Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“Nunca viste equipas de futebol que fazem festa por estar em décimo segundo lugar na classificação final? Basta não descer de divisão. Ambição curta. É assim que a Renamo actua politicamente, mantendo-se, eternamente, na oposição.” Extracto de uma correspondência com amigo Nkulu
Só um milagre do criador pode fazer desarmar a Renamo. Nem o apelo do Santo Padre no Vaticano, nem os esforços do governo moçambicano, conseguirão desfazer a mentalidade belicista da Renamo. Por mais que se diga o contrário, enchendo os discursos com palavra paz, a guerra é algo que está no ADN da perdiz. Por onde quer que passe, na esteira daquilo que devia ser o contributo democrático do seu partido, Afonso Dhlakama irradia mensagens de terror, armando ou formatando mente de alguns moçambicanos, para a guerra contra Moçambique.
Tanto quanto sei em matéria de defesa e segurança, o factor decisivo numa guerra não é o armamento bélico, mas sim o “bicho Homem”, que está dotado do único e mais sofisticado de todos os armamentos militares. A mente humana é verdadeiramente poderosa e a mais perigosa que qualquer outro tipo de arsenal militar. Em outras palavras, a Renamo está a avolumar o seu exército, envenenando a opinião pública com mensagens hostis, para depois desencadear o golpe de Estado em Moçambique.
O ultimato de 60 dias (dois meses) que concedeu ao governo é prova inequívoca de que a perdiz não está interessada no processo de desenvolvimento do país, na manutenção da paz, nem na unidade nacional. Não haja dúvida, amigo leitor, qualquer acção belicista da Renamo afecta sobremaneira a qualidade de vida do povo moçambicano que, muitas vezes, diz amar. Quem ama magoa? Quem ama mata? Está a falar verdade Afonso Dhlakama quando diz que a Renamo tem capacidade para destruir o país, usando a velha táctica de guerrilha, só que desta vez usará a multidão de homens e mulheres civis (que povoam os seus comícios) para tomar o poder à força.
O aviso já foi dado, irão correr com os secretários dos bairos, os administradores distritais e os governadores provinciais, para instituir as propaladas regiões autónomas nas autarquias províncias ganhas pela Renamo. Ao pretender levar a cabo uma revolução renamista, a partir de Maputo, Dhlakama está a passar a mensagem de que tomará o poder à força, ocupando os órgãos de soberania do Estado. Os avisos de Dhlakama são para serem levados a sério, numa altura em que as conversações na Joaquim Chissano continuam estagnadas, deixando o país num fio da navalha.
Goste-se ou não, Afonso Dhlakama é ´um génio militar, facilmente consegue
despistar e neutralizar os seus “inimigos”, tal como fez ao mudar-se para Nampula. Enquanto a opinião pública o diabolizava e o governo subestimava as suas palavras, ele reforçava o seu arsenal militar. A partir da sua toca, em Santungira, comandou uma guerrilha que ameaçou (re) colocar o país de cócoras. Em cada pedaço de terra, em cada alma, nas páginas da nossa história, lá está, indelével, a triste memória da liça entre a Renamo e as forças governamentais.
A ideia de “acarinhar” Afonso Dhlakama pode ser óptima, não fosse ele um ancião que gosta de atenção permanente.
O seu comportamento político igualha-se a de uma mariposa voando em volta da luz. Quando a luz se apaga, perde à bússola, não sabendo o que fazer nem o que dizer. Tal acarinhamentonão deve significar, em circunstânciaalguma, à violação da Constituiçãoda República (CRM), pois ninguém está acima da lei.
De facto, só precisa de aparência quem não tem competência. Receioque não tarde muito para que Dhlakamaperca o seu estatuto de “líder da oposição”e até mesmo o de herói nacionalque ainda conserva (tendo em conta alei da amnistia), caso continue a fermentara ideia divisionista do país. Sinceramente,não gostaria de ver um dosobreiros da paz e actor principal da políticanacional passar de bestial para besta,se bem que já passou a linha vermelha.
Dhlakama deve, por isso, aposentar-se com dignidade no lugar de semear incertezas quanto ao futuro do país. Já não tem mais 20 anos para trepar montanhas e sacudir mosquitos nas trincheiras da guerra. Com a idade que tem, acima de 60 anos, deve dedicar-se inteiramente a cuidar dos netos e a aconselhar, democraticamente, o seu partido, levando o país a bom porto.
Se calhar o mal de Dhlakama é pensar que tem o monopólio de matar. Que pode matar, pois será benzida pela Frelimo.
Sim, a Frelimo, que tem sido complacente ao admitir que o diferendo político com a Renamo se alastre por longos e dolorosos anos e que, por culpa desse desentendimento político, vidas humanas são choradas no país. É pensar errado, porquanto como líder da Renamo, ser-lhe-ão imputadas responsabilidades.
Para as coisas do mal, dizia um amigo, o diabo tem o seu tempo e seguidores, mas há sempre uma hora de Deus.
O meu Zicomo a todos (obrigado).
WMPHULA FAX – 25.05.2015