A recente e mega apreensão de 340 pontas de marfim, equivalentes a 1.160 quilogramas, e 65 cornos de rinoceronte, com um peso estimado em 124 quilogramas, num condomínio de luxo em Tchumene, no município da Matola, onde vivia um cidadão de nacionalidade chinesa, deixou claro que as soluções para a caça furtiva não terão lugar tão brevemente como seria de desejar. A qualquer momento, todo o trabalho com vista a refrear-se este mal poderá não fazer sentido porque em Moçambique não restará nenhum elefante para “contar a história”.
Porque, afinal, os chineses, os sul-coreanos, os tailandeses e os vietnamitas, por exemplo, estão cada vez mais, directa ou indirectamente, envolvidos no abate de paquidermes e rinocerontes no país? Se a resposta à questão for o alto valor comercial das pontas de marfim e dos cornos, então, quem é que protege estas redes de criminosos? Como é que entram em Moçambique e em casa de quem se hospedam? Quantos estrangeiros cumprem penas por isso?
Na África do Sul, no Brasil e no Malawi e até na Ásia temos milhares de moçambicanos a cumprirem penas pesadas por prática de vários crimes, segundo a Procuradoria-Geral da República. Quantos estrangeiros cumprem penas em Moçambique devido ao tráfico de marfim e cornos? Porque custa às autoridades punir severamente aqueles que lesam a nossa economia ou que se esforçam para que no futuro recorramos a imagens para mostrarmos aos nossos filhos que no seu país já houve elefantes e rinocerontes?
Com o abate de um rinoceronte aqui, outro ali e outro ainda acolá, perdemos esses animais como se fosse brincadeira. As mesmas acções foram e são perpetradas contra com os elefantes que, pese embora ainda possamos ver, em número diminuto nos seus habitats no país, sabemos que ao fim e ao cabo eles se vão extinguir e não falta muito tempo para que tal aconteça.
Esses animais, que se tornaram uma fonte de negócio ilícito das redes criminosas, não chegaram a Moçambique vindos de alguma selva ou por perdição. Foram rios de dinheiro investido, mas que, hoje, se torna uma fortuna esbanjada ou deitada num saco roto. Para que efeito, afinal, o Estado gastou tanto dinheiro?
O tráfico de pontas de marfim e cornos de rinocerontes não é um negócio de hoje em Moçambique. Excepto um número bastante reduzido de moçambicanos, alguns dos quais caíram nas malhas dos caçadores furtivos movidos pela necessidade de tirar a barriga da miséria, encarcerados por ligação com o tráfico de pontas de marfim e cornos, onde estão os estrangeiros que no passado foram presos em conexão ou na posse desses produtos? Que penas estão a cumprir e em que cadeia? Quantos estrangeiros cumprem penas em Moçambique por caça furtiva ou tráfico de pontas de marfim e cornos de rinocerontes?
@VERDADE – 15.05.2015