Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Tudo o que é político é estratégico, mas nem tudo o que é estratégico é político”. Excerto de uma conversa com um anónimo
Eu uma vez escrevi que a oposição no nosso país precisa de cuidados intensivos e tornou-se agora moribunda.
Não se pode dizer que temos oposição em Moçambique, porque não fiscaliza absolutamente nada e está muito longe de representar os superiores interesses do povo. Ela gravita em torno dos apetites de um punhado de pessoas influentes.
Basta olhar para a oposição no Parlamento para perceber que a única transformação qualitativa que regista é a mudança de seis para meia dúzia.
No Parlamento, a oposição não consegue ser oposição, nem constitui o “mapa do povo”. Assume concordância nas refeições, até elaboram poéticos discursos, mas discordam, recorrendo à vuvuzelas, apitos e outros instrumentos barulhentos, quando o cerne da questão é a melhoria das condições do povo. É claro que esta oposição não é a mesma de há 20 anos, que encarnavam os problemas do povo e pensava no Moçambique melhor. A actual oposição, que carrega consigo alguns resíduos tóxicos da antiga oposição, não segue a prescrição médica do povo, mas também não quer se curar.
Vimos na semana passada uma oposição igual a si mesma, que em sede do plenário chumbou o Programa Quinquenal do Governo (PQG) 2015-2019, afirmando, em uníssono, que é irrealista e está longe de satisfazer as necessidades dos moçambicanos. Era de admirar
– e talvez constasse do Guinesse Book
– se a oposição votasse a favor de algum PQG submetido pelo governo da Frelimo. O problema não é o PQG, mas sim quem o elaborou: a Frelimo, um inimigo figadal, no entender da oposição.
No PQG constam cinco prioridades, a saber: “a) Consolidar a Unidade Nacional, a Paz e a Soberania; b) Desenvolver o Capital Humano e Social; c) Promover o Emprego, a Produtividade e a Competitividade; d) Desenvolver Infraestruturas Económicas e Sociais; e e) Assegurar a Gestão Sustentável e Transparente dos Recursos Naturais e do Ambiente”, mas que para a oposição é corriqueiro e somenos.
Portanto, a decisão de chumbar o PQG pode ser político, mas não estratégico, porque terá consequências para a oposição. Ao povo interessa o que aconteceu e não como aconteceu.
O povo sabe que chumbando o PQG os seus problemas serão agudizados e, obviamente, não serão os deputados a pagar a factura. Não se admire por isso que a sentença eleitoral do povo seja uma pesada e estrondosa derrota para a oposição. Não estou a dizer que a oposição deva aprovar ou reprovar levianamente os PQG´s do governo da Frelimo, pelo contrário, deve fazê-lo tendo sempre em vista os anseios do povo. Pode-se admitir que o PQG ora aprovado tenha algumas imprecisões – não há plano nenhum perfeito e/ou que resista ao calor da prática, mas isso não deve levar a oposição ao boicote do mesmo, porque esta medida implicaria paralisar o andamento da carruagem (o país).
Nos próximos dias, a “Casa do Povo” irá apreciar e votar o Orçamento Geral do Estado (OGE). Já se pode esperar o chumbo da oposição, pois não há memória de uma posição contrária. Tanto a Renamo como o MDM são vítimas da história e “presas” fáceis da Frelimo porque esquecem-se de se lembrar que, como disse Filipe Rocha (cito de memória, “as decisões correctamente tomadas terão o respectivo prémio, cedo ou tarde, e as irreflectida e erradamente tomadas receberão o inevitável castigo, também cedo ou tarde.”
Esta oposição, como sempre disse no passado, enferma de quatro problemas:
(i) incoerência: toma-se decisões precipitadas e irreflectidas que prejudicam a si mesma; (ii) precipitação (actua antes do tempo sem nunca deixar amadurecer e interpretar os sinais do tempo, tentando “saltar um poço com dois passinhos”);
(iii) ganância exacerbada: as frinchas existentes permitem a infiltração de ambiciosos com falta de valores e éticas profissionais, gente que não olha meios para atingir fins, baseando-se no discurso “Venha a nós o vosso reino”;
(iv) tribalismo: faz-se política olhando para o espírito de recompensa.
Há gente que prolonga nos filhos, esposas, sobrinhos, primos e enteados, os seus apetites estomacais.
Os cargos mais relevantes de chefia, na oposição, são exercidos por uma determinada etnia, família ou grupos de amigos. Perdeu-se a noção da palavra militante (aquele que resigna, desde a base até ao poleiro, qualquer interesse individual ou partidário que não se anteponha aos da nação moçambicana, infelizmente, o que temos estado a assistir, na sua maioria, são senhores doutores que chegaram ao poder pelas escadas de serviço e serviços de secretaria, aqui onde são assumidos trocas de favores). Mas eu não mantenho esperança de que esta página negra e triste da nossa oposição será virada nos próximos 50 anos. Esse tipo de políticos, que mancham a oposição, são como as árvores: se nascem tortas dificilmente se endireitam.
(CONTINUA). Zicomo (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 13.04.2015