Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Em sociedade, na impossibilidade de unidade, entendimento, a alternativa é agirmos como os macacos: separados nas refeições, unidos na crise ou no sofrimento.” Extraído de umaconversa com o amigo e poeta Nkulu
Não é a primeira vez que a Frelimo enfrenta problemas de carácter disciplinar no seio do partido e não será a última, visto que o “bicho homem” não consegue ficar sóbrio por muito tempo sem que apresente publicamente a sua película comportamental. É da natureza humana a insatisfação, basta lembrar que a “coroa de espinhos” que puseram ao filho de Deus (Jesus Cristo) quando este decidiu irradiar a concórdia entre os homens, afirmando que todos somos irmãos e há lugares para filhos e enteados. Tenho chamado atenção aos meus leitores para observarem os problermas não pela fervura da notícia, mas sim a raiz das coisas, que a prior parecem invisíveis, que podem estar na origem dessa contenda. O mesmo acontece com o relógio, toda a gente quer ver os ponteiros, a hora, os minutos, e os segundos, ignorando o motor.
Desde a sua criação em 1962 a Frelimo passou por diversos estádios e metamorfoses, vários líderes tombaram (uns por fatalidade biológica e outros por traição), mas a caravana nunca parou. Os camaradas conseguem estar unidos na adversidade, independetemente do grau dos ânimos.
Foi assim no tempo de Mondlane, de Samora, de Chissano, de Guebuza e há-de sê-lo também no consulado de Nyusi. A Frelimo sabe que não se deve fugir de abcessos, pois eles aparecem para testar a capacidade da nossa resistência.
A forma como a Frelimo está organizada faz lembrar aquele rebanho de animais selvagens que quando se une, afastam qualquer sintoma de perigo vindo de outros animais (carnívoros). Na Frelimo, ao que tenho estado a assistir ao longo de alguns anos, o poder não está centralizado na figura do seu líder, como acontece nalgumas forças políticas da oposição.
São as bases que ditam as regras e cabe a liderança cumpri-las. As reuniões, além de ser uma tradição, fortificamo partido e arrepiam caminhos. A importância dos encontros visa a instrospecção do partido para melhor responder os apetites do povo. É por essa razão que a Frelimo continua a ser uma força imbatível de referência mundial.
Porquê acredito que a Frelimo ficará no poleiro por mais 50 anos? Tenho essa crença porque a nossa oposição não está organizada. Ou melhor, a oposição está desorganizadamente organizada e é demasiadamente egocentrista, tribalista e regionalista. Na oposição não existe o plural “nós”, é sempre o singular “eu”. Formatam a mentes dos membros, sobretudo da juventude, para que daqui a 50 anos tudo fique na mesma, oposição! Existe uma tendência para a monarquização partidos, daí que os requisitos para ocupar os lugares de destaque deixaram de ser a competência e a confiança, mas sim os factores de sangue, de amiguismo, de vizinhança, de compadrio, de amantismo, etc. O povo deixou de ser a causa e passou a constituir o meio, uma espécie de isca para reivindicar o “vil metal”. Usa-se o povo como escadote para atingir o poder. Com este tipo de oposição, que se opõe a si própria, a Frelimo continuará no poder por mais 50 anos.
Posso estar enganado, mas felizmente, quase sempre o tempo encarrega-se de provar positivamente estas minhas “desgraçadas” hipóteses. É bem à semelhança do que dizia o saudoso Professor José Hermano Saraiva que cito de memória “… podemos sempre estar enganados. É preciso não ter a certeza de coisa nenhuma, mas todos os elementos de um estudo minucioso levam a esta conclusão”.
Alguns dirão, muito ríspidos, que, afinal, esse “Viriato é um distraído, então não vê, não ouve as vozes críticas de dentro da Frelimo?” É claro que não sou cego nem surdo (com todo o respeito por portadores destas deficiências), mas lembro que a crítica neste partido é uma regra e não uma excepção. Os críticos sabem que a oposição não deve tomar o poder sob pena de todos eles perderem “refeições”. Estão a entreter a oposição e a opinião pública. É raro a Frelimo lavar roupa suja em público, quando o faz, tem um objectivo: dar agenda aos fazedores de opinião pública. Existe um enredo de compromissos indissociáveis entre os camaradas e qualquer manifestação de desenlace não passa de diversão.
Sobre a sucessão de Guebuza na liderança do partido, julgo que foi precipitado entregar o poder ao actual Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi. Não é segredo para ninguém que Nyusi é “caloiro” no seio do partido e a passagem de testemunho devia ser feita paulatinamente. Não se trata de ambição ou ganância de Guebuza, e sim protecção do seu “pupilo” Nyusi.
Imaginemos que, depois de entregue o poder a Nyusi, este decida trair os camaradas e a pátria moçambicana?
Assistimos isso no Malawi quando Bingu Mutharika encetou um golpe palaciano aos militantes do seu antigo partido (Frente Democrática Unida –UDF) que lhe levou ao poder, antes de criar o seu próprio, Partido Democrático Progressista (DPP). Em política tudo é possível, como dizia Balzac “os interesses se sobrepõem aos sentimentos.”
É uma mera conjectura da minha parte, o tempo julgará!
Zicomo (obrigado) a todos.
WAMPHULA FAX – 31.03.2015