Refletindo sobre o presente da maioria dos moçambicanos não é difícil entender por que razão nos tentam sempre impingir um futuro melhor. Afinal, 40 anos após a independência nacional, a retórica sobre a igualdade começa a fazer pouco sentido quando vemos uma minoria fazer-se transportar em avião e em carros de luxo, enquanto a maioria viaja abraçada nas carrinhas de caixa aberta, vulgo “my love”, pendurada nos comboios ou desloca-se de um lugar para o outro a pé.
Como fazer do “quadragésimo aniversário da nossa independência um momento de reafirmação da nossa soberania” numa altura em que os proprietários das terras, que deviam pertencer ao Estado tal como reza a Constituição, são os privilegiados do costume, que depois as entregam a estrangeiros?
Que soberania iremos manter quando nos endividamos cada vez mais lá fora quando temos cada vez menos sustentabilidade cá dentro?
E não nos venham falar de “igualdade entre os moçambicanos” porque todos sabemos que existem alguns indivíduos, a minoria, que jamais serão iguais aos outros no diz respeito a vários aspectos, sobretudo ao acesso a serviços básicos:
- Alguns têm água potável nas torneiras;
- Alguns estudam em escolas privadas ou mesmo no estrangeiro e desconhecem a vergonha que se passa nas instituições públicas;
- Alguns comem bem e com direito a mais de três refeições todos os dias;
- Alguns não fazem fila para serem atendidos num hospital público porque são tratados em clínicas privadas ou especiais;
- Alguns têm casas próprias;
- Alguns não temem que os seus haveres sejam levados pela chuva;
- Alguns não correm o risco de serem assaltados ou violentados pois têm polícias e/ou seguranças à porta;
- Alguns têm os seus negócios salvaguardados e ganham sempre os concursos públicos, com ou sem a observância das regras estabelecidas para tal;
- Alguns conseguem sempre os melhores empregos e mudam deles quando pretendem porque têm costas quentes e bocanham as outras vagas para a sua prole;
- Alguns ganham vários salários máximos; Alguns têm mais direito à liberdade de expressão do que os outros;
- Alguns têm direito à impunidade; Alguns têm o direito de enriquecer mais que os outros!
- Alguns têm tudo e até o que não precisam...
É a chama da unidade nacional que nos vai unir?
Serão todos os moçambicanos, de todas as cores políticas, que irão marchar com a chama da unidade nacional?
Que legado histórico nos ensinam quando os famigerados “libertadores da pátria” e “os fundadores da nossa nação” são escolhidos apenas do partido no poder?
Para a maioria dos moçambicanos a chama que é necessária, todos os dias, é a da vela, ou candeeiro, para iluminar as suas casas quando a noite cai. Afinal, a electricidade ainda não chega a todos nós! E porque não há pudor, há quem teime em dizer que “Cahora Bassa é nossa”.
@VERDADE – 25.03.2015