O BANCO Mundial desrespeita com frequência as suas próprias regras sobre a protecção de pessoas em detrimento dos projectos que patrocina e com consequências devastadoras para as populações mais vulneráveis, refere uma investigação divulgada na semana passada.
Um trabalho de investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla inglesa), do diário digital norte-americano “The Huffington Post” e 20 outros parceiros mediáticos, concluiu que pelo menos 3.4 milhões de pessoas foram física e economicamente afectadas desde 2004, em particular, através de deslocações forçadas devido a projectos apoiados pelo Banco Mundial.
Considerado o mais prestigiado credor dos países em desenvolvimento, o Banco Mundial financia anualmente centenas de projectos governamentais com o objectivo de “combater a propagação da pobreza através do apoio à construção de sistemas de transporte, centrais eléctricas, barragens e outros projectos”, teoricamente dirigidos às populações mais pobres do planeta.
No entanto, os trabalhos de investigação divulgados desde o dia 16 deste mês pelo “Huffington Post” (http://projects.huffingtonpost.com/worldbank-evicted-abandoned) denunciam o “rasto de miséria” que os projectos patrocinados pelo Banco Mundial impuseram em diversas regiões do mundo.
Barragens, centrais eléctricas e outros projectos apoiados pela instituição financeira forçaram milhões de pessoas a abandonar as suas casas, as suas terras ou a colocar as suas vidas em perigo, sustenta a investigação citada pela LUSA.
A primeira Reportagem, divulgada no dia 16 último, relata as condições de comunidades indígenas do oeste do Quénia que dizem ter sido forçadas a abandonar as suas florestas ancestrais devido a um programa de conservação do Banco Mundial.
Este projecto mediático também indica que o Banco Mundial e a International Finance Corp. (IFC, membro do Grupo Banco Mundial e a maior instituição de desenvolvimento global voltada para o sector privado nos países em desenvolvimento) financiaram governos e companhias acusados de violações dos direitos humanos, incluindo violação, rapto, assassínios e tortura. Em alguns casos os credores continuaram a financiar estes responsáveis após terem sido divulgadas provas de abusos.
A investigação permitiu ainda detectar que entre 2009 e 2013 os credores do Grupo Banco Mundial canalizaram 50 mil milhões de dólares em projectos que resultaram num elevado risco de impactos sociais e ambientais “irreversíveis e sem precedentes” e que duplicaram em relação ao anterior quinquénio.
A equipa global coordenada pelo ICIJ congrega mais de 20 organizações mediáticas, incluindo o The Huffington Post, The Guardian, El País, Fusion, o GroundTruth Project, o Investigative Fund, a Agência Pública do Brasil ou o BalkanInsight.com, entre outras.
Estas reportagens serão publicadas num “microsite” divulgado pelo “Huffington Post” e que também inclui fotografias e vídeos de comunidades deslocadas em todo o planeta.
NOTÍCIAS – 24.04.2015