Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“[ …] Vais sofrer. Mas não te importes, porque, na plenitude da dor é que se conhece a violência da doença. A maldade que está arreigada na humanidade, não tolera a pilotagem das poucas almas que a natureza, para o bom complemento da sua obra confiante, espalha neste mundo. Vais sofrer, mas não abandones a fé na estrela que te guia. Por tanto bem fazeres aos homens, vais agora receber, por prémio, a coroa de espinhos. Mais uma vez te recomendo, meu filho tem coragem e, sobretudo, não fujas. Nós velaremos por ti e removeremos todos os obstáculos, de modo a descobrir-se, um dia , a verdade.”Arrone Fijamo Cafar in Ecos de Inhamitanga
A hipocrisia dos homens não me surpreende.
O que mais me surpreende é a institucionalização desta hipocrisia.
Tem sido hábito no país, que quando um dirigente cessa funções (não pela fatalidade biológica ou exoneração, mas pela temporalidade do seu mandato) a primeira coisa que fazem os antigos acólitos ao chegarem ao trono é endemoniar o seu antecessor, amputando a longa eladeirosa estrada percorrida no passado e, mais do que isso, vacinando as mentes com promessas de uma nova aura governativa.
Cospem para o passado comum, destruindo as escadas que os levou ao poder, tornando-se, destarte, “novos Messias” em busca dos “tradicionais Lázaros”. A população, coitada, habituada ao acinte dos políticos, recebe, sem qualquer resignação, o “pólen de esperança”.
Porque não sofro de amnésia, lembro aqui alguns factos, até porque como disse o historiador José Mattoso “Não há ninguém que possa fazer tábua rasa do passado pessoal, genético, social. Tudo isso pesa sobre nós e orienta o nosso comportamento.”
Quando Armando Guebuza era presidente da República, muitos dos seus camaradas que hoje o criticam, não hesitavam em lhe beijar a mão que os alimentava, inclusive pariam discursos “povoados” de lucubrações e destilações poéticas de causar inveja ao mais brilhante dos poetas, com o fito de exaltar a figura e obras do presidente.
O culto de personalidade esteve tão evidente no reinado do poeta Armando que, quando em sede de reuniões partidárias, acólitos seus afinavam as cordas vocais e cantavam para o presidente.
Encarnados de dançarinos, as pernas bambas de alguns camaradas faziam posições geométricas de difícil descrição, para agradar ao “papá Guebuza”.
Com ele elaboraram algumas políticas falhadas, tais como: a “revolução verde”, os “sete milhões de meticais”, as estratégias para despoletar (travar) o desemprego e o caudal dos níveis de pobreza absoluta, a problemática de habitação para os jovens, mais também, e principalmente, o endividamento do país. Estavam calados, no comodismo, porque “tinham bife na boca”. Durante esse estádio, nunca se pronunciaram contra a governação do presidente Guebuza, quiçá porque não quisessem ferir o “líder visionário”, preferindo, desta forma, assumir o pobre e desconfortante estatuto de hipócritas.
Porquanto no consulado de Filipe Nyusi, muitos deles estão a atravessar o deserto e a perder refeição, aparecem ao terreiro como imaculados, sacudindo todas as culpas para o poeta Armando Guebuza. Se fossem coerentes e capitão da própria alma, esses falsos camaradas teriam criticado de forma ríspida ou se distanciado, aquando da sua aprovação, as decisões tomadas pelo executivo do presidente Guebuza que também emanavam, por força dos estatutos, das diretrizes do partido do “batuque e maçaroca”. Infelizmente deixaram-se corromper pelo silêncio traiçoeiro com medo de perder o “vil metal”, como se alguma vez o presidente Armando tivesse poderes para mandar calar a voz da consciência.
Com essa atitude, admito poder estar enganado, pretendem convencer ao presidente Nyusi que estão do seu lado e que lhe podem dar alguns “segredinhos” para resgatar o país do grilhão da pobreza.
“Todos nós sabemos o que a barata faz quando se surpreende danificando, no armário, objectos de grande estimação. São, exactamente, assim os Zezes [personagem do livro supracitado]: sabem armar, sorrindo, terríveis sarilhos para os outros, por vezes inocentes, mas, quando a verdade se descobre e suspeitam a eminência dum castigo merecedor sobre o crime das maldades que praticam, indecentemente, desatam num peditório vergonhoso para uma côdea clemente. Não querem nem por baixo preço aquilo que desejam para os outros”, escreveuaquele que considero ser o ícone daliteratura zambeziana, Arrone Fijamo-Cafar. O presidente Nyusi que aprendadestas lições, porque a maldade nãoabandona os ambiciosos, pois serão osprimeiros a criticar-lhe deixar a PontaVermelha. Outro grande escritor ouescritor grande que dá voz aos animais,Alberto Viegas (das muitas vezesque o incomodei para receber um analgésicode conselhos da vida) dizia que“o piolho que te suga está em tuas vestes”. Zicomo (obrigado)
P.S.: Alguns leitores poderão discordar de mim mas, mesmo assim e a despeito de tudo, para mim o governo devia suspender de imediato os “Mambas”, até que se reorganizassem, através da formação de jogadores e uma limpeza institucional na Federação Moçambicana de Futebol (FMF), porque envergonham toda a nação moçambicana. Não honram a nação. São o símbolo da vergonha. A nível desportivo, é a única vergonha nacional que é exportada e reconhecida internacionalmente.
WAMPHULA FAX – 22.06.2015