Amanhã em Xai-Xai
Guebuza, Paúnde e Talapa controlavam a organização, promovendo casamentos entre os filhos. Guebuza controlava Talapa e Paúnde que são compadres. Talapa e Paúnde só tinham de controlar os filhos e os genros.
Havia uma proposta para alargar a idade de militância na OJM para 40 anos com vista a acomodar o grupo de Edson Macuácua.
Parte considerável dos membros exigem reposição da legalidade, que implica afastamento do actual secretário-geral e antigo genro de Paúnde, Pedro Cossa, e recondução de Basílio Muhate, que foi afastado ilegalmente pelos então “donos” da OJM: Guebuza, Paúnde e Talapa, numa operção que incluiu o SISE.
Está agendada para sábado, na cidade do Xai-Xai, em Gaza, a reunião do Comité Central da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), o braço juvenil do partido Frelimo. É a primeira reunião que acontece sem Guebuza na direcção desse partido, se bem que a mesma havia sido marcada contando com um cenário em que Guebuza saísse mais forte da recente sessão do Comité Central, em que foi derrubado.
A reunião acontece num ambiente quase explosivo, que se agudizou com a queda de Guebuza. Nos últimos anos, e com Guebuza à frente do partido Frelimo, a OJM tornou-se numa instituição de algumas famílias, controlada pela tríade Armando Guebuza, Filipe Paúnde (então secretário-geral) e Margarida Talapa (actual chefe da bancada parlamentar da Frelimo). Há uma bolha de insatisfação, que poderá rebentar no Xai-Xai. E o “Canalmoz” está a par de preparativos para isso acontecer.
A movimentação mais séria está neste momento a decorrer visando o afastamento do actual secretário-geral dessa organização, Pedro Cossa, para levar a cabo aquilo a que chamam “reposição da legalidade”.
Recorde-se que Cossa chegou àquele posto em Maio de 2013, quando Armando Guebuza (então presidente), Filipe Paúnde e Margarida Talapa decidiram correr com todos os membros da direcção da OJM que não lhes prestavam vassalagem dentro do partido. Nessa operação, e sem razões plausíveis, o jovem Basílio Muhate foi afastado do cargo de secretário-geral da OJM, e Amélia Franklin foi afastada do cargo de secretária-geral da OMM (Organização da Mulher Moçambicana).
Na altura, o trio Guebuza, Paúnde e Talapa deu dinheiro a um grupo de jovens, composto por Edson Macuácua (co-fundador do G40), Isalcio Mahanjane (membro do G40), Anchia Talapa (filha de Margarida Talapa) e Alex Muianga (então secretário da OJM na cidade de Maputo), para irem às bases descredibilizar Basílio Muhate e o seu elenco. Os secretários provinciais da OJM não aderiram à campanha e denunciaram o grupo junto de Basílio Muhate.
Mas a decisão de afastar Muhate era mesmo irreversível e acabou por acontecer por vias ilegais.
Para indicar um novo secretário-geral da OJM, a tríade Guebuza, Paúnde e Talapa organizou um simulacro eleitoral, em que indicaram o antigo genro de Paúnde, e a filha de Margarida Talapa, Anchia Talapa, como secretária. Concorrendo sozinho, o antigo genro de Paúnde, Pedro Cossa foi eleito com apenas 18 votos, e os restantes cerca de 70 membros votaram em branco. Mas Paúnde deu ordens para se anunciar os votos em branco como sendo votos a favor de Cossa, e os 18 votos em Cossa como sendo votos em branco, para credibilizar a farsa eleitoral.
Desde lá, a OJM passou a ser uma organização que cuida dos interesses do triunvirato Guebuza, Paúnde e Talapa, instalando-se uma contestação geral. O “Canalmoz” sabe que havia uma proposta elaborada pela ala de Guebuza para alargar a idade limite de militância na OJM dos actuais 35 para 40 anos, para acomodar o grupo de Edson Macuácua e controlar bem a instituição. Tal propósito ainda não está posto de lado.
A reunião de sábado deverá servir para o lançamento das candidaturas para o posto de secretário-geral, visto que o actual secretário-geral antigo genro de Paúnde termina o mandato em Novembro. Mas Cossa pretende recandidatar-se.
Segundo soube o “Canalmoz”, Filipe Nyusi e Guebuza estarão presentes. Deverá ser uma reunião muito difícil, tendo em conta que os genros e filhos do “grupo Talapa” serão oficialmente contestados, com exigência da reposição da legalidade. Poderá também ser contestado o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), organização do Estado controlada pela Frelimo.
O CNJ é actualmente dirigido por Manuel Formiga, que também vem da família do triunvirato. É genro de Margarida Talapa, porque é casado com Anchia Talapa, filha de Margarida Talapa, chefe da bancada da Frelimo.
O “Canalmoz” está a par de movimentações do actual elenco de Pedro Cossa, com vista a dificultar o acesso a muitos jovens à sala da reunião para efeitos de votação ou debate sobre todos estes problemas. Há vários membros do Comité Central da OJM que ainda não receberam o convite.
CANALMOZ – 10.04.2015