Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Por que te preocupas com pessoas dotadas de vazio, desprovidos de conteúdo? A melhor forma de lidar com os insignificantes é ficar indiferente para com as suas intentonas. Vêm melhor os que fingem que não vêm, porque não produzem inimigos. Inteligentes que fingem ser brutos, raras vezes produzem inimigos. E o silêncio é uma das terapias face aos detractores que emergem e pululam como cogumelos em solos propícios.
” Extraído de uma conversa com o amigo Nkulu
1. Realeza britânica versus Mugabe
Se a bússola médica não falhar, nasce este mês o novo bebé da família real britânica, sem dúvida um grande presente para os progenitores, o príncipe William e Kate. Até aqui não tenho nada contra o nacimento de qualquer bebé, seja ele um príncipe de Londres, um pé descalço, favelado, do gueto do Chamanculo, do “Canongola suja”, da Carrupeia ou Namicopo, do Brandão, do Inhamudima, do Chalambe, é mais uma massa pensante que contribuirá, que assim seja, para o endireitamento deste autêntico “Vale de Lágrimas”.
O que me cria uma revolta e indignação é a loucura da sociedade que, por causa do nascimento de um rebento da realeza britânica, perde à estribeira, um surto emocional que se repete e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já devia decretar incluir na lista enfermidades. A sociedade deixou de reagir às mortes e outras hecatombes na Síria, no Iraque, no Mar Mediterrâneo, na Somália, no Sudão, na Ucrânia, para apostarem o nome, sexo, peso, nome dos padrinhos, cor do cabelo e dos olhos, e até a hora do nascimento do(a) petiz.
Que me dera se essa sociedade capitalizasse o mesmo esforço para as crianças do mundo inteiro que carecem de uma ramada, uma aspirina, um boneco, enfim, alguns vinténs, que em vez de serem gastos na superfluidade, serviriam para aliviar a dor da pilula amarga desta vida maldita. O mundo está mesmo a acabar, pois não se percebe como é que tanto dinheiro é gasto em coisas levianas, como nascimento, aniversário, casamento de um príncipe, quando há centenas de milhares de pessoas a morrer de fome. É caso para dizer “As gargalhadas dos ricos fazem silenciar os gritos dos pobres”.
Alguns órgãos de informação como a imprensa escrita, televisiva e áudio deixam de reportar situações gritantes de pobreza e promovem o apartheid, porque nunca foram capazes de dar a mesma atenção ao nascimento de uma criança num berçário de Afeganistão, Iraque, Síria, etc. Mas sabem criticar quando o presidente Mugabe (herói africano) comemora seu aniversário e come à tripa-forra com o seu maravilhoso povo. Que mal faz Mugabe? Nenhum. Apenas está a equilibrar a balança. Está claro que há fortes interesses desses órgãos de comunicação social para o derrubar do poder.
2. Xonofobia
A África do Sul voltou a maltratar os seus “hóspedes” com actos xenófobos. Entre as vítimas, estão nossos compatriotas.
Os sobreviventes relatam episódios tristes de mortes, agressões e violações, chegando a atribuir a sobrevivência à providência divina. Não faltou aviso, sempre disse que os problemas da África do Sul estão congelados e que é preciso corrigir. Muitos preferiram desferir-me ataques, como sempre o fizeram, ignorando os sinais do tempo. O apartheid e o jacobinismo foram adormecidos, nunca desapareceu.
A sociedade sul-africana preferiu homenagear seus líderes, vibrar um falso pacto entre antigos senhores e servos, cimentado pelo oculto ódio e rancor, aplaudindo o crescimento económico, mas também sonegando a situação da pobreza generalizada, o escape só podia ser os estrangeiros. O “não à xenofobia” durou pouco, porque não interessa chamuscar os vizinhos, os compadres, os amigos, os cunhados, os primos, os compatriotas, etc.
Com o acto xenófobo, o normal era levar os líderes sul-africanos ao Tribunal Penal Internacional (TPI), porque são eles os verdadeiros culpados. Se um cão me morder não vou pedir contas ao cão, mas sim ao dono que o alimenta. A sociedade consegue encher um espectáculo musical, os comícios de quem pretende dividir o país, mas não consegue encher e participar de punho cerrado a uma manifestação de repúdio, dizendo fervorosamente não à xenofobia à hierarquia máxima da Embaixada sul-africana em Maputo. A União Africana, a SADC e outros organismos internacionais (porque este é um caso de direito internacional) estão complacentes. O silêncio cobarde desses organismos assusta-me.
3. Pingue-pongue Frelimo versus Renamo
Ainda há gente que acredita que a Frelimo vai ceder às exigências da Renamo na criação de regiões autónomas.
Terá que esperar sentado. A Frelimo pode ter entrado em metamorfose, jamais irá permitir desvirtuar a raiz da causa da sua luta pela independência nacional: libertação do homem e da terra. Ceder regiões do país à Renamo significaria dar ao lobo a chave do galinheiro.
Seria uma autêntica descida ao alçapão aceitar tal exigência. E não esperem que Filipe Nyusi possa “trair” o seu partido, assinando pactos favoráveis ao partido liderado por Afonso Dhlakama. A Renamo sabe muito disso, embora continue a fabricar sonhos ao seu eleitorado. Aliás, foi por isso que a “perdiz” aceitou (e ainda bem) tomar posse, sob pena de alguns dos seus deputados enfrentarem problemas de estiagem estomacal. Outro erro estratégico são as exigências da Renamo no Joaquim Chissano, evidentemente não beneficiarão a “perdiz, como alguns agouram, mas sim a Frelimo, que tem a caravana a andar.
Naquele “ringue”, o único partido que sairá com mazelas é a Renamo que está em situação de desvantagem.
Resta apenas a Renamo, este é o meu apelo, unir-se ao governo no processo de desenvolvimento do país, caso contrário, arrisca-se a iminente revolta sobretudo dos seus homens armados. Zicomo (obrigado).
WAMPHULA FAX – 27.04.2015