Dez anos nulos na luta contra a pobreza
Quando Armando Guebuza ascendeu à Presidência da República, em 2005, mais de 54,7% dos mais de 20 milhões de moçambicanos viviam na miséria. Apesar de ter hasteado largamente a bandeira de luta contra a pobreza, hoje, dez anos depois, e quando deixa o cargo de Presidente da República, a percentagem de pobres mantém-se quase inalterada. Apesar dos discursos, nada mudou
Isto é o que se pode concluir do relatório “Análise da Pobreza em Moçambique”, realizado para o grupo dos 19 principais doadores do Orçamento Geral do Estado moçambicano pela VU University, de Amsterdão, citado pela Lusa.
É, de resto, uma conclusão que não surpreende. Em vários relatórios divulgados em Maputo, o Fundo Monetário Internacional sempre alertou que o crescimento que o país estava a registar não se estava a traduzir na melhoria das condições de vida dos cidadãos mais pobres. Segundo o FMI, o crescimento não foi favorável aos pobres. Pelo contrário, assistiu-se a um cenário de acumulação de riqueza nas mãos de um punhado de pessoas que detêm o poder, e que se tornou cada vez mais rico.
Um dos relatórios do FMI, divulgado recentemente, admite que o país falhou no objectivo de reduzir a pobreza até 42%, em 2014, conforme preconizado no Plano de Ação para Redução da Pobreza (PARP) 2011-2014, colocando esse indicador em 54%.
Armando Guebuza chegou a Presidente da República quando o país se encontrava entre os dez piores do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, e durante os seus dois mandatos manteve Moçambique com esse estatuto, ocupando agora a 178.ª posição, numa lista de 187 países, apesar de a economia moçambicana crescer mais de 7% ao ano nos últimos dez anos.
A governação de Armando Guebuza descrita pela Lusa foi marcada por duas grandes manifestações populares violentas em Maputo contra o custo de vida. Foi igualmente marcada pelo retorno à violência militar no primeiro trimestre do ano passado, opondo as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, vinte e um anos após a assinatura do Acordo Geral de Paz.
Os confrontos, que terminaram formalmente em Setembro de 2014, provocaram a morte de um número indeterminado de pessoas e a destruição de bens, maioritariamente no centro do país, fazendo temer que o confronto militar resvalasse para uma guerra à escala nacional, como a que antes arrasou o país durante 16 anos.
Vários relatórios internos e internacionais apontam os dez anos dos dois mandatos de Guebuza como um período de maior reforço do domínio do Estado pela Frelimo, que reactivou células que estavam operativas durante a época do monopartidarismo.
CANALMOZ – 31.03.2015