E diz que Governo sul-africano não deve gastar dinheiro para acomodar vítimas de xenofobia.
Edward Zuma (filho do presidente sul-africano), um dos principais promotores do discurso contra os estrangeiros, que degenerou na onda de xenofobia que já causou cinco mortos na cidade de Durban, não se mostra arrependido do seu discurso, mesmo com as consequências brutais que estão à vista de todos. Longe disso, Eduardo Zuma diz que os estrangeiros devem mesmo abandonar a África do Sul e regressar aos seus países de origem.
Edward Zuma, que está a ser investigado pela Comissão de Direitos Humanos da África do Sul por proferir discursos xenófobos, não mostra sinais de arrependimento das suas declarações, que degeneraram em assassinatos de estrangeiros.
Em entrevista ao canal sul-africano “News24”, o filho do Presidente da República sul-africano disse: “Eu não vou parar de dizer a verdade. O Governo deve parar de fugir de abordar esta questão. Estas pessoas devem voltar para as suas comunidades, e não teríamos desperdiçado dinheiro dos contribuintes” [acomodando-os em campos].
Segundo o jornal “Mail & Guardian”, líderes religiosos e políticos marcaram para hoje, quinta-feira, uma marcha pela paz em Durban. “Na quinta-feira haverá uma marcha liderada por vários sectores do Governo, a partir de Curry Fountain, como uma posição contra a xenofobia, como uma expressão de compromisso para acabar com esse tipo de violência e para a protecção da vida humana”, disse Thami Ngwenya.
Enquanto isso, os estrangeiros têm-se armado, em antecipação contra novos ataques. Durante a noite de terça-feira não foram registados quaisquer ataques. A Fundação sul-africana “Gift of the Givers” abriu um campo de refugiados fora de Durban, para acomodar os estrangeiros que fugiram da violência.
A marcha que está programada para quinta-feira já está a ser questionada e conotada como “saída política”. Um comunicado da organização “Movimento dos Sem Terra” acusa a Polícia de ter reprimido uma marcha antixenófoba realizada em 8 de abril. O grupo questiona agora os objectivos da marcha planeada para hoje, quinta-feira.
“Hoje fomos informados de que o Governo de Kwazulu Natal está a organizar a sua própria marcha, a ser realizada no dia 16 de Abril. Nós perguntamo-nos: ‘porquê agora?’. Quando a marcha era apoiada por organizações de imigrantes foi proibida e atacada. Nós perguntamo-nos: ‘quem estará a marchar?’. E quem estará a receber um memorando e de quem? Estamos agora claros e envergonhados, pois, assim como houve apoio político de alto nível para os ataques a pessoas do Eastern Cape, há apoio para esta violência. Existem muitos, no partido no poder, que querem os pobres divididos, em vez de unidos, e preferem ter os pobres virados contra os seus vizinhos, em vez de estarem virados contra os seus reais opressores.”
“Voltem para os vossos países”
Segundo o “Mail & Guardian”, uma mensagem do “Whatsapp”, que foi posta a circular por um grupo que se auto-intitula “Movimento Patriótico”, causou tempestade nas redes sociais na passada quarta-feira. A mensagem defende que os estrangeiros devem voltar para as suas casas. “Estamos a pedir para vocês regressarem aos vossos países de origem, como o nosso rei Goodwill e muitos outros grandes líderes pediram. Voltem aos vossos países e construam esses países, para que todos possamos viver em prosperidade económica, social e política e em paz, como vizinhos. O genocídio neste canto da África será muito pior do que o que aconteceu no Ruanda, em 1994. Em seguida, todo o continente será reduzido a cinzas. É isso que vocês querem?“, diz a mensagem, que rapidamente se espalhou e criou terror nos estrangeiros.
Vergonha para a África do Sul
A imprensa sul-africana fala de quarenta e seis pessoas presas até agora, e de cinco pessoas mortas, incluindo um adolescente, desde que a violência deflagrou em Isipingo, nos arredores de Durban, na passada sexta-feira.
Na segunda-feira, a violência espalhou-se para KwaMashu, e na terça-feira a Polícia esteve envolvida numa espécie de “jogo de gato e rato” com os grupos xenófobos, que percorriam a cidade destruindo lojas, para atrair a Polícia e depois voltarem aos bairros e semear terror.
“Isto está a trazer vergonha para o nosso país. O tema da marcha será ‘Não em nosso nome’. Isso iria ajudar a devolver a paz à cidade”, afirmou Thami Ngwenya.
Na terça-feira, o ministro dos Assuntos Internos, Malusi Gigaba, reuniu com diplomatas de quinze países africanos para discutir os últimos acontecimentos. Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique disse que mais de duas centenas de moçambicanos poderão entrar pela fronteira de Ressano Garcia na quinta-feira e que serão acomodadas em Boane. (Matias Guente com Mail&Guardian e News24)
CANALMOZ – 16.04.2015