Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
“A pobreza, as desigualdades, a fome e a doença são tratadas de forma paliativa, com medidas pontuais e descoordenadas e com poucos recursos; em contrapartida, existe muita literatura cinzenta, permanentes reuniões internacionais, viagens presidenciais e declarações de intenções que propagam supostas prioridades no combate à pobreza. A corrupção é timidamente criticada porque, na realidade, é considerada um mal menor, ou mesmo uma necessidade para a criação acelerada de um empresariado nacional e de uma elite política dependente e submissa.” João Mosca (2005) in Economia de Moçambique Século XX, Instituto Piaget, Lisboa, p. 417.
O tempo de conhecer e “arrumar” a casa já passou, mas o foco do governo do Presidente Filipe Jacinto Nyusi é a Renamo, relegando os problemas da pobreza absoluta para o segundo plano.
Compreendo o perigo que a Renamo militarizada representa para o país, tira sono a qualquer líder. Por muito que isto me custe dizer, não vejo uma saída pacífica para esse problema, pois a Renamo está obcecada pelo poder e já até percebeu que, democraticamente, não chega lá, devido a extraordinária capacidade de desorganização da sua liderança, e só pode consumar o seu desejo por via de uma insurreição armada.
O povo está ciente das suas dificuldades e do calvário que enfrenta (diariamente) para resistir à hecatombe da fome, mas nem por isso chancela a Renamo o direito de destruir à nação. As reivindicações da Renamo não são mais importantes que a liberdade, igualdade e a segurança do povo. Entretanto, mantenho alguma esperança numa nova liderança da Renamo, que compreenderá a necessidade de desarmar a perdiz, contribuindo deste modo no desenvolvimento do país. Portanto, esta é uma situação que o presidente Nyusi deve saber gerir com doses de cautelas, evitando desaguar os esforços da paz no falso populismo, mas também sem comprometer o desenvolvimento de Moçambique.
O Governo não deve abdicar dos programas de crescimento e desenvolvimento económico do país, para produzir mais películas da “novela” Renamo, que se arrasta penosamente há vários anos sem qualquer fim à vista. Ao que tudo indica, gasta-se recursos em encher os biberões com leite para fazer calar as lamúrias da perdiz, no lugar de resolver a bolsa de fome que ameaça dizimar dezenas de pessoas espalhadas um pouco por todo o país. O executivo de Filipe Nyusi não se pode furtar das responsabilidades de alimentar o seu povo em nome de uma paz precária. Fazem escolas as palavras do cientista político e jornalista norte-americano Mike Whitney“ Um país não pode matar-se de fome para prosperar nem tão pouco recuar para crescer. A austeridade é boa para monges, mas má para a economia.”
O governo está brando e atónico. Não está a dar mostras de promover o desenvolvimento do país. Está amarrado aos discursos poéticos. O povo não come discursos, embora alimente a alma. Tenho visto alguns ministros estagnados nas suas funções: não atam nem desatam. Mantém-se como múmias. Não se conhece nenhuma mudança governativa. O silêncio é ainda um factor dominante. A preocupação parece ser a Renamo. A Renamo é milagrosa, pois esconde incompetentes e incompetências no seio do governo. Ajuda a escamotear algumas verdades. Estão todos à espera que a Renamo seja desarmada para desacelerar a corrupção, construir infraestruturas, etc. Alguns municípios nada fazem senão politiquices. Não trabalham, não fecham buracos e covas, não limpam estradas, não constroem casas sociais, não resolvem os problemas dos “mylove”, não atendem as preocupações dos idosos, etc., porque a Renamo está militarizada. Tudo agora é culpa da Renamo. É o fantasma da Renamo que impede os nossos governantes de trabalhar.
Um governador que não conhece a província que governa. Que não sente os problemas do povo. Que não dinamiza a economia local. Que não é criativo. Que nada faz. É o senhor director que passa a vida a acusar a Renamo. É o secretário permanente que se mantém “permanente” na sua função e acção governativa. Quando são perguntados sobre as causas dessa letargia a resposta é sempre a mesma: Renamo!!!
Fazem coro, do Rovuma a Maputo: a culpa é da Renamo. A sombra da Renamo está em tudo. Pensam todos na Renamo e pouco no país.
É urgente o Presidente da República alterar este quadro mental no seio dos camaradas e do governo. Em algum momento, a Renamo está a ser subterfúgio da inércia de determinados governantes que há muito já deveriam ter sido premiados com uma certidão de incompetência. Demita-os, senhor Presidente.
Zicomo (obrigado)
WAMPHULA FAX – 29.06.2015