Vergonhoso teatro policial
Depois do assassinato de Gilles Cistac, no dia 3 de Março passado, o “Canalmoz” foi informado por fontes policiais que a Polícia da República de Moçambique recebera “ordens superiores” para mentir publicamente e anunciar que quem disparou contra Gilles Cistac era um cidadão de raça branca. A empreitada visava fugir às responsabilidades políticas que recaíam sobre o partido Frelimo, que havia lançado uma campanha de racismo e ódio contra Gilles Cistac, através do braço intelectual desse partido, o G40, nos órgãos de comunicação social públicos.
E foi o que aconteceu. Na tarde do mesmo dia, Arnaldo Chefo porta-voz da Polícia da República de Moçambique, convocou a imprensa, naquilo que foi a primeira reacção do Estado moçambicano, para anunciar que Gilles Cistac foi assassinado por indivíduos que se deslocavam num carro. Segundo afirmou Arnaldo Chefo, o indivíduo que disparou era “um cidadão de raça branca”. Com esta declaração, ficava confirmado o que a nossa fonte já nos tinha comunicado.
Agora, na segunda-feira, a Polícia moçambicana convocou a imprensa para anunciar a detenção de dois suspeitos de estarem envolvidos no assassinato de Gilles Cistac. Segundo Arnaldo Chefo, são eles Lúcio Manuel e Arsénio Nhaposse. Já foram apresentados ao Tribunal Judicial da cidade de Maputo e o tribunal legalizou a prisão dos mesmos na passada sexta-feira.
Questionado sobre os outros dois que teoricamente faltam para perfazer quatro, Chefo disse que há pistas, mas acontece que nenhum dos dois que faltam é de raça branca. Tal informação entra em contradição total com o que o mesmo porta-voz havia anunciado no dia do assassinato de Gilles Cistac. Portanto já não há “cidadão de raça branca” envolvido.
Na informação divulgada por Arnaldo Chefo na segunda-feira, há todos os condimentos para ser mais uma burla. Por exemplo, Chefo não disse à imprensa a data exacta e as circunstâncias da detenção dos suspeitos. Não disse em que bairro foram detidos. Só disse que “foram detidos”.
Um outro detalhe que torna todo o enredo mais nebuloso ainda, e com cunho de invenção, é o facto de, na segunda-feira, a Polícia não ter violado o princípio de presunção de inocência, pois não apresentou os suspeitos. Habitualmente, sempre que há um suspeito em crimes de grande divulgação pública, a Polícia tem violado o princípio legal de presunção de inocência e tem apresentado os suspeitos aos órgãos de comunicação e até segura a face dos suspeitos para serem filmados e entrevistados.
Desta vez, a Polícia não apresentou os suspeitos e não explicou quando é que foram detidos, onde e em que circunstâncias.
“Agradecia que tivessem alguma paciência. Assim que as condições tiverem sido criadas, terão a oportunidade de testemunhar os detidos. Há um trabalho que está sendo feito com vista a localizar todos os elementos que fazem parte da quadrilha que cometeu este crime”, disse Arnaldo Chefo.
CANALMOZ – 14.04.2015