Intervenção do Cmdt. Zeca Caliate na VIII Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora
Não foi fácil a sua concretização, pois quando em 6 de setembro de 1973, escapei à morte que a Frelimo tinha preparado contra meu assassino, era comandante do 4º sector na região sul na Província de Tete em Moçambique.
Após a revolução de 25 de abril de 1974 em Portugal, e próximo da Independência de Moçambique, fui forçado a abandonar o país e tive que rumar com destino ao exilo onde me encontro até os dias de hoje em Portugal. Por aqui procurei emprego para garantir a minha sobrevivência até que conheci a minha esposa actual com quem casei e tive filhos.
Aqui comecei a procurar os meus conterrâneos Moçambicanos, que por acaso proliferam por este mundo fora, refugiados como eu encontrando-se em vários cantos do mundo desde África, Europa e América e que se encontram nas mesmas condições como eu. Alguns deles influenciaram-me a escrever a minha história e tudo por quanto passei na Frelimo e achei por bem, embora não me tenha parecido na altura tarefa fácil, pois quando descobri a morte que os meus ex-camaradas tinham planeado para mim e quando fugi, não tive tempo de trazer um único documento comprovativo do facto.
Em 2004, quando eu e a minha mulher, tivemos umas miniférias no Gerês, no norte de Portugal e durante a nossa estadia naquela região, a minha mulher insistiu que eu escrevesse o meu livro com a sua ajuda que aceitei, comecei então a escrever e quando regressámos a Lisboa, já tinha escrito mais de 150 páginas, tendo-me então reunido com os meus três filhos para que me pudessem ajudar na sua elaboração, tendo obtido da parte deles grande ajuda, em particular o meu filho mais novo que muito se empenhou na concretização da obra. Fui escrevendo até ter quase 250 páginas e mais tarde reuni-me com alguns amigos isto no ano de 2006 que me ajudaram na sua correção até tornar o livro percetível para qualquer um.
Procurei várias editoras e os preços que me propunham eram excessivos dado que eu não tinha dinheiro para o lançar ou então porque as editoras tinham medo, não se queriam queimar com a minha Odisseia, pois poderiam perder determinados clientes em especial em Moçambique, país que não conhecia a palavra democracia.
Não vou indicar as editoras, apenas vou dizer que a última foi em Maio de 2009 a quem entreguei uma cópia via correio eletrónico e também ai não encontrei facilidade desta editora. Cedi partes do mesmo a uma pessoa, o qual por iniciativa própria começou a publicar uns extratos do livro que iria ser lançado num blog em setembro e outubro do mesmo ano de 2009.
As publicações eram novidade, nunca ninguém tinha escrito aquilo que eu tinha escrito, nunca ninguém tinha posto em causa a história dos chamados donos de Moçambique. MAS DAÍ EM DIANTE, COMEÇARAM A QUESTIONAR E OUTROS, OPORTUNISTAS, COMEÇARAM A CONFIRMAR E A ESCREVER TAMBÉM. E APARTIR DAI A MENTIRA DO PODER ESTAVA NUA.
Fiquei satisfeito com isso, mas queria publicar o meu livro. Não sabia como, porque não tinha dinheiro para isso.
Finalmente, consegui apresentar o livro com sucesso através do apoio de meus amigos e amigas que fizeram desde a capa até à correção para o melhor Português possível, pois como sabem atrasei dez anos nas matas e montanhas de Moçambique com a metralhadora pendurada às costas e aqui a minha vida foi sempre a trabalhar.
Agradeço-vos desde já a comparência neste evento fazendo referência a que é importante a organização de eventos desta importância, na medida que só através da leitura de varias obras como a minha e outras que aqui serão e já foram apresentadas, poderão aprofundar o conhecimento da história, da cultura e da literatura de Moçambicana. Afinal para se saber qual o caminho a seguir é importante conhecer o caminho que foi trilhado até aos dias presentes.
Com os melhores agradecimentos
Zeca Caliate Maguaia.
Lx, 27 de junho de 2015