Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Não se pode mudar de políticas sem mudar de líder.”
Extracto de uma conversa com um amigo
A s minhas primeiras palavras são de solidariedade para com as vítimas de xenofobia na vizinha África do Sul e condolências às famílias enlutadas, entre elas, nossos compatriotas. À luz do Direito Internacional, pode-se dizer que o Estado moçambicano está de luto e, por isso, exige-se ao governo que observe o luto nacional e a bandeira em meia-haste em memória dos finados.
Compreendo que os moçambicanos estejam ávidos em fazer justiça pelas próprias mãos, uma vez que: a primeira acontece por acidente, a segunda só quem quer, a terceira é demais, mas é preciso serenar os ânimos e deixar que as autoridades do nosso país resolvam o problema pela via diplomática.
Para quem segue a doutrina da Igreja Católica, como é o meu caso, sabe que em circunstância alguma deve prescindir deste filosófico ensinamento: “Quem segue Jesus Cristo não paga o mal com o mal, nem planeia vinganças. O cristão sabe que é fundamental saber perdoar e ser misericordioso com todos, mesmo com os inimigos.”
O mais importante, a par de outras medidas que estarão a ser tomadas pelo executivo moçambicano, é encontrar soluções para acolher e empregar – se for o caso - os sobreviventes da xenofobia, facto que evitaria o agravamento da situação da pobreza no país. Não adianta resolver este problema com promessas de discursos açucarados ou congelar o caso atrelando-se no que é “politicamente correcto”, o que se quer são medidas enérgicas e imediatas.
O artigo da semana passada sobre o estado clínico da Oposição criou-me muitos dissabores. Há pessoas que insistem em insultar-me gratuitamente no lugar de dialogar (que é o propósito deste Centelha) contrapondo, de forma positiva e educada, o meu raciocínio. Entretanto apraz-me o facto de saber que outras pessoas se aperceberam que o insulto não constrói e é meio caminho andado para a destruição de consensos. O diálogo faz-se com questionamentos, nunca por via do absentismo e insultos contra o outro. Tenho dito que os meus débitos não são propriedade de ninguém que não seja do meu livre pensamento, por isso reconheço confessando a minha incapacidade de agradar a todos.
Impressiona-me observar que há indivíduos cuja mente está formatada para falar mal do governo da Frelimo sem nunca apontar um defeito contra a Oposição.
No entender dessa gente, a Oposição não tem delito, é cristalina, pois tudo o que ela faz está correcto. Coerência para mim é saber reconhecer os erros, apontá-los, e em tempo útil corrigi-los para evitar a proliferação do que está errado. Isto não é ter pequenez, embora para certas pessoas isto constitua perda de autoridade.
Não se consegue ouvir ou ler dessa gente um só comentário a repudiar as declarações incendiárias do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, quando ameaça dividir e/ou incendiar o país. Não medem consequências, colocando um dedo de testa, porque julgam poder beneficiar-se com a consumação de tal acto. Espera por um lugar nas propaladas regiões autónomas. Estão a ser enganados. Os sonhos nunca sairão do lugar, a menos que sejam crianças, que julgam estar a voar num baloiço. E digo mais: a doença que a Oposição tem e que se manifesta com fervorosidade é o tribalismo. Mesmo que, por hipótese, o parlamento aprove o plano da Renamo e Dhlakama chegue rapidamente ao poder, não conseguirá debelar os apetites dos famintos e adeptos da segregação entre os moçambicanos.
No passado recente classifiquei Daviz Simango e o MDM como fenómenos nacionais. Airosos tempos em que este partido repercutia o pensamento do povo. A maioria dos moçambicanos, mormente os jovens, depositava esperanças neste partido. E não era para menos: o seu presidente, actual edil da Beira, tinha dado razões para que o povo confiasse em si e no MDM. E verdade seja dita: as competências do edil abonavam o candidato. Num ápice, a popularidade do partido desceu vertiginosamente.
A de Simango também, apanhando a boleia da queda do partido. O edil não consegue separar-se do município. O partido só volta a ter liderança quando é altura das eleições, por enquanto está à deriva. Simango quer contrariar a física: quer estar em dois espaços ao mesmo tempo. Também contraria os ensinamentos bíblicos: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.” Simango deve renunciar a edilidade ou a presidência do partido e seguir o exemplo de António Costa, em Portugal, que abandou a Câmara de Lisboa para se dedicar a tempo inteiro ao Partido Socialista.
Tudo isso concorre para que a Oposição em Moçambique esteja moribunda.
Zicomo (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 20.04.2015