Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
FJN tem de escolher entre agradar aos “camaradas” ou ao povo moçambicano.
Os pequenos passos que o PR tem dado são claramente indicativos do tipo de dificuldade que ele sente em se expressar de moto próprio.
São tantos os conselheiros e tantos os “camaradas” a quem tem de agradar, que não sobra espaço para quase mais nada.
A velha guarda ligada à inteligência nacional e à docência de relações internacionais no famoso ISRI ocupa lugar de destaque entre os conselheiros. Embora estes possam significar muito ou pouco, o que é um dado adquirido é que os “generais macondes” acreditam que chegou a sua vez de “molhar o bico”.
O que parecia resolvido na última reunião do Comité Central da Frelimo, apresenta-se cru e complicado. Conseguiram remover AEG, mas este está solidamente plantado no tecido daquele partido.
Por uma questão de sobrevivência política e económica, houve alinhamentos circunstanciais que ditaram uma união efémera de posições. Agora que começa a batalha real dos 50%, os “camaradas” equacionam cenários vários, e decisões estão sendo tomadas. Não é uma questão de gostar ou não deste PR e presidente da Frelimo. A questão é de pura sobrevivência e manutenção do “status”.
Adivinham-se dificuldades para o PR alterar algo e tomar decisões que aprofundem o diálogo com a oposição, com a Renamo e o MDM. Este engenheiro tenderá a adoptar pontos de vista “aconselhados” por especialistas políticos “isrianos” e instruções directas dos seus mentores políticos.
É uma luta real que não se compadece com considerações teóricas ou altruísmos de índole política.
Quando Joaquim Chissano se encosta à parede e deixa outros tomarem a dianteira é porque acredita que reuniu uma equipa eficiente que foi capaz de desmontar o “monstro de Pemba”.
Os moçambicanos agradecem que, de Pemba à Matola, se tenham encontrado mecanismos de diálogo que desanuviaram o ambiente e que afastaram a guerra do panorama nacional.
Mas tanto o “campeão das fintas” como o “monstro de Pemba” sabem que têm de caminhar mais ou menos juntos para sobreviverem. Não têm que gostar um do outro, mas têm de conseguir enviar os sinais apropriados para o novo PR e presidente da Frelimo, para que este não se afaste da linha “correcta”.
Agora que efectivamente morreu a ideologia, e o capital reina inquestionável, todos fazem contas e analisam fluxos bancários como nunca.
O resfriamento do ambiente de negócios, tanto por razões políticas como por razões meramente económicas e financeiras, veio acalmar alguns falcões que pensavam que ter Palma ou Chibuto era tudo.
Aqueles que haviam acumulado uma fortuna considerável em dez anos acabam de verificar que não existem segredos, e de repente tudo pode mudar. É pouco provável que, durante este seu mandato, se veja FJN pressionando a PGR para acusar e julgar AEG. É pouco provável que JAC seja chamado à barra dos tribunais por causa de negociatas por si apoiadas ou para as quais fez vista grossa. Não é de prever que Luísa Diogo, Tomás Salomão, Mário Machungo sejam algum dia chamados à barra da Justiça para responderem por crimes económicos. Sérgio Viera jamais será chamado ao tribunal para responder pelo descalabro do Gabinete do Plano do Zambeze.
Assim sendo, que “pano para mangas” tem o actual PR para fazer a diferença e colocar o país nos carris? Ele tem um poder que ainda precisa de ser cristalizado e consolidado. Estará disposto a efectuar essa caminhada? Ele não pode menosprezar a postura de pressão e defensiva de Afonso Dhlakama. Ele não se pode esquecer de um passado recente, em que a opção militar foi posta na mesa e executada.
Ele tem de fazer considerações políticas nacionalistas e patrióticas acima dos interesses de seus “camaradas”.
O emaranhado de negócios de seus “camaradas” é de tal forma profundo e complexo que o potencial de fazer escorregar a agenda governativa do PR. Se é que tem uma agenda distinta daquilo que tenha sido traçado pela sua equipa de conselheiros e membros influentes da Comissão Política da Frelimo.
Moçambique respiraria de alívio se houvesse um desfecho consensual no CCJC. Seria muito bom que as partes abandonassem as manobras dilatórias e reconhecessem onde está a razão. Alguma coisa deve ser extraordinariamente importante para, depois de 1992, não se ter encontrado uma fórmula consensualmente aceite de acomodar os militares da Renamo. O princípio negocial ou cavalo de batalha de Chissano continua a imperar sem que os negociadores de hoje consigam entender e compreender que estão presos a um passado que já não existe.
Afonso Dhlakama tem uma margem temporal relativamente curta para apresentar resultados ao seu eleitorado.
Filipe Nyusi deve ter a consciência de que a solução passa por dar algo de concreto e palpável à Renamo.
As voltas constitucionalistas e legalistas utilizadas por alguma intelectualidade moçambicana não interessam aos milhões de pessoas que não se revêem no poder do dia.
Filipe Jacinto Nyusi, uma vez reconhecido por AMMD e por Daviz Simango, deveria aproveitar esse facto para arrumar a casa de modo a trabalhar sem constrangimentos nem receios.
Um líder não nasce líder mas faz-se líder num processo sinuoso.
Terá FJN a massa anímica e política de consistência para se tornar líder? Reconheçamos que a sua escolha para candidato foi um compromisso difícil, mas que precisa de desfecho.
Agora já não é mais candidato e, como tal, precisa de mostrar liderança agora e todos os dias. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 20.04.2015