportunismo puro e simples. Os “lambe-botas” já se começam a perfilar.
CORREIO DA MANÃ – 28.01.2015