Dos testemunhos sobre o assassinato de Samora Machel e vários companheiros apresentados à Comissão de Verdade e Reconciliação sul-africana e ora tornados públicos, ressalto pelas informações reveladas pelo Coronel H. Basson, do oficial Steven Hoeppner, do jornalista Rusty van Druten.
Por muito que aqui alguma comunicação social haja publicitado, o testemunho de João Honwana, este nada trouxe de novo, coisas que sempre se soube e pouco ou nada conectadas com o crime de 19 de Outubro.
Vejamos o que nos dizem os depoimentos:
O Coronel Basson afirmou que as forças armadas do apartheid dispunham da tecnologia móvel para interferir nos dados dum avião em voo, fornecendo dados falsos que o desviavam da rota. Mais diz, que esse aparelho transportava-se num Land Rover.
Steven Hoeppner, oficial nessa época, corrobora e declarou que o aparelho no Land Rover encontrava-se em Mbuzini na data fatídica.
O jornalista Rusty van Druten na Comissão declarou haver encontrado em Mbuzini indícios dum aparelho para codificar e interferir nas frequências, e que expressamente o proibiram de revelar algo sobre a matéria.
Num outro depoimento, esse público, um antigo colaborador da RENAMO, Paulo Oliveira, afirmou que no dia 19 pela noite recebera instruções da Direcção da Inteligência Militar (DMI)do apartheid para preparar um comunicado informando que a sua organização havia abatido o avião de Samora Machel, quando este se preparava para aterrar em Maputo. Depois, porque se constatara que o avião havia caído em território sul-africano, mandaram-lhe abortar o comunicado.
Populações locais e sobreviventes moçambicanos mencionaram a retirada do tal Land Rover, igualmente que as forças armadas estavam presentes, andaram a ver os corpos, não prestaram assistência aos feridos, bloquearam o acesso dos locais que quiseram socorrer as vítimas e, finalmente, a polícia veio substituir os militares.
No meu artigo anterior testemunhei as declarações do General Kotzee, do Ministro Botha e do General Earp.
Este conjunto de dados factuais a comissão dirigida pelo juiz Margoo deliberadamente ignorou, para poder incriminar os pilotos de erros e incompetência.
Tanto a parte moçambicana como a soviética recusaram integrar a comissão Margoo, devido à recusa sul-africana em aceitar que se investigassem os sinais que desviaram a aeronave. Eles provinham de Mbuzini e não de Matsapa conforme os indícios.
O Presidente Chissano designou a comissão de inquérito moçambicana, presidida pelo Ministro dos Transportes e Comunicações na época, Armando Guebuza. O Presidente nomeou outros quadros, incluindo eu próprio, para integrar a comissão.
Algumas questões adicionais:
Por lapso ou erro deliberado, em nenhum momento se ouviu o pessoal da torre de controlo de Maputo ou as gravações da Torre. Mea culpa no que me toca.
Estava no aeroporto nessa noite de 19 de Outubro com outros dirigentes e quadros, aguardando a chegada do voo presidencial. Ninguém observou qualquer tipo de apagão nas pistas, no aeroporto ou na torre.
O facto de os pilotos não verem as luzes do aeroporto só indicia que já se encontravam numa direcção errada, de costas voltadas para Maputo e orientados para as montanhas dos Libombos, onde deveriam embater do lado moçambicano, se o comandante no último momento não houvesse levantado o avião.
O apontado neste número anterior explica as instruções contraditórias dadas pela DMI ao então colaborador da RENAMO, Paulo Oliveira.
Tudo visto e ponderado há que concluir que a queda do TU 134B resultou de um acto criminoso e deliberado.
Tel Aviv em troca da autorização do apartheid em testar as suas armas nucleares no território sul-africano, não o podia fazer Israel:
Forneceu o aparelho para desviar aeronaves por intromissão na informática e comunicação.
Cedeu os conhecimentos para que o apartheid produzisse armas nucleares, bacteriológicas e químicas. Havia 6 bombas nucleares nos arsenais de Pretória.
Esses meios e armas segundo a autobiografia do Presidente De Klerk, a pedido dos Estados Unidos e do Ocidente, a África do Sul os destruíram, antes da tomada de posse de Mandela.
Analisemos outras hipóteses, nomeadamente a duma componente interna causadora do assassinato do Presidente Samora e doutros companheiros.
Todos estavam conscientes do imperativo de melhor capacitar as nossas Forças Armadas para fazer face à agressão do apartheid, directa ou indirectamente.
Sebastião Mabote havia já concordado em ir melhorar os seus conhecimentos em Cuba e Armando Panguene substitui-lo temporariamente como Chefe do Estado-Maior General. Estive depois disso com ele em Cuba e estava contente, também falamos antes da sua ida e não mostrava qualquer tipo de desagrado.
No seu regresso e na sequência do AGP Lagos Lidimo encontrava-se como CEMG e um general da RENAMO como Vice. Mabote substituiu-me como chefe do Departamento de Defesa e Segurança do CC da FRELIMO, função que desempenhou até à sua morte no Bilene.
Não participei na reunião dos comandos das forças de defesa e segurança nos dias 17 e 18 de Outubro porque me encontrava ausente do país. Na manhã de 19 Samora disse-me para ficar em Maputo porque achava que eu devia passar o dia com o meu filho de 7 anos, que perdera a mãe.
Não ouvi qualquer lamentação sobre o que acontecera na reunião, que aliás deveria continuar na Segunda-Feira 20 e onde iria participar.
Guebuza não se encontrava em qualquer tipo de comando nas forças armadas e de segurança e especular sobre a sua capacidade de organizar um golpe não passa disso.
Em nenhum momento Moçambique dispôs de qualquer tipo de equipamento capaz de electronicamente ou não desviar uma aeronave da sua rota.
Ignorar factos comprovados e indícios muito sérios para transferir a autoria do atentado de 19 de Outubro de 1986 para os moçambicanos falsifica a realidade e desvia a atenção sobre o autor do crime. O apartheid levou a cabo várias tentativas de assassinato de Samora, a 19 de Outubro conseguiu.
Um abraço à defesa da verdade.
P.S. Com dados concretos alguém de direito pode explicar o que se diz sobre os supostos ou reais escândalos da EMATUM? Há ou não um poço financeiro e negociatas sujas? Por favor a verdade!
SV
O PAÍS – 23.06.2015