Escrevo este post com os olhos encharcados em lágrimas pois a dor que sinto ultrapassa qualquer limite de contenção emocional. Moçambique foi ultrajado! A minha terra, o meu país foi atacado no mais sensível ponto da sua dignidade: O orgulho nacional.
Pranteio perante este facto pois as facas, catanas, paus, pistolas que tornam os meus irmãos em animais selvagens em perseguição, atacam-me e ferem igualmente a minha dignidade. Ferem aquilo que dentro de mim me faz levantar, andar, batalhar, sofrer todos as dificuldades, toda a troça, o escárnio, que entretanto tenho vencido erguendo-me sempre em prol da defesa dos interesses nacionais e disto não abro a mão em nome da dignidade pessoal, da identidade moçambicana pois acima de tudo, amo o meu País!
Quando pela televisão e redes sociais observo a barbárie que tem sido alvo os nossos compatriotas, sinto na verdade o quanto o ser moçambicano está sendo vulgarizado, o quanto pertencer a este hospitaleiro e pacífico povo/país significa ao mesmo tempo ser alvo fácil para qualquer um nos atacar.
É a primeira vez que vejo a minha identidade nacional a ser velipendiada de forma a que ela mesma nem consiga se defender.
Falamos muito da auto-estima, do valor da mocambicanidade mas os nossos inimigos há muito que olham isto como retórica desfazada de significado prático e atingível. A facilidade como o nosso coração identitário foi atingido revela que nenhum momento tivemos anticorpos de identidade a altura de nos livrar de qualquer tentativa de ataque.
Quando anos atrás moçambicanos foram mortos pela mesma mão xenófoba e insensível, qual foi o papel desta auto-estima? Qual foi a acção que foi tomada para nos protegermos a médio e longo prazo do pecado de apenas sermos pobres de material mas abastados de espírito de trabalho? O que realmente a moçambicanidade fez para que actos daquela natureza não se repetissem? Que se fez para que ser moçambicano fosse mais do que ser portador do DNA geográfico?
As acções do nosso Estado, embora existentes, pouco tem contribuído para que ser moçambicano seja algo realmente pelo qual se possa orgulhar. A vergonha da corrupção, a vergonha do enriquecimento ilícito, a vergonha da divisão interna motivada por politiquismos baratos e fúteis, a vergonha de serviços de saúde, educação, segurança nas mãos de mercenários da causa, a vergonha da marginalização daqueles que amam o País mas não podem ser úteis por não alinharem das ideologias políticas, a vergonha do nosso gáudio pela miséria de outrem, a vergonha da falta de carácter e competência de grande parte do funcionário público, a vergonha de falta de sentido patriótico de cada vende-pátria e outros males, fazem com que ser moçambicano seja algo que meta pena, que meta dó.
Em nada adiantam os nossos choros pois sabemos que amanhã, ao acordarmos, e quando ninguém mais falar da xenofobia, seremos os primeiros a continuar a desconstruir a nossa atitude de defesa dos interesses da pátria.
Alguns dos nossos governantes tomarão medidas mais decadentes, em benefício próprio, destruído o pouco da vergonha, do pudor que nos sobra como moçambicanos e aí, quando os outros povos descobrirem que somos mais frágeis e penetráveis que o próprio vento, vir-nos-ão à carga e a nossa saga de ranger de dentes reiniciará o evitável ciclo vicioso.
É hora do Estado acordar deste sono profundo. É hora do Estado, do Governo abrir mãos de futilidades afectivas, ideológicas, partidárias, religiosas, étnicas, culturais, raciais e valorizar a riqueza humana interna que, sem dúvidas, será uma alavanca de respeito e consideração deste País por aqueles que se fazem amigos quando precisam de nós, enquanto carregam em si sentimentos de ódio e repulsa por nós.
A melhor forma de retaliar a estes actos e exactamente criar condições neste País. Identificar prioridades e investir nelas, sem esperar ter ganhos ilícitos ou comissões, formar tecnicamente os nossos jovens, buscar parcerias para a industrialização do país, mecanização da nossa agricultura, etc o que poderá baixar a dependência de mão de obra, a dependência técnica para transformar o gás, a energia eléctrica, etc, caso contrário continuaremos a ser apenas hospitaleiros e pacíficos para aqueles que aproveitam deste nosso modus vivendi actual para nos ultrajar.
Evaristo Mintine Jaime Maússe- Estudante Universitário
(Recebido por email)