Meio século depois do encerramento da Casa dos Estudantes do Império (1944-1965), Lisboa acolhe esta semana a homenagem à "casa" que juntou milhares de estudantes, na sua maioria oriundos das antigas colónias portuguesas, e que gerou muitos dos mais destacados lutadores pela liberdade e independência dos respectivos povos.
Meio século depois do encerramento da Casa dos Estudantes do Império (1944-1965), Lisboa acolhe esta semana a homenagem à "casa" que juntou milhares de estudantes, na sua maioria oriundos das antigas colónias portuguesas, e que gerou muitos dos mais destacados lutadores pela liberdade e independência dos respectivos povos.
O colóquio internacional "Casa dos Estudantes do Império: histórias, memórias, legados" e a exposição "Casa dos Estudantes do Império. Farol de Liberdade", na Galeria dos Paços do Concelho, na Praça do Município, em Lisboa, a inaugurar quinta-feira, dia 21, são o destaque de uma programação ampla começada já em finais do ano passado.
Pela Casa dos Estudantes do Império, instalada durante cerca de duas décadas num antigo edifício ao Arco do Cego, na capital portuguesa, passaram nomes como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Joaquim Chissano, Miguel Trovoada e tantos outros, combatentes anónimos dos movimentos de libertação, muitos já desaparecidos.
"A Casa cedo subverteu as expectativas oficiais de um corpo obediente e alinhado com a ideologia imperial. Se o grupo fundador tinha simpatia do e pelo regime, a maioria dos elementos das direções eleitas que se seguiram contestou a ditadura e o colonialismo. Pela Casa (ou melhor pelas Casas) passaram jovens de diferentes proveniências geográficas, de diferentes etnias, origens sociais,
culturais e económicas, de diferentes religiões e com diversas posições político-ideológicas. Juntos defenderam a liberdade e a independência da Casa num país fascista", lê-se na apresentação do evento comemorativo organizado pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA).
Muitos deles viriam a participar nas lutas de libertação nacional, alguns dos quais em posições de destaque como militantes e dirigentes, outros como participantes na construção dos novos países africanos independentes. Pela Casa dos Estudantes do Império passaram também muitos portugueses que ali forjaram laços de solidariedade e de amizade que se manifestaram de muitas formas ao longo dos anos de luta contra o regime colonialsita e fascista e, mais tarde, na construção das independências dos novos países.
Meio século volvido, a homenagem que se faz necessária para que a história, com testemunhos vivos, não seja esquecida, nas palavras de Vítor Ramalho, secretário-geral da UCCLA, durante encontro, nesta quarta-feira, com jornalistas e apoiantes do evento.
Além de painéis centrados na evolução e no papel histórico da Casa dos Estudantes do Império, o programa do Colóquio incide sobre temas que estão a montante e a jusante da Casa e se interligam.
O império português, o Estado Novo, e a cena internacional instituída no final da Segunda Guerra Mundial, concretamente a era das descolonizações; a situação colonial nas sociedades de onde provinham os estudantes associados da CEI; as questões que estiveram na origem da contestação ao colonialismo pelos estudantes oriundos do espaço imperial, tais como o trabalho forçado, as restrições aos direitos sociais, económicos e políticos, a educação, a emergência dos modernos nacionalismos asiáticos e africanos estarão em debate, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, nos dias 22, 23 e 25 de maio.
Historiadores, sociólogos, cientistas políticos e ex-presidentes e dirigentes dos novos países de língua oficial portuguesa estarão reunidos na capital portuguesa para lembrar a Casa dos Estudantes do Império, mas, sobretudo, segundo os organizadores, "para contribuir para leituras da história atentas ao mundo, às circulações e aos (des)encontros, capazes de desfazer preconceitos (mormente uma visão eurocêntrica da CEI), a ilusão do unanimismo(ausência de contradições e conflitos internos) e o mito da excecionalidade da Casa no contexto internacional".
PORTUGAL DIGITAL – 19.05.2015