A HISTÓRIA da nossa luta ainda pode ser ainda mais enriquecida à medida que novos actores forem descobertos.
Recentemente, a nossa Reportagem procurou falar com gente que, tendo estado na frente da batalha pela libertação do país, nunca tinha partilhado nada, publicamente, sobre a sua participação na epopeia que trouxe uma das maiores conquistas há 40 anos: a independência nacional.
O planalto dos makondes, de que fazem parte os distritos de Muidumbe, Mueda e Nangade, é onde, com o tempo, qualquer interessado pode “beber” as diferentes estórias da nossa História, a custo zero, e a predisposição dos principais actores é tal que até se ofereceram para hospedar o repórter para contar as entranhas da luta que trouxe a independência.
Os episódios da nossa história foram recolhidos nas antigas zonas libertadas, onde o Exército colonial não ousava chegar, desde meados de 1965, quando a guerra popular já era uma realidade, criando assim regiões inexpugnáveis à tropa portuguesa.
Não são figuras que o país foi conhecendo ao longo dos anos após a era libertária, umas por causa do papel que assumiram na governação, outras porque estiveram simplesmente expostas aos holofotes mediáticos nas grandes cidades conquistadas pelo poder popular. Mas sim fazem parte - e boa parte - dos fazedores da independência que, na verdade, ainda têm muito a contar e vivem nas aldeias dos distritos acima indicados e não só.
Dizem que a aparente modéstia da vida que levam hoje não se pode comparar com a subjugação colonial. Chegaram mesmo a afirmar que um dos frutos da liberdade é, a título de exemplo, estar a falar com o repórter durante mais de uma hora sem que apareça alguém para perguntar ao outro onde nasceu. É o valor da unidade nacional.
Os veteranos da luta de libertação nacional não acreditam na possibilidade da divisão do país porque, na sua opinião, isso seria a desvalorização total do esforço de quem consentiu sacrifícios inqualificáveis para que o país ficasse independente e, conforme defendem, a luta armada não se travou porque “somos amantes da violência”. Havia objectivos claros, para lá da simples expulsão do poder estrangeiro dominante: a unidade nacional e a paz, para que com essas condições Moçambique pudesse se desenvolver.
Eduardo Chivambo Mondlane é lembrado cada vez que se levanta a questão da divisão do país. Quem sabe mais que o Dr. Mondlane, que pretende contrariar o seu pensamento? Ao que tudo indica a qualificação de Doutor, entre os combatentes, só se aplica ao arquitecto da unidade nacional.
“Hoje, todos são doutores, mas para nós esse título só se aplica a Eduardo Mondlane”, dizem, com alguma obsessão e nostalgia, sobretudo para condenar todas as formas visando desvirtuar os ideais por que aquele lutou e conseguiu convencer a gesta libertadora, aglutinando-a à sua volta.
Se Moçambique é pátria de heróis, como não se cansava de dizer Armando Guebuza, antigo Presidente da República, há, no entanto, que destacar o facto de num perímetro ocupado por apenas três distritos, encontrarmos pelo menos três heróis nacionais até aqui reconhecidos.
Muidumbe é terra de Tomas Nduda, cujas entranhas e peripécias da sua vida nos remetem àquela região que dista pouco mais de 300 quilómetros da capital provincial de Cabo Delgado, Pemba.
Chega-se à região de Nduda, aldeia de Nampanha, depois de uma picada, reparada na semana em que ele foi homenageado, em Março de 2008. Da antiga sede do distrito, Muambula, fazem-se cerca de 8 quilómetros para lá se chegar.
Uma aldeia, bela e muito bem concebida, mas depois abandonada, após ser ocupada por guerrilheiros da Renamo, em 1989. As comunidades refugiaram-se então na sede do distrito, em Muambula, pois noutras aldeias, nomeadamente Namacula, Mapathe e Mandela, a situação era a mesma. Hoje, paulatinamente, está a ser repovoada e a recuperar muito da sua beleza: ruas largas, exuberantes árvores de sombra e de fruta, principalmente laranjeiras.
As casas que voltaram a preencher a aldeia têm algo em comum: Uma cobertura de chapas de zinco em resultado da aplicação do dinheiro das pensões que os antigos combatentes recebem mensalmente e cujo valor é em função da categoria com que determinado ex-guerrilheiro ficou na altura da desmobilizado.
AS CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE DE TOMÁS NDUDA
SEGUNDO dados divulgados por ocasião da sua homenagem, Tomás Nduda integrava a 11 de Outubro de 1967 um grupo de combatentes da FRELIMO que tinha a missão de atacar e assaltar o posto de Diaka, Mocímboa da Praia, visto como representando um obstáculo à progressão da luta de libertação nacional.
Este ataque vitorioso significou a abertura de um corredor para novas regiões e um ensaio, algo sucedido, da combinação entre a infantaria, comandada por Tomás Nduda, e a artilharia, especialidade sob direcção de Cipriano Saleça e Pedro Seguro.
Estes factos levaram a que Nduda fosse indicado chefe das operações do Destacamento Inhambane, cargo que exercia cumulativamente com o de adjunto-comandante do mesmo, que era chefiado ao mais alto nível por Daniel Polela.
Deste modo, depois da vitória alcançada em Diaka, o passo seguinte era a Missão de Nambude, Mocímboa da Praia, que o Exército colonial havia, com o recrudescimento da luta armada, transformado em quartel, constituindo deste modo um bloqueio à penetração dos combatentes da FRELIMO na região e a sua localização no centro da comunidade, usada como escudo humano pela tropa colonial.
A batalha de Nambude foi comandada por Daniel Polela, como se diz, com o objectivo claro de - como era o forte de Tomas Nduda - atacar e assaltar os aquartelamentos do inimigo.
Na madrugada do dia 23 de Março de 1968, às 4.30 horas, um chefe de artilharia de nome Chande deu ordens para se abrir fogo. Tratou-se, na verdade, de uma combinação entre a artilharia e infantaria, conforme recordam os guerrilheiros que nela fizeram parte.
Tomás Nduda ter-se-á aproximado do arame farpado que servia de vedação da unidade militar portuguesa. Ele e os outros combatentes cortaram o arame e entraram no aquartelamento. Foram aos abrigos e quando lá chegaram estes estavam abandonados. Afinal, os inimigos haviam subido nas mangueiras, escondidos, e dispararam para os alvos em baixo.
Crisanto Mitema, Matias Chata, um outro combatente, cujo nome não conseguimos apurar, e Nduda, foram atingidos. Este último caiu sobre uma trincheira e, na tentativa de recuperar o seu corpo, foram feridos mais dois combatentes. Ele morreu no local, tendo sido os portugueses a sepultá-lo em Nambude.
Assim, Tomás Nduda passou para a história do nosso país como um dos destemidos combatentes pela liberdade que se juntou a outros tantos que na região do planalto de Cabo Delgado são muitos, mas que é difícil encontrá-los pois, conforme dizem de boca cheia, “o país não nos deve, cumprimos a nossa missão”.
No entanto, as forças guerrilheiras sempre avançaram. Um primeiro-cabo português, de nome Fernando dos Santos Rosa, foi capturado.
Para se ter a ideia de como quase toda a região é de heróis, cuja contribuição para o processo de libertação - basta que se diga que mais 13 quilómetros de Nampanha, terra de Tomás Nduda - está Muatide, aldeia do herói Romão Fernandes Farinha.
Na verdade, a localização geográfica de Muatide, localidade do posto administrativo de Miteda, distrito de Muidumbe, onde nasceu o herói Romão Fernandes Farinha, não dá poucas hipóteses de que fosse possível, nos últimos 40 a 50 anos, procriar filhos que não estivessem à frente do processo de libertação de Moçambique, entregando a sua vida, juventude e todo o seu saber para que o país chegasse à independência de que hoje desfrutamos.
Trata-se de uma zona que viria a influenciar o resto da região planáltica dos macondes, constituída pelos distritos de Mueda, Nangade e o de Muidumbe.
Embrião e acolhedor de todo o processo de libertação, o distrito de Muidumbe, cada dia que passa, revela-se, perante a história, como o centro da nossa emancipação política, através da luta armada, tendo chegado a ser, quase na sua totalidade, uma zona libertada, em plena guerra colonial.
A três quilómetros de Muatide situava-se uma outra base, a de N’tchinga.
O TRIÂNGULO DOS HERÓIS
É em Muatide onde se localizava o primeiro hospital da FRELIMO, nas zonas libertadas, baptizado com o nome de Zambézia. Hoje, é o único centro de saúde do distrito de Muidumbe. A povoação está ligada ao centro-piloto de Luanda, que formou muitos quadros que viriam a assegurar as várias frentes de desenvolvimento do país depois da independência. Hoje é uma escola secundária.
Trata-se, afinal de contas, de um dos vértices do triângulo feito de heróis, que é o planalto dos makondes, que inclui os distritos de Mueda, Nangade, para além, obviamente, do próprio Muidumbe, o depositário imbatível, em número de heróis e antigos combatentes da luta de libertação nacional. É difícil, em Muidumbe, encontrar quem não seja antigo combatente ou dele descendente.
O cemitério da família do herói Romão Fernandes Farinha está perto do local - igualmente histórico – donde, no dia 16 de Junho de 1960, um grupo de moçambicanos, sob liderança do trio Faustino Vanomba, Chibiliti Vanduvane e Modesta Neva, partiu para a reunião na sede da circunscrição de Mueda a fim de pedir a independência e autodeterminação, acto que culminou com o massacre que deu lugar ao início da Luta Armada de Libertação Nacional.
A aldeia onde nasceu este herói é próxima de Matambalale, que viu nascer também muitos moçambicanos ainda hoje no activo, cuja contribuição no desenvolvimento do país é inquestionável. Apenas para dar exemplo, são de Matambalale o engenheiro Baptista Cosme, a família Namashulua, o general Salésio Nalyambipano, o falecido escritor Grandel Nkepe, entre outros. Neste grupo inclui-se Marcos Moisés Lichoba, pai do nosso colega da Televisão de Moçambique (TVM), Atanásio Marcos.
A aldeia próxima, Miteda, já no limite com o distrito de Mueda, é terra da mãe do actual chefe do Estado, Filipe Jacinto Nyusi. Foi daqui que ela partiu, casada por Jacinto, da aldeia Namaua, no distrito de Mueda.
Entretanto, neste minúsculo espaço geográfico pontifica o nome de Romão Fernandes, já declarado herói nacional, nascido em 1943, na localidade de Muatide. Em 1964, Fernandes ingressou na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), ainda no interior do território, concretamente na zona de Mpanola.
A sua acção centrou-se na mobilização da população, difundindo mensagens e propaganda da FRELIMO, o que terá fortificado, por um lado, o apoio popular indispensável à guerrilha e, por outro, a adesão de mais jovens à luta armada.
Em Novembro de 1965, Romão Fernandes Farinha integrou um grupo de 48 jovens nacionalistas que rumou para treinos militares, em Sinferopol, na Ucrânia. Neste centro, especializou-se na área de Comando. Terminada a formação, Romão Farinha regressou a Dar-es-Salam em Maio de 1966.
Em Outubro de 1966, foi enviado para a província do Niassa como chefe do 1.º Pelotão da 3.ª Companhia. Na ocasião, foi incumbido a responsabilidade de garantir a segurança junto à fronteira com a Tanzania de modo a assegurar o abastecimento em material de guerra e víveres para as frentes de combate, missão que cumpriu com destreza.
Em 1967 foi indigitado chefe de efectivo provincial no Niassa. Em reconhecimento das suas qualidades. Em 1968, após a realização do II congresso da FRELIMO, foi indicado chefe provincial das operações, igualmente no Niassa, onde se terá evidenciado como um comandante corajoso, destemido e perspicaz.
As suas acções combativas contribuíram para a consolidação das zonas libertadas e para a progressão impetuosa da Luta Armada de Libertação Nacional em direcção aos redutos “fortes da tropa colonial”, no Niassa, onde viria a perder a vida, vítima de doença, a 28 de Março de 1973, na base Mepoche, região ocidental da província.
Muidumbe merece, por assim dizer, um reconhecimento para além de teórico. Porém, ainda continua como um dos distritos menos desenvolvidos de Cabo Delgado, ao lado de Meluco, Mecúfi, Quissanga e Ibo.
Nos últimos seis anos o actual administrador Rodrigo Puruque tomou uma decisão, inicialmente considerada demasiadamente ousada, de mudar a sua sede, da aldeia Muambula para Namacande, onde estivera muito antes da guerra. Agora está a nascer ali uma belíssima vila.
É aqui onde procurámos uma voz viva, muito humilde, com quem muitas vezes nos encontramos, mas que nunca soubemos que se tratava de um coronel na reserva, que deu a sua contribuição na batalha decisiva de Namatil a 1 de Agosto de 1974 e depois nas etapas seguintes de defesa da pátria e integridade nacional.
“DO ROVUMA AO MAPUTO” SIGNIFICA UNIDADE NACIONAL
A NOSSA equipa de Reportagem prosseguiu a sua viagem à procura de fontes vivas da epopeia libertária, e já no distrito de Nangade logrou conversar com três combatentes que têm memória ainda fresca sobre os contornos por que homens e mulheres passaram para que Moçambique se tornasse independente.
Manhã de domingo do dia 17 de Maio do ano corrente. Partimos de Mueda com destino a N´tamba dos Makondes, mas muito extenuados em virtude da viagem que fizéramos a partir de Pemba. Não quisemos esconder o nosso cansaço e o combatente que nos esperava pediu que descansássemos um pouco para nos revigorarmos.
No compasso de espera, ele vai avisando aos outros que constavam na nossa lista de entrevistas que o hóspede ia chegar, mas que estava a descansar por alguns momentos. O repouso era à sombra da frondosa árvore que plantou à volta da sua casa. O nosso hospitaleiro chama-se Clemente Mambole.
Depois de recompostos, a conversa começa do nada. Clemente Mambole diz que a independência que pretendíamos foi alcançada, mas urge consolidá-la, cumprindo as palavras de ordem da frente que os moçambicanos abraçaram para a autodeterminação.
“Quando dissemos do Rovuma ao Maputo, parece canção, mas estamos a dizer unidade nacional, estamos a falar de paz, estamos a falar de desenvolvimento. A independência está aqui, conquistámo-la. Eu e os outros combatentes temos o orgulho de termos feito parte dos moçambicanos que obrigaram ao nosso reconhecimento como povo e Moçambique como país”, assim começou a responder as nossas perguntas sobre os 40 anos de independência.
Clemente enumera os benefícios que a independência trouxe, para além da simples libertação do homem e da terra” porque não podemos nos distrair, esquecendo-nos que antes da independência correspondíamo-nos por via de cartas que demoravam muito a chegar”.
Para Clemente Mambole, que vive na sede do posto administrativo de N´tamba, o petróleo de iluminação era o melhor que o grosso dos cidadãos moçambicanos podia ter em casa antes da independência.
Apesar de ainda haver pontos por iluminar, a energia vinda da HCB, em Tete, já é uma realidade e há jovens empreendedores que encontram alternativas louváveis.
Por outro lado, segundo o nosso entrevistado, a paz trouxe água que no planalto sempre foi uma dor de cabeça “porque já não se procura no mato” e as casas cobertas de capim estão a dar lugar às de zinco, bem como as “cisternas caseiras” estão a ser a solução dos problemas da falta do precioso líquido nas torneiras.
“Quem diria que teríamos um hospital e escola a poucos metros de casa”, questiona o antigo combatente, para logo a seguir concluir que a independência nacional, tendo como seu principal suporte a unidade nacional, não deve ser destruída por quem quer que seja. “O moçambicano que quer destruir Moçambique, o que quer ser? Depois de dividir Moçambique, que é do Rovuma ao Maputo, ainda continuará Moçambique? É um insulto à memória de Eduardo Mondlane e falta de respeito a todos os heróis que deram a sua vida para que isso fosse possível. Mesmo sendo, porque as pessoas estão a fazer política, não devem brincar com a unidade nacional”, adverte Clemente Mambole.
O PERCURSO DE MAMBOLE
Nascido em 1958 na aldeia N´tamba dos Makondes, onde hoje vive, Clemente Mambole juntou-se ao movimento libertador, a partir do centro-piloto Maguiguana, a 34 quilómetros da sede do distrito de Mueda, em pleno Primeiro Sector da luta armada, que se estendia do rio Rovuma à estrada que liga Mueda a Mocímboa da Praia. Isso deu-se em 1967.
Em 1969, foi à frente de combate, depois de um treino em Nachingwea, sul da Tanzania. Na verdade, estaria destacado para a Base Beira, então sob comando do actual ministro da Defesa, general Salvador Anastácio N´tumuke. Esta base, considerada uma das importantes na contenção das acções armadas no âmbito da operação “Nó Górdio”, do general Kaúlza de Arriaga, situava-se a cerca de dois quilómetros na ribeira do que hoje é a aldeia N´gangolo.
Ainda lá, Clemente Mambole recebe a missão de “ir expulsar os portugueses de Nangade e colocar lá a nossa força”. Já se estava no fim da guerra em resultado dos acordos de Lusaka assinados entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e o Governo colonial português, a 7 de Setembro de 1974.
“Com a mesma missão, o camarada João Vingambude, que era do meu grupo, foi indicado para ir substituir os portugueses no quartel de Mueda”, acrescenta Clemente Mambole, que ainda revela que se seguiu à desmobilização imediata, visto que a missão de libertar o país estava cumprida.
“Não tivemos como não aceitar porque, na verdade, o nosso objectivo estava alcançado. Só mais tarde soubemos que o Governo (já o nosso Governo) se lembrou de nós, aprovando um subsídio para os antigos combatentes. Eu recebo 10 mil MT por mês, porque fui desmobilizado com a patente de capitão”, diz com orgulhoso.
Clemente Mambole tem oito filhos, quatro dos quais teve durante a luta armada e igual número depois da independência e explica como foi possível procriar em plena guerra.
“Em princípio escondíamos. Amávamo-nos às escondidas, mas chegou uma altura em que os nossos dirigentes se sentaram, avaliaram a situação e decidiram pela criação do Destacamento Feminino. Aí as coisas ficaram resolvidas, porque já se podia desenvolver uma relação entre guerrilheiros e assim muitos se casaram, digamos, oficialmente”, dissipa equívocos.
O POVO NÃO PODE SER DIVIDIDO COMO UMA BOLACHA
NA outra ponta da aldeia e sob a indicação de Clemente Mambole, fomos ao encontro de Constâncio Luís Kaluma, agora com 65 anos de idade, natural do distrito de Mocímboa da Praia, a viver em Nangade desde 1975. Ingressara na Frente em 1964 na sua terra de origem, Namagoma, hoje conhecida por Auasse.
“Vim a Nangade como professor. Depois assumi funções de primeiro assistente da então localidade de N´tamba e voltei a ensinar crianças. Portanto, de 1965 a 1975, quando fui transferido para cá, que me considero professor, apesar da ligeira paragem quando fiquei assistente da localidade”, lembra-se Kaluma.
O nosso interlocutor vê com muito agrado a celebração dos 40 anos da independência nacional, porque “assinala o fim do jugo colonial, sob o qual vivemos durante 500 anos e por causa da visão do Dr. Eduardo Mondlane, o povo uniu-se e libertou o país. Então, é preciso dizer as crianças que as coisas não foram sempre assim”.
NA ALDEIA ATÉ JÁ TEMOS PESSOAS COM CARROS
Kaluma diz que antes da independência os moçambicanos nem sequer se conheciam. O país estava sem hospitais nem escolas para os moçambicanos, o que mudou drasticamente depois do 25 de Junho de 1975.
“Hoje, mesmo aqui na aldeia há carros, de moçambicanos, há energia eléctrica, que mesmo que não tenha chegado a todos os lugares, mas em todas as sedes distritais vemos tudo a funcionar com base em energia eléctrica. Temos telefones através dos quais falamos para qualquer parte do mundo, mesmo a partir das machambas e quando há situações de emergência, como calamidades, muito facilmente nos ajudamos como irmãos”.
Perguntámos a Constâncio Kaluma, o que achava das correntes divisionistas que são propaladas por alguns círculos políticos do nosso país, ao que prontamente respondeu: “O povo não se divide como uma bolacha. A unidade faz a força, isso foi dito há muitos anos. Nós (os moçambicanos) somos respeitados e admirados no mundo. É por isso que sempre temos que recordar as pessoas, principalmente as crianças, que este país não foi sempre assim, foi necessário muito sangue vertido por moçambicanos visionários que tinham à frente o Dr. Eduardo Mondlane”, aconselha o antigo professor das zonas libertadas.
Entretanto, este antigo combatente, hoje pensionista por invalidez, com um subsídio de 8.255,00 MT, pai de cinco filhos, chama à atenção para o facto de haver moçambicanos que quando há mudanças de liderança no nosso país dizem: “É nossa vez”.
“Isso destrói o país, cria grupos e, consequentemente, mina a própria unidade nacional”, sentenciou.
PEDRO NACUO
Notícias – 26.06.2015