O porta-voz da Frelimo afastou hoje a existência de problemas de articulaçã o entre o Presidente a República, Filipe Nyusi, e Armando Guebuza, que hoje se demitiu da liderança do partido no poder em Moçambique.
"Nunca houve bicefalia nem problemas de trabalho ou de articulação entre o presidente da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] e o Presidente da República", declarou aos jornalistas Damião José, à margem dos trabalhos do Comité Central do partido dominante em Moçambique, que hoje elegeu Nyusi para suceder a Guebuza.
"O que vai haver é a mesma personalidade, o mesmo camarada, que também desempenha as funções de Presidente da República", afirmou o porta-voz da Frelimo, que desconhece a preparação de mais mudanças nos restantes órgãos do partido.
"Vamos ouvir as orientações que o camarada Filipe Jacinto Nyusi, novo presidente da Frelimo, vai dar aos membros do Comité Central e se o programa continuará como previsto ou se haverá outra atividade não prevista", disse ainda Damião José.
A sucessão do líder da Frelimo estava fora da agenda da IV Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo, iniciado na quinta-feira nos arredores de Maputo, mas hoje Armando Guebuza colocou o seu lugar à disposição dos membros do órgão do partido.
Logo de seguida foi eleito o único candidato à liderança da Frelimo, Filipe Nyusi, com 186 votos a favor, dois brancos e um contra, informou Damião José.
Nyusi ganha o partido depois de ter sido eleito Presidente da República, nas eleições gerais de 15 de outubro, sucedendo também a Armando Guebuza, que havia completado dois mandatos como chefe de Estado.
A continuidade de Guebuza na liderança da Frelimo estava a ser questionada por analistas e também por membros do partido, que alertavam para o risco da criação de dois centros de poder, fragilizando o Presidente da República, sobretudo nas negociações com a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal força de oposição, que ameaça tomar o poder pela força se o seu projeto de autarquias provinciais for chumbado no parlamento.
Na abertura dos trabalhos do Comité Central, Armando Guebuza criticou na quinta-feira os camaradas que publicamente procuram dividir e semear a confusão no partido.
"Preocupa-nos a postura e comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram ações que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio", declarou.
Numa passagem não contida no seu discurso escrito, o antigo chefe de Estado moçambicano evocou o assassínio à bomba do fundador da Frelimo, Eduardo Mondlane, em 1969, e a morte em 1986 do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, num acidente de aviação que a organização atribui a um atentado do ex-governo do "apartheid" da África do Sul, como exemplos de tentativa de destruir o partido.
"Talvez seja útil recordar que o objetivo deles é abater a Frelimo, é acabar com a Frelimo, temos experiências muito infelizes que nós conhecemos, algumas das quais vale a pena recordar: quando assassinaram Eduardo Mondlane, era para acabar com a Frelimo, quando assassinaram Samora Machel, era para acabar com a Frelimo, e naturalmente quando alimentam crises internas é para a Frelimo não se reerguer, para continuar com o projeto comum de 1962", ano da fundação do partido no poder, afirmou.
Lusa – 29.03.2015