Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
A soma dos moçambicanos vivendo em Moçambique mais aqueles que se encontram na diáspora perfaz uma massa crítica que tem nas suas mãos a solução dos problemas de hoje.
Não se pode construir um país sólido, próspero e pujante condenando a maioria da sua população à pena de exclusão nos processos essenciais.
Não se pode construir um país baseando tudo num grupo de pessoas conexas e com ligações ao poder do dia.
Não se pode construir um país reduzindo tudo a uma questão dos interesses privados dos “libertadores da pátria”.
Não se pode construir um país sem que exista liderança genuinamente interessada na agenda nacional e que governe tendo em conta essa agenda, e no processo de governação escute e tome em consideração o que os governados dizem e pensam.
O enriquecimento galopante de uma elite numericamente ínfima, quando não seja acompanhado de um “empoderamento” significativo da maioria, retira qualquer sentido ao desenvolvimento macroeconómico e estatístico que seja publicitado.
Os Palácios de Justiça e outros de natureza pública ou privada, as mansões residenciais, a multiplicação de condomínios, os hotéis e outras estâncias turísticas reservadas para turistas com altos rendimentos não correspondem ao desenvolvimento ansiado por milhões de moçambicanos.
É preciso ver a multiplicação do comércio informal e as tendências migratórias internas como fenómenos indicativos de uma aceleração do número de concidadãos que vivem em miséria extrema.
Quando o sistema de educação nacional se mostra incapaz de dar ao país recursos humanos tecnicamente capacitados para enfrentar com êxito os desafios do desenvolvimento nacional em áreas prioritárias como a saúde, a agricultura, a mineração e energia, estamos perante um falhanço colossal, de consequências desagregadoras.
Um país e uma nação têm um factor aglutinador que é o seu povo, os seus cidadãos. E estes devem ter uma cultura que promova o seu destino comum.
Uma retórica barata e de todo contraproducente foi apregoada durante décadas, sem resultados palpáveis. Um dos cavalos de batalha dos promotores das assimetrias regionais foi uma “unidade nacional” que nunca teve em conta os outros, quando a questão fosse compartilhar, ter acesso e participar.
Uma República não se move nem se governa com base em “slogans” lançados ao vento conforme se apresente ou seja conveniente.
Nem tudo o que os libertadores fizeram foi errado. Eles e os considerados reaccionários trouxeram-nos a Independência. Temos uma bandeira e um Estado, um hino nacional e uma nacionalidade graças aos esforços, sacrifícios e lutas de moçambicanos de todos os estratos sociais, raças, tribos e confissões religiosas.
Esse património comum não pode ser posto em causa por aventuras de grupos insatisfeitos com o evoluir político do país.
A unicidade e indivisibilidade de Moçambique são frutos concretos da gesta heróica de moçambicanos, muitos dos quais permanecem no anonimato, e a outros, embora conhecidos, é-lhes negada a sua heroicidade.
O que alguns pretenderiam, ou insistem em defender, é que se viva em regime bicéfalo e que, no fundamental, tudo ou nada se alterasse. Nessa perspectiva, as surpresas que foram acontecendo apanharam muita gente distraída ou com as “calças na mão”. Numa reacção violenta e enérgica “atiçaram os cães” para contrariar a atmosfera de reconciliação conseguida após o encontro entre Filipe Jacinto Nyusi e Afonso Dhlakama.
Agora que surgem vozes informadas e influentes entrando na discussão e oferecendo a sua fundamentada opinião sobre “dossiers” importantes do país, temos oportunidade de reorganizar o diálogo nacional.
E importa que se compreenda que este diálogo não pertence unicamente à Frelimo e à Renamo. Aquilo que se apresenta como subsídios hoje é produto de vários quadrantes.
Importa que se aproveite a atmosfera permissiva de hoje e se trabalhe no sentido do acantonamento final das forças revanchistas nacionais.
Sem alaridos nem declarando vitórias que não existem, tenhamos sangue-frio para defender a única coisa que vale, que é a moçambicanidade, inclusiva, abrangente, participada, compartilhada e vivida.
Temos, cada um de nós, muito mais para dar ao nosso país e aos nossos concidadãos. (Noé Nahntumbo)
CANALMOZ – 26.02.2015