Um hipopótamo de origem supostamente relacionada à magia negra está a criar pânico há cerca de um mês no seio das comunidades das localidades de Odinepa e de Marrera, nos distritos de Eráti e de Chiure, nas províncias de Nampula e Cabo Delgado, respectivamente.
Soubemos que as tentativas de abate do animal que foi descoberto pela primeira vez no interior de um curral de gado bovino, em Odinepa, fracassaram apesar dos atiradores recrutados para o efeito usarem armas de fogo consideradas adequadas.
O director do serviço distrital de actividades económicas em Eráti Jacinto Nanvare disse à nossa reportagem que o “filme” do hipopótamo inicia quando o paquiderme foi visto em finais do mês de Abril no interior de um curral pertencente a um criador de gado bovino baseado em Odinepa.
A avaliação preliminar para apurar a proveniência do animal apontava o rio Lúrio, que separa as províncias de Nampula e Cabo Delgado através dos distritos de Eráti e Chiure, respectivamente. Odinepa é o ponto mais próximo do rio Lúrio que reúne condições para acolher animais de grande porte, como o hipopótamo.
Quando a população de Odinepa foi surpreendida com a presença de um hipopótamo que, depois de quebrar as estacas colocadas à entrada do curral, conseguiu introduzir-se no interior, onde convivia pacificamente com os bovinos, entrou em pânico e pôs-se em correria desenfreada à procura de um lugar relativamente seguro afim de se prevenir de um possível ataque. Contudo, não foi reportado qualquer ferido -disse aquele responsável.
Assim que o governo distrital de Eráti tomou conhecimento do inédito caso , tratou de enviar uma equipa de técnicos do sector para afugentar o animal por se tratar de uma espécie protegida cujo abate é proibido, excepto quando a sua presença constitui, de facto, perigo para a população local.
Adicionalmente, o estranho episódio foi comunicado à direcção provincial de agricultura em Nampula que tratou de enviar técnicos do departamento de florestas e fauna bravia para dirigir acções de afugentamento do animal.
Ali Awasse, quadro sénior daquele departamento, conta que começou a desconfiar que o hipopótamo não era de origens naturais e explica: porque acampamos em Odinepa, nas proximidades dos currais dos criadores locais para perceber como é que o hipopótamo atraía os bovinos a segui-lo para a pastagem. Porém, durante três semanas, de 28 de Maio a 17 de Junho, o animal não reapareceu, o que reforçou a minha convicção de que algo não estava certo.
Quando a equipa de caçadores se retirou do local onde se havia acampado, o hipopótamo reapareceu e escalou num segundo curral, em cujo interior se introduziu e conviveu com os bovinos. Então, os caçadores reconstituíram a seu grupo e desencadearam uma nova perseguição que durou cerca de uma semana, mas só lograram alvejar superficialmente o animal quando penetrou o território do distrito de Chiure, na vizinha província de Cabo Delgado.
Mistério ou realidade ?
Para atingir o hipopótamo, os caçadores percorreram cerca de 30 quilómetros no interior da mata, entre a fronteira de Odinepa e a localidade de Marrera, posto administrativo de Ocua, distrito de Chiure, na vizinha província de Cabo Delgado.
Encontramos uma poça com cerca de cinco litros de sangue derramado pelo hipopótamo em consequência da bala que o atingiu sem, contudo, o matar – explicou Jacinto Nanvare, director do SDAE em Eráti que integrou a equipa de perseguição do paquiderme.
Quando já estávamos em Marrera a fazer novos planos para o abate do hipopótamo, fomos à respectiva secretaria para dar a conhecer a nossa missão.
Então, o chefe da referida secretaria, Manuel Nanquita, que nos recebeu, alertou-nos sobre a provável possibilidade da nossa missão não alcançar os objectivos pretendidos, alegadamente pelo facto da existência do animal estar envolta de indecifráveis mistérios
E num posterior contacto telefónico estabelecido pela nossa reportagem, Manuel Nanquita revelou-nos a seguinte: versão “O hipopótamo perseguido é o fantasma de um cidadão que, em vida, respondia pelo nome de Nabrinco. Ele era pescador no rio Lúrio e conseguia quantidades consideráveis de pescado que vendia nos mercados de Marrera e sede do posto de Ocua.
Certo dia, no ano passado, quando o alcunhado Nabrinco se encontrava manifestamente embriagado devido à ingestão de uma bebida de elevado teor alcoólico, advertiu à sua esposa para que ele nunca fosse levado ao centro de saúde para qualquer tratamento, mas somente a um médico tradicional cuja identidade não conseguimos apurar. Sublinhou, na altura, que a sua advertência deveria ser cumprida escrupulosamente, pois que as consequências da sua inobservância seriam drásticas - contou Manuel Nanquite.
Entretanto, a esposa de Nabrinco não acatou os apelos e, em finais do ano passado, o marido perdeu a vida sem que tivesse sido conduzido ao médico tradicional recomendado para tratar da doença que o apoquentava.
No dia do funeral daquele pescador a comunidade afluiu em massa, mas em menos de 24 horas fomos surpreendidos pelo facto do coval onde foi sepultado o corpo de Nabrinco encontrar-se aberto e sem vestígios de ter sido enterrado alguém em curto espaço. E foi, então, a partir daquela data que começamos a ouvir da presença de um hipopótamo numa lagoa conhecida por Marririne, cuja origem é associada ao pescador falecido– acrescentou a nossa fonte.
A presença do hipopótamo na referida lagoa tem despertado estórias curiosas.
Aos que manifestam interesse em ver o hipopótamo na lagoa de Marririne, exige-se a mobilização de mais de cinco raparigas a tocar tambores ou latas nas margens e, acto contínuo, o animal emerge. Mas, se no grupo de raparigas, estiver infiltrado um rapaz, o hipopótamo não irá submergir – contou Manuel Nanquite.
As nossas tentativas de contactar telefonicamente a viúva do famigerado pescador de Marrera resultaram infrutíferas, tendo sido informados, depois, através da nossa fonte governamental local que a mesma perdera a vida há dias.
WAMPHULA FAX – 30.06.2015