ANDRÉ Matsaingaíça, antigo combatente da luta de libertação nacional, com a Independência Nacional, assumiu cargo de destaque no controlo de equipamento militar no principal quartel das Forças Armadas de Moçambique (FAM’s), na província de Sofala.
São inúmeros os relatos que se fazem em torno desta figura, que viria a ser o rosto do movimento rebelde que mais se transformaria em Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Os relatos variam da pessoa que os faz e da ideologia defendida.
Diz-se, pois, que André Matsangaíça teria tido um desentendimento com os seus chefes hierárquicos, acabando por abandonar as FAM’s, com um enorme grupo de militares que na altura estavam sob sua alçada num campo de treinos algures na província de Sofala.
Teriam sido estes mesmos homens acantonados nas matas, onde o treino militar esteve mais virado para a guerra de guerrilha, em perspectiva confronto com o Exército governamental.
Muitos destes elementos que constituíram o primeiro grupo armado rebelde de Matsangaíça, saíra em autocarros a partir do quartel de Boane, na província de Maputo, com destino ao centro de treino de Dondo, província de Sofala. Mas viria a ser desviado ainda em período de treinamento intensivo, com o envolvimento de peritos militares (instrutores) tanzanianos.
Os instrutores tanzanianos não sabiam, sequer, que os duríssimos treinos militares que estavam a orientar aos moçambicanos, estariam sob o controlo de Matsangaíça, que tinha no horizonte a ideia rebelde de virar os canos contra o novo poder em Moçambique.
Com André Matsangaíça e o grupo de militares altamente treinados, fugiram outros quadros de nomeada das FAM’s, tomados pela necessidade de dar volta à política supostamente discriminatória na altura em voga nas fileiras do Exército Nacional, onde esmagadora maioria dos seus integrantes eram produto da guerra colonial portuguesa, que culminou com a assinatura do entendimento (Acordo) de Lusaka, entre a representação da Frente de Libertação Nacional de Moçambique (Frelimo) e a contra-parte portuguesa.
André Matsangaíça, que numa primeira fase era reconhecido o seu papel combativo que o levaria a içar, pela primeira vez, a bandeira da República Popular de Moçambique em pleno Estádio Salazar, no dia 25 de Junho de 1975, mais tarde, se calhar devido à sua rebeldia, passou a ser discutida a autenticidade da imagem que chegou a ser nota dominante no Metical, a moeda moçambicana, de onde viria a ser retirada no âmbito da revolução levada a cabo no Metical.
Fundador da Renamo, André Matsangaíça viria a ser substituído por Afonso Dhlakama, que prosseguiu com a guerra rebelde, assinando em Outubro de 92, Acordo de Paz, com Joaquim Chissano.
20.05.2015
* Série publicada no Jornal Expresso de Maputo
(Foto de Pedro Marangoni)