Por: Noé Nhantumbo, Beira
Factores humanos atípicos acontecendo a uma velocidade vertiginosa estão corroendo as defesas naturais na Beira.
Após muitos anos de ocorrência de uma migração desordenada resultado da guerra que se fazia sentir nas zonas rurais, a cidade da Beira “rebenta pelas costuras” sem que se observem sinais concretos de uma reflexão e acção tendentes a mitigar os efeitos negativos de fenómenos naturais e humanos.
Agora já sem guerra a migração não parou e a Beira sofre pela chegada de mais e mais pessoas vindas de todos os distritos de Sofala e de outras províncias do país.
Quanto a migração de origem externa é visível que hoje cidadãos de vários países africanos e asiáticos demandam esta cidade.
É preciso ter cautelas e muita atenção ao catalogar-se os problemas da Beira. Alguns são puramente naturais mas a maioria é de origem humana.
Houve décadas de crescimento urbano desordenado e sem respeito algum aos constrangimentos naturais como propensão a erosão costeira, destruição de mangais.
Um dos factores que concorrem para o colapso da Beira em termos urbanos é a inexistência de um plano de ordenamento territorial exequível. As ideias existentes são soltas e de implementação improvisada. Ainda não se conseguiu desenhar um plano integral que tenha em conta os factores limitantes do desenvolvimento urbano.
A cidade cresce ao sabor de investimentos ocasionais a maioria dirigida para a construção de estabelecimentos de hotelaria, armazéns, portos-secos e parque habitacional.
Vivendo de um orçamento claramente deficitário e confrontando-se com os limites que uma coabitação política precária oferece a cidade por si não consegue atacar questões sensíveis que concorrem para a salubridade, protecção ambiental, criação de emprego, manutenção de estradas e sistema de drenagem.
É preciso não ter receio de dizer que a Beira sofre de falta de visão estratégica por parte dos políticos. Alguém está confundindo a Beira com um campo de batalha em que é forçoso vencer as eleições autárquicas e colocar um presidente do município alguém que pertença a esta ou aquela cor partidária.
Beira é um espaço geográfico de importância local, regional e internacional. Sua existência e desenvolvimento devem ser vistos como algo que ultrapassa interesses partidários.
Embora seja óbvio que são os políticos que acabam decidindo as linhas de desenvolvimento da cidade e as prioridades orçamentais, deve ser tomado em conta que só com a participação de todas as sensibilidades políticas é que se poderão encontrar fórmulas consensuais que levem a que todo o potencial existente seja aproveitado e utilizado, em prol do desenho de políticas apropriadas para o desenvolvimento sustentável da cidade.
É por demais evidente que a Beira carece de uma abordagem global, juntando os conhecimentos locais e recorrendo a toda a cooperação internacional que se possa reunir para atacar os grandes problemas conhecidos.
É fácil falar de estradas esburacadas, de valas de drenagem entupidas, de esgotos que não funcionam, de inundações por águas do mar e de outros problemas.
Houve como que uma invasão de cidadãos na zona da Praia-Nova e os mesmos hoje queixam-se de que a água do mar invade suas casas.
Houve uma distribuição um tanto ou quanto forçada de talhões para construções com algum valor financeiro numa zona nitidamente não adequada. Construir em zona propensa a inundação sem uma forte protecção costeira não só é perigoso como estranho sem que antes se tivessem ergido obras de defesa e protecção.
Há sinais de que por parte de alguns políticos apresentar as desgraças da cidade é forma de activismo político quando todos sabemos que a cidade é um complexo de situações que ultrapassam a fraca capacidade técnica e financeira evidenciada pelos gestores urbanos e municipais.
O apelo é que os políticos, seus partidos, organizações económicas, CMB, governos provincial e nacional se unam através de diálogo e de acções que corrijam todos os dias aquilo que está mal feito.
Não se pode desenvolver uma cidade através de “esquemas comissionistas”.
Desenvolver a Beira passa pela imposição das leis, da aplicação das posturas municipais, do combate real e rigoroso à venda de terra urbana, a educação cívica, a fiscalização das acções municipais, à promoção da cidadania.
Urge acabar com propaganda política barata visando manchar este ou aquele quando sabemos que isso só serve objectivos eleitoralistas e não na solução dos verdadeiros problemas da cidade.
Uma coisa são as aspirações políticas de partidos e seus candidatos e outra bem diferente é o desenvolvimento harmonioso e sustentável desta urbe tão importante para o país inteiro.
É preciso entender que salvar a Beira da fúria das águas do mar é promover o desenvolvimento de Moçambique.
O AUTARCA – 18.03.2015