Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Caro Marcelo Mosse, já desde o anúncio do novo Governo, as conjecturas sobre a real detenção do poder e continuação da liderança de Guebuza nos destinos do país ficaram claras, nomeadamente com a indicação de Celso Correia para o cargo de ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. Ora, quem tem a terra, tem tudo: florestas, minas e toda a gama de recursos naturais. Sabendo-se muito bem que Celso Correia é testa-de-ferro de Guebuza, nada nos obsta de concluir que Guebuza assegurou o seu futuro, cuidando de ter um homem-de mão no Governo e que garanta os seus interesses pelos recursos naturais.
Compreende-se claramente a origem do nervosismo de Chipande, Lidimo e Nalyambipano e Mtumuke, a razão que pode ter levado esses macondes a reunirem-se com Nyusi, pois a entrega da pasta da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural não passa de um acto de entrega do botim (tesouro) a um indivíduo que é o rosto visível dos negócios que enriqueceram o Guebas e a família nos últimos 10 anos. Guebuza tem muita razão de sobra para ter escolhido estar na presidência do partido Frelimo, pois tendo ele no Governo um homem-de-mão como o Celso Correia, que conhece os sentidos de oportunidade e fareja, pode daí maquinar o Nyusi a partir das sugestões e assessorias do seu delfim nos negócios.
É mesmo para dizer que compreende-se o estado de desgosto de Alberto Joaquim Chipande, o homem que em Novembro passado proclamou que era ele quem passaria a governar o país. Nyusi é isso que muito receiam dizer: um presidente corta-fitas. Alberto Joaquim Chipande há-de ter razões de sobra para falar pelos botões e mostrar-se esbofarido, pois o seu poder reflecte-se por uma mão cheia de nada e a outra de coisa nenhuma.
Numa palavra, o carvão está na terra, o gás está na terra, a madeira está na terra, e assim foi feita a transição geracional de poder em Moçambique.
Meu bom amigo Mosse, a transição geracional e de poder não terá ocorrido de nenhuma forma com as eleições. A menos que o Rei Guebas abdique da presidência do partido. A menos que Nyusi se invista de poder, de facto e de direito, sem ser esta mera figura decorativa e com prorrogativa de governar em sua consciência e inteligência. E para que Nyusi seja um presidente, e não um corta-fitas, depende da sua capacidade de enfrentar o Guebas e dizer-lhe “não”. Este filme passa-se na Guiné-Equatorial, onde o filho de Obiang tem a terra e é na prática o vice-presidente. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 29.01.2015